Sábado, 18 de novembro de 2006 - 13h07
Carolina Brígido - Agência O Globo
- Os dados que a gente tem não apontam esse tipo de dependência. Se os benefícios fossem extintos, praticamente dobraria o número de indigentes. Segundo o Ipea, 70% dos beneficiários têm trabalho. Desses 70%, apenas 15% têm carteira assinada. Os demais ocupam trabalho precário e de baixa remuneração. Pesquisas do ministério têm apontado que programas de transferência de renda acrescentam na renda da família entre 25% e 30%. Isso significa que elas têm atividade produtiva - disse.
Lúcia Modesto admitiu que o ministério tem identificado casos em que as mães preferem ficar em casa cuidando dos filhos porque o salário que ganhariam no trabalho é muito baixo. Segundo ela, no entanto, isso só acontece em regiões em que o trabalho é extremamente precário.
- Alguns casos temos acompanhado. Mãe com 4 filhos e recebe R$ 95 do Bolsa Família. Muitas vezes ela prefere ficar em casa cuidando dos filhos do que sair para ganhar R$ 3 por dia para trabalhar. Isso acontece em locais em que o trabalho é mais precário. Ou seja, não haveria risco de "viciar" os beneficiários, como disse o religioso.
Lúcia Modesto disse ainda que o ministro Patrus Ananias tem contato constante com a Igreja e que, se existe crítica, ela deve ser encaminhada à pasta. Lúcia frisou ainda que o programa não se resume a transferir renda.
- Opiniões são sempre bem-vindas para melhorar o programa. O Bolsa Família não é só transferência de renda. Tem também o acompanhamento de saúde e educação das crianças e inclusão produtiva das famílias. Para isso, essas famílias precisam ter um mínimo de capital para serem inseridas no mercado de trabalho. Condições mínimas de educação. O programa não é só dar dinheiro para a família e achar que está tudo resolvido.
Críticas falam em 'acomodação' e 'empanzinamento'
Em entrevista coletiva organizada pela CNBB, Dom Aldo fez duras críticas ao programa Bolsa Família. Para o religioso, da forma como está sendo administrado pelo governo, o programa é assistencialista e acaba levando o beneficiário a se acomodar.
- Não estamos muito satisfeitos com o programa como está. No Nordeste existem pessoas que não querem trabalhar porque se contentam com o mínimo. As pessoas precisam ser inseridas no mundo do trabalho. A capacitação não pode ser só pelas universidades, mas é preciso investir em educação profissionalizante para os trabalhos. Do modo como está sendo levado, (o Bolsa Família) é um programa assistencialista que vicia. É só uma ajuda pessoal familiar. O povo tem que se organizar. Do jeito como está, levou à acomodação e ao empanzinamento - criticou Dom Aldo Pagotto.
Perguntado se a posição de Dom Aldo Pagotto era a mesma da CNBB, o presidente da entidade, dom Geraldo Magela, afirmou que o bispo também falava pela conferência.
Na entrevista, a CNBB anunciou ainda que pretende propor a realização de um plebiscito sobre a privatização da Vale do Rio Doce. Dom Geraldo elogiou a atuação de Lula da campanha eleitoral, quando o petista incluiu na campanha a discussão sobre as privatizações. O bispo acrescentou que esse assunto não pode ficar restrito à campanha. Tem que voltar a ser debatido em 2007.
Leia também: CNBB diz que Bolsa Família é 'assistencialista' e 'vicia'
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