Sexta-feira, 3 de novembro de 2017 - 18h46
Por Hylda Cavalcanti, da RBA
Na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) da JBS, criada para investigar os contratos do grupo JBS financiados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o ambiente esta semana é de crise. O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) abandonou o colegiado da comissão com uma acusação que já vinha sendo feita nos bastidores das reuniões. Segundo Rodrigues, “os trabalhos estão sendo usados por parlamentares que temem delações que os acusem de envolvimento nos negócios do grupo para tirar vantagens, desacreditar o Ministério Público Federal (MPF) e acabar com a Operação Lava Jato”.
“Neste ambiente, os investigados viraram vítimas e os investigadores é que estão sendo investigados”, reclamou. O principal motivo que levou à renúncia de Randolfe como integrante da CPMI foi a convocação do procurador Eduardo Pelella, considerado braço direito do ex-procurador Geral da República Rodrigo Janot.
Recentemente, o senador teve uma briga com o relator, deputado Carlos Marun (PMDB-MS), por causa do rumo que, segundo ele, estavam tomando os trabalhos.
Rodrigues também ajuizou, em setembro, um mandado de segurança no Supremo Tribunal Federal (STF) para pedir a suspensão da CPMI. Na peça jurídica, ele argumentou que o propósito velado da comissão é “travar uma disputa política da coalizão governista, fortemente abalada pelo conteúdo das colaborações e das evidências a elas anexadas, com o Sistema de Justiça".
O senador afirmou que quase metade dos requerimentos apresentados por deputados e senadores até agora são voltados para convite de integrantes do MPF e cita como exemplo disso seu desafeto, Marun, que chegou a declarar que “o objetivo da comissão é investigar quem nos investigou”.
Polêmica desde o início
Desde setembro, a divisão de interesses dos parlamentares que compõem a comissão tem suscitado reações diferentes. A primeira delas foi quando o relator apresentou seu plano de trabalho. No documento, Marun sugeriu, entre outros recursos, ajuda de especialistas externos e o uso de programas de computador para cruzamento de dados.
Na ocasião, muitos deputados e senadores acusaram a comissão de tentar ter uma atividade “chapa-branca”, com atuação mais política do que técnica. Um destes foi o senador Otto Alencar (PSDB-BA), que se retirou de uma das reuniões reclamando que a CPMI pretendia “atacar o MPF e proteger o governo de Michel Temer”. “Não vou contribuir com essa farsa”, destacou.
O presidente da CPMI, senador Ataídes Oliveira (PSDB-TO), desconversou sobre o clima de divergências. Segundo ele, desde as primeiras críticas, tem atuado “para que os trabalhos não tenham o viés de transformar as investigações numa ação comandada pelo Palácio do Planalto para retaliar investigações”.
A CPMI prossegue com sua agenda de audiências públicas, convocações e reuniões a partir da próxima semana. Mas, antes disso, terá de dirimir o mais novo mal-estar entre o colegiado.
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