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Política - Nacional

Operador da Máfia de Sanguessugas revela como funcionava esquema que envolve 100 parlamentares


Agência O Globo RIO - Num depoimento que se estendeu por nove dias, o empresário Luiz Antônio Trevisan Vedoin, preso em maio e apontado como o principal operador da Máfia dos Sanguessugas, disse que mais de cem parlamentares receberam - direta ou indiretamente - dinheiro e presentes. A partir das revelações do empresário, o "Fantástico" mostrou este domingo como funcionava o grande golpe contra as verbas públicas. Nunca, na história da República, uma investigação apontou o envolvimento de tantos parlamentares num único escândalo de corrupção. Mais de 100 deputados e senadores, cerca de um sexto do Congresso Nacional, estão sendo acusados de participar da máfia das sanguessugas. O número exato só será conhecido depois que a Justiça Federal e uma comissão parlamentar terminarem de analisar as evidências apresentadas pelo empresário Luiz Antônio Trevisan Vedoin, preso em maio e apontado como o principal operador do esquema. Ele e o pai, Darci Vedoin, tinham dezenas de empresas que participavam de licitações fraudulentas para vender ambulâncias a municípios e organizações não-governamentais de todo o Brasil. Em troca de uma pena mais branda, Vedoin prestou um depoimento de nove dias à Justiça e revelou com detalhes como e onde a quadrilha operava. Das 27 unidades da federação, o esquema só não atuou no Distrito Federal e no Amazonas. Em 25 estados, as empresas do grupo comandaram licitações para venda de ambulâncias e equipamentos hospitalares. No depoimento à Justiça, Luiz Antônio Vedoin afirmou ter agido em 502 dos 5.565 municípios brasileiros: o que corresponde a 9,02% do país. O estado em que o esquema mais atuou foi Mato Grosso: 111 municípios. O Paraná vem em segundo, com 50. Minas Gerais aparece em terceiro, com 41. Rondônia, com 37, e Pará, com 32, completam os cinco primeiros. Luiz Antônio Vedoin também detalhou como funcionava o esquema de emendas e licitações: um deputado ou senador ligado à quadrilha apresentava uma emenda com o objetivo de destinar verbas extras do orçamento federal a um município ou organização não-governamental para a compra de ambulâncias. Aprovada a emenda pelo Ministério da Saúde, era feita a licitação totalmente fraudulenta. Só participavam empresas ligadas à quadrilha. Se uma empresa legítima se interessasse, a licitação era cancelada. Quando a verba era liberada, a quadrilha entregava a ambulância, muitas vezes um veículo usado e mal-aparelhado. Luiz Antônio Vedoin afirma ter vendido entre 800 e 1000 ambulâncias desde 2001. Vedoin diz que os parlamentares cobravam, em média, 10% de comissão sobre o valor das emendas. Entre 2% e 3% eram pagos quando acertavam a negociata. Outros 2% a 3% vinham quando a emenda era aprovada. O restante era pago quando a verba era liberada. Segundo Vedoin, parlamentares que participavam assiduamente da máfia das sanguessugas tinham até conta-corrente junto à quadrilha. Os pagamentos das propinas eram feitos com freqüência em dinheiro vivo. Luiz Antônio Vedoin confessou que ele mesmo fazia os pagamentos de propinas em espécie a parlamentares e assessores da seguinte maneira: geralmente acompanhado do sócio Ronildo Medeiros ou de uma terceira pessoa, escondia o dinheiro no paletó e entrava no Congresso. Uma vez lá dentro, procurava os parlamentares e assessores nos gabinetes e entregava as quantias. Carros e presentes também eram dados como comissão. A um deputado de Mato Grosso que teria apresentado uma emenda com verbas para a compra de ambulâncias e equipamentos hospitalares em 22 cidades, Luiz Antônio Vedoin afirma ter dado de comissão R$ 529.235,15. Parte dessa quantia teria sido paga na forma de dois carros: uma picape Toyota Hilux e uma caminhonete Fiat Ducato. A filha desse mesmo deputado mato-grossense teria ganho passagens para Nova York. A um senador do Espírito Santo que também teria emitido uma emenda, Vedoin afirma ter pago comissão no valor de R$ 100 mil, metade na forma de uma caminhonete Fiat Ducato. Um deputado da bancada evangélica do estado de São Paulo que teria apresentado emendas para oito municípios e duas entidades de assistência a idosos teria levado de comissão dinheiro suficiente para quitar as prestações de um carro BMW. A comissão parlamentar mista de inquérito deve apresentar o relatório final até o dia 9 de agosto. O presidente da CPMI, Antônio Biscaia, adianta uma das medidas que deve propor. "Eu, particularmente, defendo que ocorra o fim definitivo de emendas individuais de parlamentares. Se não existem instrumentos para evitar os desvios de conduta e as práticas criminosas com recursos públicos, vamos acabar com emendas parlamentares e emendas de bancada", afirma Biscaia. O senador Demósthenes Torres, também integrante da comissão, acredita que o total de dinheiro movimentado pela máfia das sanguessugas pode chegar a R$ 1 bilhão. "É um escândalo que vai se igualar e pode ate superar o próprio escândalo do mensalão", aposta o senador. Mas ele não acredita que os envolvidos vão perder os mandatos. "Eu acredito até que eles possam não perder o mandato no Congresso Nacional. Existe uma espécie de 'omerta', de lei do silêncio que acaba beneficiando essas pessoas quando julgadas. Veja os exemplos dos deputados que foram julgados no esquema do mensalão, a grande maioria foi absolvida", acrescenta o senador Demósthenes Torres.

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