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Política - Nacional

Gilmar Mendes errou


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É equivocada a campanha aberta de congressistas e de ministros do Supremo contra as operações da PF (Polícia Federal). Eventuais abusos e excessos policiais devem ser apontados, combatidos e corrigidos. E as instituições do país vêm fazendo exatamente isso.

A Justiça Federal não aceitou os absurdos pedidos de prisão e de busca e apreensão contra a jornalista da Folha Andrea Michael. Ela revelou em primeira mão, no final de abril, a iminente operação contra Dantas. A PF e o Ministério Público extrapolaram. A Justiça não acatou.

O delegado federal Protógenes Queiroz convidou a Rede Globo a flagrar o ex-prefeito Celso Pitta de pijama. O ministro Tarso Genro (Justiça) e o diretor-geral da PF, Luiz Fernando Corrêa, instalaram procedimento interno e determinaram que o episódio não se repita --o estatuto interno da polícia diz que ela deve levar nas operações a sua própria equipe de filmagem. O ministro e o diretor-geral da PF cumpriram seus papéis institucionais. Se o episódio se repetir, como provavelmente acontecerá, que haja punição aos responsáveis. Faz parte do trabalho da imprensa buscar informações exclusivas e antecipar fatos.

Agentes da PF atuaram como trogloditas contra um dentista confundido com um doleiro. A repórter Laura Capriglione publicou os absurdos em detalhes na versão impressa da Folha com a competência de sempre. Esses agentes devem ser punidos. Atuaram como aquelas figuras abjetas da ditadura militar de 1964.

Para sorte da atual geração, o Brasil é um país que tem hoje instituições capazes de coibir e punir esses três exemplos de abusos e excessos. O Brasil está longe de ser um estado policial. Muito pelo contrário. A sociedade amadureceu.

Há uma imprensa livre que fiscaliza o poder. Existe liberdade de opinião para que deputados, senadores e setores da mídia defendam o banqueiro Daniel Dantas. O Brasil está cada dia mais próximo de um país em que ricos e pobres tenham seus direitos respeitados da mesma maneira. Hoje, isso ainda não acontece. Obviamente, os ricos não devem ter suas liberdades e garantias individuais ofendidas como vingança social para compensar o andar de baixo. Mas os mais ricos têm mais armas para se defender.

Com excelentes e caros advogados, Daniel Dantas não completou duas noites inteiras no xadrez. Numa decisão a jato, o presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Gilmar Mendes, libertou o banqueiro, que deixou a carceragem da PF em São Paulo às 5h30 de hoje (10/07).

O ministro Gilmar Mendes é um homem sério, de fortes convicções e capaz de remar contra a maré. Isso merece reconhecimento e elogio. Mas ele exagerou nas críticas à Polícia Federal. E na opinião deste jornalista, errou ao soltar Dantas tão rapidamente.

Mendes acatou o habeas corpus dos advogados do banqueiro, considerando "desnecessária" a prisão temporária porque Dantas não poderia se transformar numa ameaça às provas colhidas pela PF na operação de terça-feira (08/07).

Ora, Dantas é conhecido por jogar pesado em seus negócios empresarias. Fora da cadeia, terá, sim, maior desenvoltura para, eventualmente, eliminar evidências e provas. A tentativa de subornar um delegado federal exemplifica o que Dantas é capaz de fazer em liberdade.

Na operação Satiagraha, a PF recolheu vasto material em suas buscas e apreensões. Esses dados estão sob análise. Teria sido prudente aguardar mais uns dias. Inteligente e nada ingênuo, Gilmar Mendes teria ajudado as investigações se segurasse o banqueiro mais um pouco.

Ingredientes políticos, como a reação da sociedade a casos rumorosos, têm influenciado decisões recentes decisões do Supremo. Foi assim no recente julgamento sobre a denúncia do mensalão, que o tribunal acatou após trocas de opinião entre ministros de forma reservada. Havia então preocupação com a imagem do STF. No caso de Dantas, parece que Gilmar Mendes não pesou muito esse aspecto.

*

"Espetacularização"

O partido do coração de Daniel Dantas era o PFL, hoje rebatizado de Democratas. Mas ele virou tucano e petista desde criancinha quando isso foi conveniente aos seus empreendimentos. Sempre existiu no Congresso uma bancada Daniel Dantas. E ele sempre buscou se aproximar dos poderosos de plantão.

A operação da PF que prendeu o banqueiro gerou uma onda de protestos no Congresso. Maldosos espalham que parte da gritaria é de quem tem medo de uma segunda fase da operação da PF. Nessa fase, deverão ser revelados nomes de políticos suspeitos de dar proteção ao esquema empresarial de Dantas.

O senador Tasso Jereissati (CE), ex-presidente do PSDB, disse o seguinte ao criticar a PF: "Corremos o risco de sermos mal interpretados pela imprensa, de parecermos estar defendendo tubarões".

Senador Tasso, fique tranqüilo. A imprensa jamais vai imaginar isso a respeito do senhor. Tampouco pensará o mesmo do senador Heráclito Fortes (DEM-PI).

*

Oportunidade

O episódio Dantas é um oportunidade para investigar os corruptores. Os corruptos não existem sem eles.

Fonte: Jornal Folha de São Paulo

Gente de Opinião Kennedy Alencar, 40, é colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre os bastidores da política federal, aos domingos.Também é comentarista do telejornal "RedeTVNews", no ar de segunda a sábado às 21h10.

E-mail: kalencar@folhasp.com.br

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