“Lula é preso comum e deveria estar num presídio comum. Quando o parente de outro preso morrer ele também será escoltado pela PF para o enterro? Absurdo até se cogitar isso, só deixa o larápio em voga posando de coitado”. Foi isso o que o deputado federal Eduardo Bolsonaro (do PSL de São Paulo) escreveu em sua conta no Twitter. Não é manifestação compatível com a postura que se espera de um parlamentar. Nem de um filho do presidente da República.
É correto que Luiz Inácio Lula da Silva, como cidadão comum, já deveria ter sido transferido para um presídio federal, em instalações compatíveis com a sua condição de ex-presidente da república, cargo para o qual foi eleito – e reeleito – pela maioria do povo brasileiro.
É correto também que ele tinha o direito de sair da cadeia para participar do velório do neto, de apenas 7 anos, vítima de meningite meningocócica, uma doença traiçoeira e que causa muito sofrimento. Em 1973 ela foi um flagelo para São Paulo, terra natal do pequeno Arthur, e a ditadura não deixou sequer que o jornal O Estado de S. Paulo, vítima de intensa censura por parte do governo do general Médici, esclarecesse a população diante de centenas de vítimas fatais que se acumulavam. A causa oficial da epidemia, a mais grave já ocorrida em um meio urbano no mundo inteiro, não era verdadeira.
A intolerância, a grosseria e a truculência verbal do filho do presidente Jair Bolsonaro traz à memória esse tempo de obscurantismo. E a duvidar que o primeiro mandatário do país, depois de estacionar no posto de capitão em 17 anos de carreira militar e como parlamentar do baixo clero em 27 anos como parlamentar, mais ativo na praia da Barra da Tijuca ou nas pescarias da baía da Guanabara do que na Câmara dos Deputados, cumpra o compromisso que assumiu de público na semana passada: impor aos três filhos desastrados a sua autoridade, a solenidade do cargo que ocupa e as responsabilidades que prometeu exercer diante da nação, vencendo uma eleição disputada, tanto quanto Lula.
Quarta-feira, 25 de dezembro de 2024 | Porto Velho (RO)