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Política - Nacional

Febre da indenização esquenta Serra Pelada


Felipe Awi*, Agência O Globo CURIONÓPOLIS (PA) - Há 25 anos, Teodoro Camelo deixou a vida monótona no Maranhão em busca do tal ouro que brotava da pedra em Serra Pelada. Semana passada, fez o mesmo caminho atrás apenas de "notícia verídica", como ele diz. A esta altura, notícia verídica é artigo raro e valioso como o metal que já o fez abandonar mulher e filhos. Teodoro, de 59 anos, é um dos milhares de garimpeiros de Serra Pelada acometidos pela febre da indenização. Na década de 80, ele ouviu na Rádio Nacional que estava dando ouro no Sudeste do Pará. Agora, chegou-lhe a informação de que, finalmente, vai sair a fortuna que não encontrou em quatro anos de garimpo. Mas parece que o retorno à vila onde o ouro produziu mais miséria que riqueza não lhe deu certeza de nada. - Lá no Rio de Janeiro vocês não sabem de nada, não? - pergunta, ansioso, quando descobre a procedência do interlocutor. Em Serra Pelada, a ansiedade de Teodoro é sentida na conversa com os moradores flutuantes que, como ele, voltaram atrás de notícias, ou com aqueles que jamais deixaram o lugar. Uma visita do senador Edison Lobão (DEM-MA), mês passado, reacendeu-lhes a esperança de que a longa espera, enfim, seria recompensada. Com o parlamentar, chegou o o alvará de pesquisa da cava de cem hectares - a mesma que ficou famosa nos anos 80 por ter se tornado um formigueiro de gente -, concedida pelo Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM). Mas ninguém lhes disse que, para sair o alvará de lavra, ainda falta resolver conflitos de interesses tão antigos quanto o garimpo em Serra Pelada. Fazem parte dele oito cooperativas de garimpeiros, um sindicato, o governo federal, a Vale do Rio Doce e o prefeito de Curionópolis, Sebastião Curió. O alvará de lavra sairá quando forem apresentados um projeto de exploração mineral e a licença ambiental por uma das empresas interessadas no garimpo mecanizado da cava. Essa é, aliás, uma das poucas certezas aqui: ninguém mais se meterá em buracos atrás de ouro; tudo será feito por máquinas. A empresa que ganhar a concorrência pagará uma indenização aos garimpeiros e dividirá as receitas futuras, provavelmente meio a meio. (Saiba mais no Globo Digital) Na vila, falta trabalho e cresce prostituição infantil Nos últimos anos, a praga mais preocupante de Serra Pelada é a prostituição infantil. Seu crescimento, que já mobilizou o Ministério Público do Pará, é resultado da combinação de duas realidades: homens solitários que deixaram a família em suas cidades para procurar ouro e meninas com poucas perspectivas profissionais. Serra Pelada tem uma escola de ensino fundamental (até a oitava série). O ensino médio é feito em sistema modular, com professores de Belém e Parauapebas que fazem rodízio de um mês na vila. Há pouco trabalho e é preciso procurar outra cidade para fazer faculdade. A maioria das pessoas tem planos de sair da vila, se não por opção, por necessidade, uma vez que o garimpo mecanizado deverá forçar a desapropriação dos barracos de Serra Pelada. Mas não é por saudades antecipadas que alguns garimpeiros continuam procurando ouro, apesar de a lavra estar oficialmente proibida pelo governo federal. (Saiba mais no GLOBO DIGITAL) Cooperativas, sindicatos e governo disputam direitos de exploração A vida dos garimpeiros está emperrada num emaranhado de disputas entre representantes de todas as partes interessadas na retomada da exploração mineral de Serra Pelada. De lados opostos estão o Sindicato dos Garimpeiros de Serra Pelada (Singasp) e Sebastião Curió, prefeito de Curionópolis, município que engloba a vila. No meio do conflito, estão o governo federal e oito cooperativas que representam 67 mil associados, entre elas a Coomigasp, que detém os direitos sobre a cava de cem hectares, considerada a mais valiosa. Há outras áreas de minério repartidas entre as demais cooperativas. Repleta de casos de assassinato e, até hoje, ameaças de morte, a disputa entre sindicato, governo, cooperativas e o prefeito remonta ao início do garimpo em Serra Pelada, no fim dos anos 70. As maiores vítimas sempre foram os garimpeiros. (Leia mais no GLOBO DIGITAL) Maior garimpo a céu aberto do mundo, Serra Pelada produziu, oficialmente, até ser fechado pelo então presidente Fernando Collor, em 1992, 42 toneladas de ouro, embora calcule-se que outras 60 toneladas tenham saído de lá ilegalmente. Sua fama não vem só dos números, mas também das histórias fantásticas vividas por cerca de 80 mil pessoas que, nos anos 80, invadiram um garimpo selva a dentro, aos pés da Serra dos Carajás.

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