Quarta-feira, 7 de novembro de 2018 - 12h25
Os 2,8 milhões de trabalhadoras e trabalhadores que atuam no
setor de frigoríficos estão ameaçados de perder seus empregos, caso o
presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), cumpra a promessa de transferir a
embaixada brasileira em Israel de Tel Aviv para Jerusalém.
Os países árabes, um dos principais parceiros comerciais do
Brasil na compra de carnes bovinas e de frango, além de açúcar, já ameaçaram
retaliações, cortando a importação dos produtos brasileiros. Se isso acontecer,
o Brasil também pode perder US$ 7,1 bilhões de superávit comercial com os 21
países árabes.
Esse valor representa mais de 10% da balança comercial do
país que atingiu US$ 68 bilhões no ano passado. A região é o quinto principal
destino das exportações brasileiras. Os países árabes, por sua vez, são os
fornecedores de 4% do total importado pelo Brasil.
"É uma irresponsabilidade", diz o presidente da
Confederação Democrática Brasileira dos Trabalhadores da Alimentação
(Contac-CUT), Siderlei de Oliveira.
O dirigente lembra que o país e a classe trabalhadora já
sofreram muito com a Operação Carne Fraca da Polícia Federal e com o fechamento
de frigoríficos por causa da denúncia de salmonela, que foi um verdadeiro
desastre feito pelo ministro Blairo Maggi. "Agora, vem essa proposta de
Bolsonaro que pode quebrar vários frigoríficos", afirma.
"Há inclusive plantas inteiras que abatem frangos
somente para os árabes que tem um corte especial, o Halal, por causa da
religião deles. Essas plantas têm de mil a dois trabalhadores dependendo do
tamanho do frigorífico, porque o abate para dar lucros tem de ser em grande
escala", explica o presidente da Contac-CUT.
Somente no ano passado, os países árabes comparam mais de
US$ 983 milhões em carne bovina do Brasil e o Egito foi o maior comprador com
US$ 519 milhões.
Na Arábia Saudita, a maior importadora de carne de frango do
Brasil, 90% da carne consumida no país é brasileira – saldo de US$ 1,012
bilhão.
Setor de
infraestrutura também pode perder investimentos
Além de perder empregos no setor do agronegócio, o Brasil
também perderia investimentos em infraestrutura em portos, estradas e setor
elétrico – áreas em que os países árabes já atuam no país por meio de seus
fundos soberanos, uma espécie de veículos de investimentos criados pelos países
para aplicar suas reservas internacionais. No caso dos árabes, que detêm 40% dos fundos soberanos de todo o mundo, o
valor é incalculável.
Câmara de Comércio
Árabe Brasileira critica anúncio de Bolsonaro
No boletim mensal da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, a
entidade demonstra preocupação com a possibilidade de o presidente eleito
reconhecer Jerusalém como a capital do Estado de Israel.
Segundo a nota, isso "pode gerar retaliações por parte
dos países árabes, principais compradores da proteína animal produzida e
exportada pelo Brasil".
E as retaliações podem ser ainda maiores, diz trecho da nota, que fala em "embargos às vendas de outros setores da indústria nacional, a exemplo da aviação militar, dado que os países região do Golfo Arábico são clientes potenciais para a aquisição desse tipo de equipamento".
A nota prossegue dizendo que "pelo lado dos
investimentos, a imagem do Brasil como um bom ambiente para negócios pode ficar
arranhada frente os países árabes, distanciando daqui os fundos soberanos
daquela região, cujos recursos podem ser investidos aqui no Brasil,
principalmente na infraestrutura logística".
A Arábia Saudita tem parte de seu fundo soberano aplicado na
área de alimentos em empresas como a BRF, e no setor portuário, na Embraport,
localizada no Porto de Santos, entre outros negócios.
Entenda o caso
Os judeus consideram Jerusalém sua capital, mas os palestinos também querem que a cidade seja a futura capital quando for criado o Estado da Palestina. A ONU, ao criar o Estado de Israel em 1948, não reconheceu Jerusalém como capital dos judeus. É por isso que todos os países mantêm suas embaixadas em Tel Aviv, adotando a prática sugerida pelas Nações Unidas de neutralidade em Jerusalém, já que o local é sagrado para as três maiores religiões monoteístas: a judaica, islâmica e cristã.
Israel ocupa Jerusalém Oriental desde a guerra de 1967 e,
posteriormente, a anexou num ato nunca reconhecido pela comunidade
internacional.
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