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VIRGILÍO: Recusar carona do presidente seria fazer pirraça


Catarina Alencastro - Agência O Globo

BRASÍLIA- O senador Arthur Virgílio (PSDB- AM), que deverá enfrentar em 2007 o seu nono ano de liderança no Congresso (já foram quatro como líder do governo e quatro como líder de seu partido no Senado), passou a semana sendo obrigado a explicar a carona que pegou no avião do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na volta do enterro do colega Ramez Tebet (PMDB-MS). Virgílio afirma que não tem alternativa e que não tem mais idade para fazer ''pirraça'', ou seja, recusar a carona.

Nesta entrevista ao GLOBO ONLINE, o tucano, conhecido por seus discursos inflamados na tribuna do Senado, chegou a elogiar a situação em que o Brasil se encontra no governo Lula. Disse que se o governo tiver uma pauta de interesse nacional para discutir com o partido, há possibilidade de entendimento, desde que os tucanos possam participar efetivamente do assunto. Apesar disso, é categórico ao afirmar que fazer parte da coalizão, só em caso de 'caos'.

irgílio também admitiu erros na campanha presidencial e falou que o partido passará por um processo de mudança nos próximos anos. A idéia é se aproximar mais do povo e promover a organização de uma militância tucana 'ruidosa'. Segundo ele, esse seria um dos motivos da derrota de Alckmin. Apesar de reconhecer o fato de o candidato tucano ter conseguido quase 38 milhões de votos, o líder acredita que o partido não 'soube buscar a vitória'.

Virgílio, que também amargou a derrota para o governo de Amazonas tendo pouco mais de 5% dos votos, disse que no restante de seu mandato como senador (que vai até 2010), irá 'adjetivar menos' e fazer uma atuação mais 'sóbria'.

A seguir, os principais trechos da entrevista:
O GLOBO ONLINE -A carona no Aerolula causou no partido algum tipo de constrangimento?

VIRGILIO - Só uma pessoa que não tenha carteira de motorista -que pressupõe o teste psicológico - seria capaz de condenar essa atitude que eu tomei. Eu poderia fazer o quê? O presidente me chama para ir com ele e eu digo: 'não, presidente, não vou porque eu voltei a ser líder estudantil. Eu vou agora jogar pedra na embaixada americana'. Fazer pirraça com o presidente? Eu com essa idade? Seria uma atitude tola, estúpida e burra. Tudo o que eu não sou. Eu fico espantado da gente ter que discutir isso.

O GLOBO ONLINE- O senhor é líder do partido que faz oposição a Lula.

VIRGILIO - Sou e continuo. Continuarei mostrando os equívocos do governo, onde ele falhou. Agora, se fazer oposição é não entrar no avião do presidente se ele convidar, aí, realmente, meu padrão de oposição é outro. O meu é fiscalizar. E eu fiscalizo. Ali eu só tinha uma alternativa.

O GLOBO ONLINE - Algumas pessoas avaliam que nesse episódio o PSDB não teria ganhado nada. O senhor concorda?

VIRGILIO - Eu não entrei no avião para ganhar nada, não. Eu entrei porque ele me convidou. Eu disse: 'presidente, nós vamos conversar com uma pauta. Se tiver uma pauta, conversamos. Quando não tiver, não conversamos.

O GLOBO ONLINE -Então o partido está aberto para conversar com o governo? O presidente do PSDB, Tasso Jereissati, se for convidado para uma conversa com Lula irá?

VIRGILIO - Claro que irá. Se convidado, irá. Em cima de uma pauta. Ele não vai lá para a cena da foto, para um ato político. Isso não irá. Digamos que o Lula esteja falando sério (sobre ter uma pauta de interesse do Brasil para tratar com os partidos). A gente não expõe que ele não está falando sério. Parece para todo o mundo que ele está falando sério e nós somos intransigentes. Se ele tiver falando sério, já imaginou o pecado de (Tasso) não ir? Nós somos um partido peculiar porque nós somos oposição federal e governamos, no plano estadual, 51% do PIB. Então, se a economia melhorar, nós somos grandes beneficiários disso. Nós não podemos nos portar de maneira estudantil, de maneira irresponsável, sabe?

