Terça-feira, 4 de setembro de 2018 - 07h02
247 - O reitor da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e responsável pelo Museu Nacional, Roberto Leher, afirmou que a tragédia é o resultado da falta de prioridade para a ciência, a história e a cultura no Brasil. Ele disse que a Universidade jamais recebeu recursos suficientes para a conservação de um prédio das dimensões do Museu Nacional, tombado e com um acervo daquela importância.
Em entrevista ao jornal O Globo, o reitor da UFRJ afirma que a perda do Museu é muito maior do que se imagina: "o coração cultural do Brasil e nossa memória foram duramente atingidos. O Museu Nacional era o nosso repositório cultural, constituía o imaginário do país. Mais do que um museu, era um espaço muito simbólico, rico. Ver esse espaço destroçado machuca a alma do povo brasileiro."
Segundo Leher, "o incêndio chama a atenção sobre como os lugares de produção de conhecimento são tratados no Brasil. Espero que possa sacudir o país, chamar a atenção para mudanças que levem à valorização da cultura, da ciência, da arte, da tecnologia. É preciso mobilizar os setores democráticos ligados à área cultural para que possibilitem uma reversão. A ciência, a cultura e a história nunca estiveram no projeto político do Brasil. Esse incêndio deve interpelar o Brasil, sobretudo para que a sociedade avalie para onde estamos caminhando."
O reitor ainda destaca que a recuperação do Museu deve ser planejada de maneira realista e responsável: "um plano de ação realista, que possa fazer a instituição voltar a funcionar. Mas as perdas não são recuperáveis. O que se perdeu é para sempre. Mas já conseguimos uma verba de emergência do Ministério da Educação de R$ 10 milhões para obras e, depois, mais R$ 5 milhões para projetos. Vamos pedir ajuda à Unesco, que foi fundamental para a recuperação dos museus da Europa destruídos depois da Segunda Guerra.
Leher ainda lamenta o rescaldo de tragédia cultural originado pelo incêndio: "essa é uma tragédia de uma gravidade sem precedentes. Estava no museu o repositório da memória dos povos indígenas, de línguas desaparecidas, de povos que se foram. Tínhamos lá um acervo da biodiversidade nacional que não existe mais, exemplares de plantas e animais de espécies extintas, isso não tem preço. O museu tinha registro da viagem de Darwin ao Brasil. Acervos de ciências naturais e humanas desaparecidos. Ainda não temos condições de fazer um balanço com o rigor necessário, porque o acesso está muito restrito."
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