Segunda-feira, 12 de novembro de 2018 - 10h48
Confirmado para o
Ministério da Justiça (que agregará a Segurança Pública e parte do Conselho de
Controle de Atividades Financeiras, o Coaf) , o juiz federal Sergio Moro disse
que o governo do presidente eleito Jair Bolsonaro não fará discriminação de
qualquer tipo. Também afirmou que o novo governo será severo na punição contra
os crimes de ódio.
“Eu jamais iria
ingressar em um governo se houvesse uma sombra de suspeitas de que haveria
alguma política nesse sentido”, afirmou
o juiz federal durante entrevista à Rede Globo na noite de ontem (11). “O
governo deve ter uma postura rigorosa contra crimes em geral e também crimes de
ódio.”
O futuro ministro
da Justiça, juiz federal Sérgio Moro, durante coletiva de imprensa após reunião
com o atual ministro da pasta, Torquato Jardim.
O futuro ministro
da Justiça, Sergio Moro - Fabio Rodrigues Pozzebom/Arquivo Agência Brasil
Moro disse ainda
que jamais ouviu de Bolsonaro qualquer afirmação que denotasse discriminação.
“Eu acompanhei todo o processo eleitoral. Eu nunca vi da parte do presidente
eleito uma proposta de cunho
discriminatório em relação às minorias. Eu não imagino, de qualquer forma, que
essas minorias estejam ameaçadas.”
De acordo com o
juiz federal, não haverá mudanças. “Nada vai mudar. Eu tenho grandes amigos que
são homossexuais, algumas das melhores pessoas que conheço são homossexuais.
Não existe nenhuma perspectiva de que vai mudar.”
Corrupção
Questionado se
defenderia o afastamento de um ministro suspeito de corrupção, Moro afirmou
que “se a denúncia for consistente,
sim”, a pessoa deve ser afastada. Ele lembrou que ouviu de Bolsonaro que não
haveria proteção no seu governo em meio a eventuais suspeitas. “[Ele, o
presidente eleito, disse que] ninguém seria protegido.”
Em seguida, o
juiz federal foi categórico. “Eu não assumiria um papel como ministro da
Justiça com risco de comprometer a minha biografia.”
Isenção
Responsável pelos
processos da Lava Jato na 13ª Vara Criminal de Curitiba, Moro reiterou que a
decisão de ingressar no governo eleito é posterior às medidas anteriores,
tomadas por ele, como o julgamento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva
por corrupção e lavagem de dinheiro.
“Existe essa
fantasia de que o ex-presidente Lula, que foi condenado por corrupção e lavagem
de dinheiro, teria sido excluído arbitrariamente das eleições por conta do
processo penal. Mas o fato é que ele foi condenado porque cometeu um crime”,
afirmou o juiz federal, lembrando que proferiu a decisão em 2017.
O Conselho
Nacional de Justiça, na semana passada, pediu explicações a Moro sobre sua
suposta atividade político-partidária enquanto ainda exercia a magistratura.
Ele negou qualquer irregularidade na sua conduta.
Crime Organizado
Moro disse que sua meta é adotar
medidas de combate ao crime organizado, sustentadas em investigações sólidas,
prisão dos líderes, isolamento dos chefes do esquema e confisco de bens.
“É assim que se desmantela a
organização criminosa”, afirmou o juiz federal. “Não é uma coisa simples”,
acrescentou. “Não se pode construir uma política baseada em confrontos.”
Questionado sobre a proposta do
governador eleito do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), de colocar snipers
(atiradores de elite) para “abater” criminosos armados de fuzil, sem que haja
implicação legal para os policiais, Moro disse que o assunto tem de ser tratado
com “mais cautela” e que pode futuramente “sentar e conversar com o governador
eleito”.
Futuro
O juiz federal negou que pretenda se
lançar à sucessão presidencial, em 2022. Ele disse que exercerá uma função
técnica e não política. “O grande motivador foi a oportunidade de ir a Brasília
e de poder ter uma agenda anticorrupção e anticrime organizado.”
Moro disse também que não se vê
fazendo política no futuro. “Na minha visão, estou assumindo um cargo,
predominantemente um cargo técnico”, disse. “Estou falando aqui que não vou ser
[candidato à Presidência da República].”
Sobre eventuais divergências com o
presidente eleito, Moro disse que buscaria um acordo. Se não for possível,
Bolsonaro poderia substituí-lo. “Quem foi eleito foi o senhor presidente”,
ressaltou. “Se tudo der errado, eu vou ter de procurar me reinventar no setor privado
de alguma forma.”
Com a perspectiva de ser nomeado para
o Supremo Tribunal Federal (STF) a partir da abertura das vagas dos ministros
Celso de Mello e Marco Aurélio de Mello, em 2020 e 2021, respectivamente, o
juiz federal afirmou que é uma “possibilidade para o futuro”.
Edição: Renata
Giraldi e Graça Adjuto
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