O GLOBO ONLINE- Isso quer dizer que o PSDB fará uma oposição mais branda no segundo mandato de Lula?

VIRGILIO - Não. Ela será tanto mais branda, quanto mais o governo acerte e mais dura, quanto mais o governo erre. Mas não vamos fazer campeonato de radicalismo com ninguém, não. Vamos fazer a nossa luta na oposição. Nosso objetivo em primeiro lugar é fazer nossos governadores brilharem e vamos aqui (no Congresso) ser fiscalizadores. Se precisar pedir CPI de novo, vamos pedir. Se precisar convocar fulano, vamos convocar. Denúncias de autoritarismo fiz duas ontem e farei mil, porque vejo um traço de autoritário no governo.

O GLOBO ONLINE- Desculpe insistir, mas não há, mesmo, dentro do partido um movimento no sentido de baixar a bola, diminuir o tom de oposição? O Serra esteve em Brasília esta semana e disse que o partido não fará 'oposição negativa'...

VIRGILIO - E nunca fez. Quem foi que desarmou o discurso do impeachment senão o PSDB? Quando foi que nós deixamos de aprovar alguma matéria relevante para o país? E as pessoas diziam para nós: 'o homem (Lula) tá fraco, tem que liquidar o homem agora'... Mas não se tratava dele estar fraco ou forte. Se tratava que o processo de impeachment sem ter clamor popular poderia levar o Brasil a ter choque na rua, mortes. Nós achamos que o povo é que tinha que decidir na urna se queria o Lula ou não queria. Decidiu que queria. O que é qu
e eu vou fazer? Eu fiz tudo pra ele não ganhar. Ele ganhou.

O GLOBO ONLINE- Quer dizer que o PSDB nunca fez oposição negativa?

VIRGILIO - Nunca. Fez oposição dura. Você não pode falar de corrupção - que o governo praticou demais - com um sorriso nos lábios. Mas oposição negativa, não fez.

O GLOBO ONLINE- Como será a oposição ao governo Lula no segundo mandato, já que o PSDB está aberto para conversar e o PFL já disse que se recusa a fazê-llo? Até então havia uma consonância entre os dois partidos, não havia? E agora?

VIRGILIO - Eu duvido que se ele (Lula) disser: 'tenho uma pauta de Brasil e estou convocando os líderes e o presidente do PFL'. Eu não acredito que não vão. Não acredito. Agora, o PFL tem dito que prefere dialogar no Congresso. Desde que haja uma pauta do presidente com direito a nós interagirmos sobre ela, o local é o que tem menos importância. O PFL tem direito a escolher suas táticas e nós temos o dever de combater juntos os equívocos de um governo que erra muito. Mas eles com a personalidade deles e nós com a nossa. Temos uma tradição de aliança com o PFL que, com a pequena interrupção de 2002, vem desde 1994. São 12 anos de convivência. Não se separa assim. É um casamento estabilíssimo.

O GLOBO ONLINE- Qual é o posicionamento do PSDB com relação a essa força-tarefa do governo em buscar uma coalizão com os partidos?

VIRGILIO - Nós somos bem definidos: coalizão jamais.

O GLOBO ONLINE- E um entendimento?

VIRGILIO - Entendimento depende de pauta. De pauta e de interação. Ou seja, não pode ser uma pauta fechada do presidente. Sem pauta é conversa jogada fora. Com pauta é possibilidade efetiva de entendimento. O (ex) presidente Fernando Henrique disse bem: 'as pedras brancas do xadrez estão com Lula'. O jogo começa com a mexida de uma pedra branca.

O GLOBO ONLINE- E 2010?

VIRGILIO - O PSDB terá candidato com apoio de todos. O partido disputou as cinco eleições que houve.

O GLOBO ONLINE- Mas nas duas últimas houve um racha dentro do partido com relação à escolha do nome para a disputa presidencial. Não acontecerá o mesmo em 2010 com os potenciais candidatos Aécio Neves e José Serra?

VIRGILIO - O Serra e o Aécio se entenderão bem. Para mim, aliás, já estão até entendidos.
O GLOBO ONLINE- Por que o senhor acha que os dois já estão entendidos?

VIRGILIO - Porque eu vejo muita cordialidade entre ambos. A gente aprende com o tempo. O partido não cairia nesse canto de sereia ao contrário de se dividir, de ficar fora do poder e adiar seus projetos.

