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Política - Nacional

PF diz que controladores erraram na tragédia do vôo da Gol


Agência O Globo RIO e SÃO PAULO - As investigações da Polícia Federal (PF) apontam uma série de falhas e omissões dos controladores de vôo de Brasília e de São José dos Campos (SP) que, se fossem corrigidas a tempo, poderiam ter evitado o choque entre o jato Legacy e o Boeing 737-800 da Gol, acidente que que provicou a morte de 154 pessoas em 29 de setembro. É o que revela o jornal O GLOBO em sua edição deste domingo, que já está chegando às bancas. Segundo a reportagem, entre as falhas mais graves relacionadas pela polícia está a desatenção de um 3º sargento do Centro de Controle de Tráfego Aéreo de Brasília. O militar, de 27 anos de idade e com apenas um ano de experiência profissional, não notou que, mesmo após passar por Brasília, o Legacy se manteve a 37 mil pés de altitude, nível reservado ao Boeing da Gol, que saíra de Manaus. A nova edição da revista "Época", que também já está nas bancas, traz uma entrevista com dois militares da Aeronáutica, cuja identidade não foi revelada, em que contam o que aconteceu na torre de controle com a equipe responsável por monitorar os aviões. Na reportagem, reproduzida por 'O GLOBO' em sua edição deste sábado, eles descrevem também as circunstâncias do aquartelamento decidido em meio à crise e as deficiências dos equipamentos disponíveis. - Estou tomando remédio para dormir porque a imagem na minha cabeça é o piloto brigando com a aeronave para não cair - diz um deles. Os dois controladores confirmam a existência de áreas cegas e relatam as diversas tentativas de comunicação entre os pilotos do Legacy e a torre. Veja, a seguir, trechos da entrevista: Quando os controladores perceberam que o Boeing estava desaparecido, o clima ficou tenso Controlador A - Um dos supervisores falou: 'Preciso ligar logo, é uma emergência'. Ele estava bem apreensivo. O pessoal no console estava bem diferente, desanimado. Já imaginando que algo havia acontecido, fui ver e entendi a situação. O vôo da Gol havia saído da área de Manaus às 15h35m e deveria entrar na área de Brasília às 15h50m, ou seja, 15 minutos depois. Era só o tempo de passar da zona cega. Deu 17h20m e nada. Vi um dos integrantes da equipe balançando a cabeça, quase chorando. Outros supervisores chegaram a pedir para sair dos consoles em que estavam para tentar auxiliar os dois supervisores. O clima ficou pesado. Gente chorando e pedindo para sair" Controlador B - "Uma das controladoras da região Rio começou a chorar. Tinha de ter chegado um psicólogo naquela hora, mas não chegou ninguém. Os oficiais presentes não tinham noção da situação. Eles não sabiam como lidar com aquela situação. Teve até discussão entre controladores e oficiais." Para os controladores, o jato cumpria seu plano de vôo normal. O que não funcionava era o transponder, aparelho que poderia evitar a colisão. Controlador A - "O vôo do Legacy estava normal. Só tivemos noção do acidente quando o avião da Gol desapareceu. Quando o Legacy pousou em Cachimbo (Base Aérea de Cachimbo, ao sul do Pará), entrou em contato falando que fez uma descida de emergência porque havia batido em algo. Aí o controlador falou: 'Como bateu, se ele estava no 360 (a 36.000 pés)? Não tem como bater'. No nosso plano, o Legacy estava a 360. Na apresentação do radar, ele estava a 360. Aí falam que nós e os supervisores não fizemos nada e que o Legacy estava com problemas no transponder (sistema anticolisão). Sabe por que não fizemos nada? Porque nós visualizamos o Legacy a 360 e não a 370 (37.000 pés). Como ele apresentou problema no transponder, não dava para ter os dados do jato, e sim do nosso sistema." A Aeronáutica chegou a declarar que não havia problemas de comunicação no dia 29. Os controladores dizem que havia Controlador B - "Essa época agora de chuva é um caos. Se for no centro de controle de Brasília, agora, vai ver que está uma loucura. O setor de Cuiabá tem três freqüências. Todas funcionam com deficiência. E a comunicação não se torna clara. Isso é muito perigoso. Se a freqüência estiver com deficiência, ela está inoperante. Eu não posso dar uma instrução com eco, não posso falar e receber a resposta pela metade. A instrução tem de ser clara. Um problema que temos é que, quando a freqüência está inoperante, temos de esperar até abrir um chamado de pane. As panes podem durar pouco tempo. No dia do acidente, eles (a Aeronáutica) podem alegar que as freqüências estavam funcionando. Mas, no dia, a freqüência daquela área estava sem transmissão e sem recepção." Controlador A - "Só que não tem o registro, porque a pane só aconteceu naquele momento. O discurso da Aeronáutica é que o importante para o controlador não é o radar, mas sim a freqüência. E elas funcionam com deficiência. Um dia desses, um setor inteiro foi interditado por causa da falta de freqüência. Ou seja, tinha controlador, só não tinha onde trabalhar."

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