Quarta-feira, 27 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Política - Nacional

Os nômades de Belo Monte


Gente de Opinião

Aline Ribeiro (texto) e Filipe Redondo (fotos), de Altamira
Revista Época


O vaivém de carros na estrada que liga as cidades de Altamira e Vitória do Xingu, no Pará, ficou mais intenso no último 9 de junho. Naquela noite, à beira do asfalto, o empreendedor Adão Rodrigues inaugurava mais um de seus negócios itinerantes. A faixa na entrada da casa lhe parecia clara o suficiente: “Estreia hoje a Boate da Noite”. Nem todo mundo, entretanto, entendeu do que se tratava. Afoitos com a novidade, muitos dos frequentadores chegaram acompanhados de suas mulheres. Só quando avançavam pelo portão notavam que aquela não era uma balada qualquer, e sim o novo bordel da cidade. Os casais permaneceram com a devida autorização do dono. A restrição mesmo veio por parte dos namorados ou maridos, que tapavam com as mãos os olhos de suas respectivas no clímax da noite, o striptease das princesas da casa. O pecado de Adão Rodrigues, nesse caso, foi tropeçar no linguajar regional. Paranaense de nascimento, ele não reparou que no Norte do Brasil prostíbulo se chama brega. Boates lá são sinônimos de danceteria, onde as companheiras de vida são bem-vindas.
 

Gente de Opinião

O engano de Rodrigues ilustra o choque cultural (e social) entre a população nativa e os migrantes atraídos pela maior obra de infraestrutura do Brasil. Altamira, além de acolher a Boate da Noite e ter o título de maior município do mundo (sua área é superior à de Portugal ou da Áustria), é palco da construção da usina de Belo Monte. Trata-se do principal investimento do governo federal, emperrado por pelo menos três décadas sob acusações de ameaçar o Rio Xingu, os índios e os ribeirinhos. No começo de junho, o empreendimento – que deve ser a terceira maior hidrelétrica do mundo, atrás de Três Gargantas, na China, e de Itaipu – recebeu sua licença de instalação. O aval liberou a ocupação dos canteiros de obras. Começam agora a chegar à cidade as máquinas parrudas. Junto com trabalhadores e comerciantes visionários.

O município, com uma população estimada em 100 mil pessoas, já recebeu 20 mil desde o anúncio da obra. A revolução em Altamira está só começando. No pico da construção, previsto para 2013, em torno de 19 mil barrageiros serão contratados. Com eles, chegarão mais famílias, comerciantes, potenciais funcionários de empresas periféricas que servem a obra. À rodoviária ou aos aeroportos, homens e mulheres chegam – inclusive de outros países – à procura de emprego. Dezenas de trabalhadores viajam diariamente para a região de Altamira em busca de oportunidades – frequentemente ilusórias. Segundo estimativas, a cidade pode ganhar mais 80 mil habitantes no auge da obra. O fluxo lembra outros fenômenos amazônicos, como a corrida do ouro, que nos anos 1980 chegou a atrair 100 mil garimpeiros para Serra Pelada, deixando um rastro de destruição, violência e pobreza. Agora, a 610 quilômetros ao norte, em Altamira, uma nova invasão se anuncia. E, apesar dos anos de planejamento de Belo Monte, a região não parece preparada para recebê-la.

Rodrigues e a família aportaram há três meses em Altamira, depois de 1.800 quilômetros de terra pela Transamazônica, 158 pontes de madeira enjambradas (contadas pela mulher, Solide Fatima Triques) e um pedágio pago a um líder indígena. Aos deslocamentos populacionais puxados pelas obras de engenharia, os responsáveis pelo lazer chegam primeiro. Rodrigues tem um currículo robusto no que diz respeito a entreter os trabalhadores das barragens, os chamados barrageiros. Começou operando máquinas no canteiro de obras, mas logo descobriu que a atividade paralela dava mais dinheiro. Agora, faz casas noturnas perto das usinas. Ele diz que já fez as malas pelo menos 14 vezes no decorrer de seus 50 anos, atrás das hidrelétricas. “Não tenho apego a bens, encaro tudo como uma aventura”, diz. Em sua última viagem, deixou seu cabaré ao lado da hidrelétrica de Jirau, em Rondônia, para tocar um negócio mais promissor em Belo Monte. É o mesmo roteiro seguido agora por seus clientes. Rodrigues pretende abrir outros dois prostíbulos e dois hotéis ao lado da usina. “Vamos ganhar dinheiro com esta obra por pelo menos dez anos”, afirma. Clique AQUI e lei a matéria completa na revista ÉPOCA.

Os nômades de Belo Monte - Gente de Opinião
 

Gente de OpiniãoQuarta-feira, 27 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

STF tem maioria para determinar recálculo de cadeiras na Câmara dos Deputados

STF tem maioria para determinar recálculo de cadeiras na Câmara dos Deputados

O Supremo Tribunal Federal (STF) formou nesta sexta-feira (25) maioria de votos para determinar que a Câmara dos Deputados faça a redistribuição do

Governo Federal se compromete a incluir plano de carreira da ANM na LOA 2024

Governo Federal se compromete a incluir plano de carreira da ANM na LOA 2024

O Sindicato Nacional dos Servidores das Agências Nacionais de Regulação (SInagências) conseguiu uma solução direta do governo após intensa articulaç

Deputado estadual Pedro Fernandes será o relator da CPI das Reservas em Rondônia

Deputado estadual Pedro Fernandes será o relator da CPI das Reservas em Rondônia

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Reservas foi instaurada em Rondônia para investigar possíveis irregularidades nos processos de criação

Ministro Paulo Pimenta trata sobre parceria entre Rede IFES de Comunicação Pública, Educativa e de Divulgação científica com a EBC e o Governo Federal

Ministro Paulo Pimenta trata sobre parceria entre Rede IFES de Comunicação Pública, Educativa e de Divulgação científica com a EBC e o Governo Federal

Na tarde dessa segunda-feira (06), o ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (SECOM), Paulo Pimenta, esteve r

Gente de Opinião Quarta-feira, 27 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)