Domingo, 29 de abril de 2018 - 21h05
O julgamento começou no dia 31 de maio de 2017 e foi interrompido por dois pedidos de vista dos ministros Alexandre de Moraes e Dias Toffoli, que será o próximo a votar. O relator, Luís Roberto Barroso, votou a favor da restrição ao foro e foi acompanhado pelos ministros Marco Aurélio, Rosa Weber, Cármen Lúcia, Edson Fachin, Luiz Fux e Celso de Mello. Faltam os votos de Toffoli, Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski.
De acordo com o voto de Barroso, o foro por prerrogativa dos
deputados, previsto no Artigo 53 da Constituição, deve ser aplicado
somente aos crimes cometidos durante o exercício do cargo e relacionados
às funções desempenhadas. O voto do ministro também prevê que o
processo continuará na Corte se o parlamentar renunciar ou para assumir
um cargo no governo após ser intimado para apresentar alegações finais.
De acordo com professor da FGV Direito Rio Ivar Hartmann, coordenador do
projeto Supremo em Números, a restrição ao foro privilegiado pode
permitir que os julgamentos de questões penais que, obrigatoriamente,
devem ser julgados pelos colegiados da Corte, sejam mais céleres, diante
da menor quantidade de ações. Segundo o professor, devido ao acúmulo de
processos, a maioria das decisões do STF são tomadas individualmente
pelos ministros.
"Na parte que decide colegiadamente há um gargalo muito sério, nas turmas e no plenário,como essas ações de inquérito com foro que são decididas colegiadamente, tirá-las afetaria positivamente o colegiado”, disse Hartmann à Agência Brasil.
Gargalo
Conforme o estudo Supremo em Números, o tempo de tramitação de uma ação penal em 2016 foi de 1.377 dias, tempo maior que o registrado em 2002, quando o processo era julgado em aproximadamente em 65 dias.
Entre 2012 e 2016, das 384 decisões tomadas em ações penais, a
declinação de competência, quando o parlamentar deixa o cargo e perde o
foro no STF, representou 60% dos despachos, enquanto as absolvições
chegaram a 20%. Condenações ficam em apenas 1%.
O promotor de Justiça e professor de Direito Penal do Complexo de Ensino Renato Saraiva (CERS) Rogério Sanches Cunha explica que o foro por prerrogativa de função foi criado para punir crimes funcionais, mas, ao longo do tempo, deixou passou a ser um privilégio. “Nós banalizamos o foro. Temos mais de 50 mil pessoas com foro por prerrogativa de função", disse o professor.
Sobre as consequências da decisão da Corte, Sanches avalia que as
investigações que estão em andamento no STF e que devem seguir para a
primeira instância não serão iniciadas novamente e retomadas do ponto em
que foram suspensas. Para o professor, os processos devem sofrer algum
atraso, mas serão decididos bem mais rápido em relação aos que tramitam
no STF. “Num primeiro momento, vai gerar atraso para os casos em
andamento, mas será muito menor que o STF”, afirmou.
Lava Jato
Mesmo com a finalização do julgamento, a situação processual dos
deputados e senadores investigados na Operação Lava Jato pelo STF deve
ficar indefinida e as dúvidas serão solucionadas somente com a análise
de cada caso. Os ministros terão que decidir se parlamentares vão
responder, na própria Corte ou na primeira instância, às acusações por
terem recebido recursos ilegais de empreiteiras para financiar suas
campanhas.
Na avaliação do professor Hartmann, existem argumentos jurídicos
relevantes a favor e contra a manutenção do foro para crimes cometidos
para financiar campanhas. "Interpretar o caso de crime envolvendo
financiamento de campanha é um caso onde eu consigo ver argumentações
para os dois lados. Há argumentos no sentido de que não é em função [do
mandato] ou até não é durante o mandato. Por outro lado, vejo argumentos
possíveis no sentido de que a pessoa está usando as prerrogativas cargo
para cometer esse crime", avalia.
O caso concreto que está sendo julgado pelo STF envolve a restrição
de foro do atual prefeito de Cabo Frio (RJ), Marcos da Rocha Mendes. Ele
chegou a ser empossado como suplente do deputado cassado Eduardo Cunha,
mas renunciou ao mandato parlamentar para assumir o cargo no município.
O prefeito respondia a uma ação penal no STF por suposta compra de
votos, mas, em função da posse no Executivo municipal, o processo foi
remetido para a Justiça. Na última terça-feira (24), Mendes teve o
mandato cassado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
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