Terça-feira, 18 de dezembro de 2018 - 07h03
O futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, disse ontem (17) que
pretende horizontalizar os impostos, acabando com isenções e subsídios,
cortando inclusive verbas do Sistema S, que deve sofrer redução em torno de
30%, podendo chegar a 50% dos repasses. “É a contribuição, como vamos pedir o
sacrifício do outro sem dar o nosso?”, questionou.
Paulo Guedes para uma plateia de empresários na Federação das Indústrias
do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), no evento Encerramento das Atividades
2018 e Perspectivas 2019. Também participaram do almoço o prefeito do Rio
Marcelo Crivella e o governador eleito do estado, Wilson Witzel.
O futuro ministro disse que também é necessário fazer uma reforma do
Estado e garantir um novo eixo de governabilidade, com a retomada do pacto
federativo, e “corrigir a hipertrofia do governo federal”. “Nós queremos
recompor o federalismo, descentralizar recursos para os estados e municípios.
Levem os recursos, levem as atribuições”.
Previdência
Guedes disse que uma das prioridades do novo governo é a reforma da
Previdência, que deverá incluir um sistema de capitalização “para garantir as
gerações futuras”. Ele comparou o sistema atual, compartilhado, com um avião
“prestes a cair” por causa da “bomba demográfica” que o país enfrenta com o envelhecimento
da população.
Segundo o futuro ministro, é preciso fazer como foi feito no Chile e
transitar “na direção de um sistema de capitalização”. “Primeiro vamos tentar
acertar esse [sistema] que está aí e depois a gente aprofunda e vai na
libertação das gerações futuras, com um sistema de capitalização que
democratiza o hábito de poupança, liberta as empresas dos encargos
trabalhistas. Vai ser um choque de criação de novos empregos, dá a
portabilidade, direito de investir onde quiser”.
Guedes explicou que, nesse novo sistema, o Estado garante o
resultado, mas não opera diretamente, agindo como coordenador e fiscal. Com
isso, segundo o futuro ministro, o país cria “uma enorme indústria
previdenciária que vai botar o Brasil para crescer 4%, 5% ao ano”. Guedes disse
que o novo sistema será apenas para os jovens que ingressarem no mercado de
trabalho, assim como o novo regime trabalhista, onde vale a negociação, que
será optativo.
Classe política
O futuro ministro disse ser necessária a reabilitação da classe
política, para que os eleitos assumam o protagonismo das ações. “Chegar e
‘olha, vamos desvincular, descarimbar esse dinheiro’. Esses objetivos decididos
há 30 anos já foram atingidos? Se não foram atingidos, pelo menos decidam.
Vocês querem mais na defesa, na segurança pública, mais na saúde? Na educação?
Subsídios para desigualdade regional? Venham aqui e assumam a responsabilidade
e o protagonismo”.
Segundo Guedes, atualmente o político tem uma vida “desagradável” com
muitos privilégios e nenhuma atribuição. “Está parecido com a nobreza francesa,
mas a guilhotina aqui é midiática, cada hora cai em um pescoço. Uma classe que
só tem privilégios e não tem atribuições está enfraquecida. Eles já sabem que
não tem mais o toma lá dá cá e vão ter que se reinventar”.
O futuro ministro disse que, se não for possível implantar as
medidas que pretende por dificuldades políticas ou falta de apoio, ele deixará
o governo. “Quem bater no ministro da Economia leva mais? Não vai, porque eu
jogo as chaves fora antes”, disse se referindo à prática que, segundo ele, é
recorrente no país, dos governadores e prefeitos irem pedir recursos
diretamente aos ministros, em vez de buscarem alocar verbas no Orçamento.
Guedes disse também que não vai interferir nas atuais negociações sobre
o megaleilão do excedente do petróleo da camada pré-sal e que vai tratar da
cessão onerosa no próximo ano.
Firjan
A Firjan divulgou, no início da noite desta segunda-feira, nota a
respeito da declaração do futuro ministro da economia sobre cortes de recursos
no Sistema S. De acordo com a nota, a palestra de Guedes foi uma “oportunidade
de compreender os desafios do país e da equipe econômica ao longo dos próximos
quatro anos” e os comentários de Guedes precisam ser encarados como “parte
deste desafio, o, em especial de uma discussão mais ampla sobre o papel das
entidades de representação empresarial num cenário de necessidade de redução de
custos e resgate da competitividade do país”.
A entidade diz que chegou o momento de uma discussão “franca e transparente
com o governo” e está clara a disposição do futuro ministro em dialogar. “É
evidente que, como parte desta interlocução, será possível expor o papel
fundamental desempenhado pelas entidades que compõem o Sistema S na formação da
mão de obra e na parceria em áreas críticas e habitualmente desassistidas como
saúde e educação.”
A nota também diz que é importante que as lideranças empresariais se
mostrem sensíveis e para oferecer sua contribuição para o maior de ajuste das
contas da União, mas que será importante que o Governo esteja aberto a
“ouvi-las para compreender, em toda a sua dimensão, o papel social inestimável
das instituições que integram o Sistema S em todo o Brasil”.
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