Sábado, 28 de outubro de 2017 - 05h59
Por Cláudia Motta, especial para a RBA
Montes Claros (MG) – Em entrevista à Rádio Itatiaia, na primeira atividade pública do dia em que completava 72 anos, Lula foi questionado se a visita a Montes Claros – terra da Coteminas, empresa que pertencia a seu ex-vice-presidente José Alencar –, significaria uma nova parceria com a família, rumo à Presidência da República.
“Não sou candidato, porque candidatura só pode acontecer quando tiver uma convenção partidária que indicar”, explicou aos jornalistas na manhã desta sexta-feira (27). “O que estou fazendo é um reconhecimento do norte de Minas Gerais, por todo o Vale do Jequitinhonha, Vale do Mucuri. Estive muitas vezes nessa região, já fiz caravana aqui em 1994, em 1995. Sei que houve avanços econômicos na vida desse povo e me preocupa que as pessoas estão perdendo isso”, disse Lula, repercutindo uma das falas que repete nos atos que têm reunido milhares de pessoas por todo o percurso da caravana por Minas Gerais.
A cidade de Montes Claros é a 15ª por onde passam os ônibus que viajam todo o norte do estado. Saíram de Ipatinga na segunda-feira (23), passando por Teófilo Otoni, Governador Valadares, Periquito –no acampamento Alegria, do viveiro de mudas do MST –, Catuji – no Vale do Mucuri –, além de Padre Paraíso, Ponto dos Volantes, Itaobim, Itinga, Araçuaí, Coronel Murta, Salinas, Rubelita, Francisco Sá, municípios do Vale do Jequitinhonha.
“Não podia deixar de passar por Montes Claros”, afirmou na entrevista. “Tenho uma relação muito boa com a família de Zé Alencar, que foi o melhor vice que uma pessoa poderia ter, uma figura competente, leal, um ser humano extraordinário.” O vice de Lula morreu em 2011.
No início da tarde, Lula foi com um grupo restrito de pessoas visitar a Coteminas. “Quero conversar com os empresários para saber o que está acontecendo. Se está evoluindo, se está crescendo, se estão vendendo muito, se as importações estão atrapalhando. Porque é uma grande empresa nacional e temos de fazer com que seja cada vez maior.”
A Companhia de Tecidos do Norte de Minas foi fundada em 1967 por José Alencar. A entrada de produtos chineses no país afetou o setor e levou a Coteminas encerrar atividades nos Estados Unidos e desativar diversas fábricas pelo Brasil, reduzindo em 70% as vendas anuais.
Cidade grande e agrícola
Montes Claros tem cerca de 400 mil habitantes. O site da prefeitura informa que nos últimos anos a cidade se transformou em um importante polo universitário, onde há inclusive um campus da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Além do setor de comércio e serviços, e de grandes indústrias como o polo da Coteminas e a fábrica de leite condensado da Nestlé, a agropecuária, que já foi a principal atividade do município, ainda representa uma fatia importante na economia.
E são muitos os lavradores atendidos pelos programas dos governos petistas. A Associação dos Produtores de Hortifrutigranjeiros da Região do Pentáurea (Aspropen), por exemplo, reúne cerca de 120 famílias que foram beneficiadas por programas como o Pronaf (de crédito para pequenos produtores), o PAA (de aquisição de alimentos) – que abastece o Restaurante Popular e a rede socioassistencial do município – e o PNAE (alimentação escolar).
“Nós não tínhamos valor até que veio a época de Lula”, conta o agricultor familiar João Simael da Silva. “Foi uma coisa que nunca imaginei na minha vida, na época de Lula eu ouvi falar, agricultura familiar. Aí nós tivemos vez.” Ele lembra que, se antes passassem na porta de um banco, “a gente era suspeito, era bandido, depois o banco abriu as portas com o Pronaf. Eu mesmo melhorei a irrigação, botei energia na irrigação, coloquei gotejamento, economizando água”.
A produção na propriedade de Simael – morangos, chuchu, tomate e pimentão, sem uso de agrotóxicos – é feita colaborativamente, com divisão dos frutos do trabalho. “Com meus 17 hectares e meio, também peguei nove famílias, botei eles aqui dentro e hoje todos têm seu carro, sua casa boa, e levam uma vida tranquila.”
Um dos orgulhos do ex-presidente também é lembrado pelo agricultor: o Luz Para Todos. “Há pouco tempo, a gente ainda falava em querosene, porque a lamparina era com querosene. Lula botou o Luz Para Todos. Por que esse pessoal cresceu? Porque além de ter a luz, podia comprar uma bombinha, levar no seu córrego, fazer a irrigação e produzir. Isso que alavancou realmente e pegou o pobre, que começou a se equilibrar”.
Uérverton Feitosa, o Baiano, se compara a Lula em um aspecto: também saiu de seu estado natal por conta da seca, em busca de oportunidades. Como tantos outros, ao longo da caravana que percorre o Brasil, diz: “eu tenho um pouquinho dele”. Ele produz mais de 17 mil pés de alface, entre outras culturas. “Se não fossem esses programas do governo, se não fossem esses investimentos, principalmente do Banco do Brasil e do Banco do Nordeste, hoje a gente não estava trabalhando na agricultura familiar”.
Aniversário com o povo
Alguém no palco dos atos lembra que o ex-presidente aniversaria na semana e a cantoria é certa. A página do PT recolheu depoimentos, de pessoas por onde a caravana passou, que queriam felicitar o ex-presidente pelos 72 anos de vida.
“Lula está onde mais gosta, nos braços do povo”, observa o presidente da CUT, Vagner Freitas, que acompanha o trecho da caravana em Minas Gerais para fazer o debate da retirada de direitos, diante da reforma trabalhista imposta por Temer, além da portaria do trabalho escravo. “E esse povo sabe quem fez por ele, quem pode fazer. Por isso, apesar de todo ataque midiático, das injustiças que sofre, Lula só cresce na preferência popular. O povo é grato a quem governa com esse olhar de desenvolvimento nacional, de criação de empregos, de um país com educação, saúde, moradia para todos.”
O ex-presidente já deixou claro que não quer festa de aniversário. A morte da esposa, Marisa Letícia, em fevereiro, ainda embarga sua voz quando explica a razão de não querer comemorações. Mas os votos de felicidades, saúde e boas energias estão por toda parte e as hashtags #LulaDay e #FelizAniversárioLula, bombaram durante todo o dia, como se costuma dizer nas redes sociais.
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