O GLOBO ONLINE- Mas como seria esse entendimento, já que a presidência parece ser um projeto pessoal de ambos?

VIRGILIO - É natural. Um uma pessoa jovem, faz um governo eficaz, tem muito futuro. O outro é uma pessoa que tem um acervo de realizações administrativas fabuloso. Ambos têm legitimidade para pleitear, ambos têm votos para pleitear, ambos têm aparato político para pleitear. Mas se entenderão. Inclusive se entenderão porque ambos são contra a reeleição. Então não tem porque não ser um e depois o outro.

O GLOBO ONLINE- E até lá, é 'coalizão jamais'?

VIRGILIO - Depois do impeachment do Collor houve um momento de caos e o PT se recusou a participar do governo de Itamar. Expulsou a Erundina porque ela participou. Ali era um momento de união nacional: todos os democratas do país se reuniram para ajudar o Itamar a superar aquele momento de dificuldade. Então, em caso de caos, se se repetisse o caso do Itamar, eu não hesitaria (em aceitar uma coalizão). Mas graças a Deus não tem caos. A economia tem crescido pouco, mas tem crescido. Tirando essas tolices que de vez em quando saem do Palácio do Planalto, prometendo sempre diminuir o papel da imprensa, nós estamos muito bem. Temos pleno funcionamento das instituições.

O GLOBO ONLINE -O senhor faz uma avaliação positiva do momento em que o país se encontra?

VIRGILIO - O Brasil cresceu pouco. O Brasil cresce mediocremente há muito tempo. Tem crescido à la México. Não é nada demais, mas não é o caos.

O GLOBO ONLINE - E o Aécio? O senhor acredita que há alguma chance de ele trocar o PSDB pelo PMDB?

VIRGILIO - Tanto quanto eu fazer uma viagem para Marte neste fim de semana.

O GLOBO ONLINE - E o Alckmin, que espaço deverá ter no partido a partir de agora?

VIRGILIO - É alguém que começou a campanha desconhecido e hoje é reconhecido em qualquer esquina brasileira. Isso é um patrimônio. Eu ainda tenho quatro anos de mandato como senador. Se ele topasse ficar com o meu mandato e me desse a derrota dele com 38 milhões de votos, eu daria o meu mandato para ele agorinha.

O GLOBO ONLINE O senhor avalia que o partido tem algum mea culpa a fazer com relação à derrota presidencial?

VIRGILIO - Para mim, os dois piores momentos da campanha foi a defesa tímida do partido, de seus candidatos, fizemos todos juntos, das privatizações, aceitando um discurso medíocre de Lula. Falso, porque ele está aí privatizando as estradas, no que faz muito bem. E o outro foi quando me parece que nós não conseguimos ainda ter um partido que tenha militância ruidosa nas ruas. Uma militância com base sindical, com base estudantil efetiva, com departamentos organizados. Nós temos que fazer isso. Esse é um projeto que está sendo gestado pelo presidente Tasso Jereissati para dar uma grande sacolejada no partido. Acho que esse ano (que vem) vai ser um ano de muita construção para nós. Não ganhamos, mas em compensação vamos organizar um grande partido em cima dos erros que cometemos.

O GLOBO ONLINE - Essas duas derrotas consecutivas criaram, então, o ambiente para o partido se reformar e buscar maior aproximação com o povo?

VIRGILIO - O povo mostrou pra gente nas duas derrotas presidenciais que nos via como a opção: 'Agora é esse aqui, mas você é a opção. Fique atento. Você tem um papel'. Eu me resigno com o resultado eleitoral. Eu baixo a cabeça para o povo e me resigno. Será que o erro não foi nosso, que não soubemos buscar a vitória? Eu prefiro achar que nós erramos. Nós não soubemos vencer. O mesmo povo que nos elegeu duas vezes é o povo que agora reelege Lula. Eu saí dessa eleição com a cabeça bem diferente. O (restante do) meu mandato será na essência igual, na firmeza igual, mas eu não vou adjetivar tanto. Será um mandato mais sóbrio. Eu vou imprimir, se Deus quiser, mais qualidade ao meu mandato. 

Foto: Wilson Dias ABr

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