Domingo, 27 de maio de 2018 - 17h10
247- O filósofo Renato Janine Ribeiro, ministro da Educação em 2015 no governo Dilma, produziu duas breves reflexões sobre a situação do país em sua página no Facebook. Na primeira, anota: "o apoio aos caminhoneiros é grande mesmo por parte de quem é prejudicado por eles." E completa: "Isso é raro, bem raro." Na segunda reflexão, que ele qualifica de "fragmentos", diz que todos devem reconhecer: "ninguém está sabendo exatamente o que acontece". E alinha o que qualifica de sete "certezas pequenas". Em uma delas, afirma: "A ruína do projeto PSDB-PMDB é total. Fica exposto justamente o tucano mais importante do governo, Pedro Parente." Em outra, ressalta: "Desabastecimento andando a pleno vapor. Impossível prever quando se volta ao normal. Fome e mortes a caminho." Na última, o fracasso das elites: "Ruína total da autoridade. Depois que o Executivo, o Legislativo e o Judiciário perderam o respeito da sociedade - e a imprensa com eles - ninguém confia em ninguém. É desolador. Caminhoneiros dizendo que só voltam quando sair decreto. Não acreditam na palavra do atual governo. Quem há de lhes dizer que estão errados?"
A íntegra da primeira reflexão:
"Devemos prestar atenção no seguinte: o apoio aos caminhoneiros é grande mesmo por parte de quem é prejudicado por eles.
Esse é o ponto principal.
As coisas ficaram tão ruins que mesmo gente sem combustível ou comida aceita a privação porque vê, no movimento paradista, uma chance de mudar as coisas.
Isso é raro, bem raro."
A íntegra da segunda reflexão:
"Vamos reconhecer: ninguém está sabendo exatamente o que acontece.
Podemos ter um monte de certezas pequenas, das quais exporei algumas, mas elas não completam o quadro. Nem respondem a perguntas como: no que vai dar tudo isso? num golpe militar, na vitória de Bolsonaro, na queda do governo ilegítimo, em eleições que devolvam o poder ao povo?
As certezas pequenas são:
1) O movimento tem vozes pró Bolsonaro, mas ele vai além disso. Parece que a "pauta dos caminhoneiros", clamando pela intervenção militar, exprime a opinião de uma parte, não de todos os participantes.
2) Há uma greve, de caminhoneiros autônomos, e um locaute, de empresas. Parece que Temer negociou com as empresas , não com os trabalhadores. Normal...
3) Mesmo os autônomos, em boa parte, assumem o discurso Bolsonaro. Experiência histórica ensina: quando as vias emancipadoras, pela esquerda, são barradas (por N razões, a começar pelo golpe e pela dificuldade da esquerda de entender o momento pós-2013), o descontentamento vai para a extrema direita. Daí que tenham razão os de esquerda, como os anarquistas, que querem dialogar com os paralisados.
4) A ruína do projeto PSDB-PMDB é total. Fica exposto justamente o tucano mais importante do governo, Pedro Parente. Ou seja, os tucanos negociaram com o PMDB para este tirar as castanhas do fogo, mas fica visível - e devemos apontar isso bem claramente - que o jogo do atual governo é apenas para preparar o chão para Alckmin chegar à presidência bonitinho, com o trabalho sujo já feito.
5) Duvidoso que o Exército vá bater ou matar caminhoneiros. Alguma possibilidade remota, até, de que a corporação armada ou segmentos dela confraternize com eles. Li texto dos policiais federais do Paraná dando-lhes apoio. Isso é pólvora.
6) Desabastecimento andando a pleno vapor. Impossível prever quando se volta ao normal. Fome e mortes a caminho.
7) Ruína total da autoridade. Depois que o Executivo, o Legislativo e o Judiciário perderam o respeito da sociedade - e a imprensa com eles - ninguém confia em ninguém. É desolador. Caminhoneiros dizendo que só voltam quando sair decreto. Não acreditam na palavra do atual governo. Quem há de lhes dizer que estão errados?
Mas nada disso compõe um quadro completo. São fragmentos, apenas isso."
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