Segunda-feira, 5 de agosto de 2019 - 11h40
Implacável para condenar lideranças do PT na República de Curitiba, a Justiça brasileira não mostra o mesmo furor para investigar e julgar os tucanões do bico grande do PSDB em São Paulo.
A lei deveria ser igual para todos, já que o país é um só, mas não é bem assim que acontece. Depende do réu e do partido.
Manchete da Folha desta segunda-feira:
“Promotoria e estado contestam acordos com empresas em São Paulo – Colaborações, que citam políticos e aliados do governador poderiam compensar em R$ 103 milhões”.
A história toda é muito confusa. Trocando em miúdos, é mais ou menos o seguinte: as empreiteiras deveriam devolver para o estado de São Paulo o mesmo valor do caixa dois que pagaram para os ex-governadores tucanos Geraldo Alckmin e José Serra, e o ex-prefeito Gilberto Kassab, do PSD, entre outros, para financiar suas campanhas eleitorais.
Mas setores do Ministério Público, com o apoio do governador tucano João Doria, resistem a cumprir os acordos feitos com as empreiteiras CCR e Odebrecht, já homologados por juízes estaduais, que chegam ao total de R$ 130 milhões.
Kassab chegou a ser anunciado como chefe da Casa Civil de João Doria mas foi dispensado após denúncia de que o ex-prefeito recebeu propina também da JBS.
A Odebrecht se comprometeu a pagar uma multa de R$ 21,2 milhões em relação a Kassab, mesmo valor que diz ter repassado de forma irregular pela campanha à prefeitura em 2008 e para a formação do PSD em 2011, segundo a matéria da Folha.
O maior dos acordos do MP de São Paulo foi feito com o grupo CCR, que se comprometeu a pagar R$ 81,5 milhões para se livrar de processos.
Esses processos são tão antigos que, em breve, deverão estar prescritos, como costuma acontecer com os casos que envolvem o PSDB paulista.
Nenhum deles até agora foi sequer levado a julgamento.
A reportagem de José Marques informa ainda que a CCR delatou repasses de caixa dois referentes às campanhas de José Serra (R$ 3 milhões) à Presidência, em 2010, de Geraldo Alckmin ao Governo de São Paulo (R$4,5 milhões), em 2010, e a Kassab (R$ 2,8 milhões) para a criação do PSD. A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, também teria recebido R$ 3 milhões no mesmo ano.
Serra não se manifestou, mas sempre disse que as contas de suas campanhas eram de responsabilidade do partido. A defesa de Alckmin tem afirmado que o ex-governador “jamais recebeu recursos, a qualquer título, da empresa mencionada”. A Procuradoria Geral do Estado, responsável pela defesa jurídica do governo, não se manifestou sobre os acordos.
Entre defender os cofres estaduais ou seus correligionários, o governador João Doria ficou ao lado dos promotores que querem contestar os acordos.
Uma coisa a Justiça de São Paulo e a de Curitiba têm em comum: ambas são partidárias. Uma, para condenar o PT; outra, para proteger o PSDB.
Vida que segue.
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