Domingo, 21 de janeiro de 2007 - 08h49
Sem dinheiro, governadores adotam medidas impopulares
Agência O Globo
BRASÍLIA - Alguns governadores de primeira viagem assumiram no início do mês sem imaginar o que teriam pela frente: rombos em caixa e o caos administrativo herdado dos antecessores os obrigam a tomar medidas impopulares já
no começo de seus mandatos. Levantamento feito pelo GLOBO mostra que governadores de quase todos os estados onde houve mudança na administração têm tido problemas.
A tucana Yeda Crusius assumiu o Rio Grande do Sul com séria crise financeira. Mas há casos inusitados, como o de Sergipe, onde o governador petista Marcelo Déda teve que rebaixar altos salários dos executivos da diretoria do Parque Tecnológico do estado, o Sergipe Tec, que recebiam até R$ 21 mil.
Déda reduziu os salários e descobriu que o Sergipe Tec não é um órgão público, mas uma organização social. Entretanto, a única fonte de renda do parque tecnológico são os recursos do governo estadual.
O rombo financeiro passou a ser regra na maioria dos estados.
No Distrito Federal, o governador José Roberto Arruda (PFL) encontrou déficit de aproximadamente R$ 400 milhões. Para cobrir o buraco, devolveu todos os imóveis alugados pelo governo, que custavam R$ 30 milhões ao ano. Isso o obrigou a transferir a sede do governo para Taguatinga, maior cidade-satélite do DF.
Semana passada, Arruda devolveu metade dos carros alugados pelo governo. A economia total será de R$ 17 milhões por ano. Arruda exonerou 17 mil ocupantes de cargos comissionados, determinou a demissão de nove mil funcionários sem concurso contratados pelo antigo Instituto Candango de Solidariedade, e quer reduzir à metade o número de cargos comissionados.
Uma das situações mais dramáticas nos estados é de Alagoas. Lá, o governador Teotonio Vilela Filho (PSDB) detectou um buraco no orçamento igual ao do Distrito Federal: R$ 400 milhões. Ameaçou suspender o aumento médio de 15% concedido pelo governo passado ao funcionalismo público e depois teve que voltar atrás, por causa das greves que ameaçavam paralisar o estado.
- A situação é difícil. Pegamos uma herança maldita - disse Teotonio, repetindo Lula em 2003.
No Nordeste, outra situação grave é da Bahia. O governador Jaques Wagner (PT) disse ter encontrado uma dívida de aproximadamente R$ 620 milhões. Segundo ele, o caso mais dramático é da Empresa Bahiana de Alimentos (Ebal), espécie de rede de mercados populares com dívidas que chegam a R$ 80 milhões.
- As prateleiras da Ebal estão vazias. Se fosse uma empresa privada, já estaria falida - disse Wagner.
Ele disse que vai recuperar a Ebal e enfrentar a situação crítica do estado com um programa amplo para combater o desperdício. Só autorizou a nomeação de 70% dos mais de 12 mil cargos comissionados da Bahia.
Em Pernambuco, o governador Eduardo Campos (PSB), apesar de ter recebido da administração anterior saldo positivo de R$ 109 milhões, apontou um desequilíbrio nas contas. Ele diz que os débitos a serem quitados somam R$ 312,5 milhões, o que vai gerar a curto prazo saldo negativo de R$ 255,1 milhões. Por causa disso, teve que anunciar um corte de 20% das despesas de custeio e paralisação de novos investimentos.
- Há uma situação de desequilíbrio nas contas do estado - disse Eduardo Campos.
Em nota, os ex-governadores Jarbas Vasconcelos (PMDB) e Mendonça Filho (PFL) afirmaram que Campos utilizou de má-fé para "manipular números e confundir a opinião pública".
Mesmo diante dos problemas, muitos governadores tentam ganhar espaço político, de olho na sucessão de 2010.
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