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Política - Nacional

Vôo 1907: Controle de tráfego aéreo pode ter falhado


Evandro Éboli e Bernardo de La Peña - Agência O Globo BRASÍLIA E RIO - O controle de tráfego aéreo também pode ter falhado no caso da colisão entre o Boeing 737-800 da Gol e o jato executivo Legacy da Embraer na tarde de 29 de setembro, provocando a morte de 154 pessoas. Secretário-geral da Organização de Aviação Civil Internacional (OACI) durante seis anos (de 1997 a 2003) e ex-presidente da Comissão Latino-Americana de Aviação Civil, o major-brigadeiro Renato Cláudio Costa Pereira disse que o controle de vôo poderia ter desviado o Boeing: - Adianta tentar falar sete vezes com o Legacy? Se não consegue falar com um avião, faz contato com os outros, tira da frente dele os outros. Era assim que se fazia antigamente, sem radar - afirma o brigadeiro, que já participou de diversas investigações sobre acidentes aéreos. Para ele, a alegação de que não se poderia alterar a rota do Boeing, sob o risco de causar um acidente, não faz sentido. Ele explica que as rotas estavam sendo monitoradas pelo radar. Apenas a altitude do Legacy era desconhecida. Segundo ele, o controle de vôo poderia determinar que o Boeing fizesse uma abertura de 45 graus para a direita, o que o tiraria do caminho do Legacy. O Boeing voava de Manaus para o Rio e estava a 37 mil pés de altitude. O Legacy ia de São José dos Campos para os Estados Unidos e faria uma escala em Manaus. Pelo plano de vôo aprovado, o Legacy deveria voar a 37 mil pés entre São José dos Campos e Brasília, onde deveria descer para 36 mil pés, mantendo esta altitude até o marco Teres, em Mato Grosso, onde subiria para 38 mil pés. No entanto, no ponto em que houve a colisão - 400km depois do marco Teres - os pilotos americanos Joe Lepore e Jan Paladino estavam a 37 mil pés. Ainda não se sabe explicar por que o Legacy voava a uma altitude diferente da estabelecida no plano de vôo. O depoimento dos pilotos americanos à Polícia Civil de Mato Grosso não esclarece a questão. Lepore e Paladino afirmam que voavam a 37 mil pés, que, segundo eles, era a altitude prevista no plano de vôo. Entre Brasília e Manaus, o Legacy usava uma aerovia de mão dupla. Ele deveria estar numa altitude par (36 mil pés ou 38 mil pés), enquanto o Boeing voava numa altitude ímpar (37 mil pés). Investigações O delegado federal Renato Sayão, responsável pelo inquérito na PF, disse nesta quarta que a investigação deve seguir três linhas: verificar se os pilotos seguiram as normas internacionais de segurança; se os controles de tráfego aéreo funcionaram; e se houve falha mecânica. Sayão informou que a investigação da PF será feita paralelamente à da Aeronáutica e defendeu a manutenção no Brasil do piloto e do co-piloto do jato Legacy. O delegado recebeu o advogado José Carlos Dias, que defende os tripulantes. O advogado, que foi ministro da Justiça no governo de Fernando Henrique Cardoso, afirmou, após o encontro com Sayão, que Lepore e Paladino não cometeram nenhuma impropriedade técnica no comando do jato. Segundo ele, o transponder - dispositivo de rastreamento da aeronave - não estava desligado, e nem houve falha no equipamento. Quando questionado pelos repórteres se os americanos teriam descumprido o plano de vôo, Dias respondeu: - Não é bem assim não. Não é com este simplismo. Eles têm explicações que já foram dadas, e cumpriram todos os regulamentos. O advogado também respondeu às perguntas dos jornalistas sobre o fato de o jato Legacy estar voando, no momento do acidente, a 37 mil pés, como informaram os pilotos americanos à Polícia Civil do Mato Grosso. - Tenho certeza que eles têm resposta para tudo isso. Os fatos precisam ser levados a uma apreciação equilibrada. É preciso ouvir as gravações (da caixa-preta) para saber o que eles conversavam - afirmou Dias. O advogado não descartou a possibilidade de ter ocorrido falha no controle aéreo: - Isso tudo tem que ser apurado. Não queremos fazer acusações. Um relatório preliminar da FAB mostra que os pilotos americanos do Legacy foram responsáveis pelo acidente. O relatório já está pronto, mas não será divulgado até a que a Organização Internacional de Aviação Civil (Oaci) envie, do Canadá, um relatório sobre a releitura da caixa-preta do Legacy. Embora os pilotos do Legacy tenham afirmado em depoimentos à Polícia Civil de Mato Grosso que estavam cumprindo o plano de vôo, cópia do documento mostra que eles estavam voando a 37 mil pés, quando deveriam ter subido para 38 mil num ponto bem antes do choque com o Boeing da Gol. Trabalho de resgate Nesta quarta-feira, as equipes de resgate (veja imagens das operações de busca) conseguiram, por meio de macacos pneumáticos e hidráulicos, levantar a estrutura da asa e do trem de pouso do Boeing da Gol, que pesa 15 toneladas. Sob a estrutura, foram encontrados cinco corpos. Nesta quinta-feira, os macacos vão levantar a cabine da aeronave, sob a qual podem estar os últimos quatro corpos que faltam para totalizar o número de 154 vítimas da maior tragédia da aviação comercial do Brasil. Nesta quarta, o IML de Brasília identificou mais 15 vítimas do acidente, totalizando 134. Já foram retirados por suas famílias 112 corpos. Estão em processo de identificação 16 vítimas. As equipes de resgate contam agora com o reforço de índios caiapós e jurunas, que estiveram na fazenda Jarinã para oferecer ajuda. Eles vão abrir picadas e clareiras para as equipes que estão à procura de corpos. - Esse era nosso objetivo, de ajudar e não de atrapalhar, de levar os corpos para os familiares - disse o cacique caiapó Megaron Txucaramãe. Mesmo depois que todos os corpos forem localizados, boa parte dos militares vai permanecer na mata para encontrar o cilindro da caixa-preta do Boeing, que registrou os últimos diálogos da tripulação.

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