Quinta-feira, 16 de maio de 2019 - 19h03
A
Assembleia Legislativa realizou na manhã desta quinta-feira (16) audiência
pública para tratar dos avanços e desafios da cadeia produtiva em Rondônia,
proposta pelos deputados Cirone Deiró (Podemos) e Lazinho da Fetagro (PT),
reunindo autoridades, produtores e empresários do setor leiteiro.
Com
uma média de apenas 5 litros vaca/dia, resultado de pastagens mal planejadas,
de problemas com a sanidade animal, com destaque para a mastite; e a baixa
qualidade genética do rebanho. Isso tudo somado à falta de informações e de
assistência técnica. Mas, os baixos preços do leite, pagos aos produtores,
acabaram dominando os debates.
"Produtores
estão sofrendo com o alto custo de produção e o baixo preço que recebem pelo
litro de leite entregue aos laticínios. Os atores principais aqui são os
produtores, que sentem na pele o que ocorre com a produção de leite e sofrem
com uma renda cada vez menor", disse o presidente da Assembleia
Legislativa, Laerte Gomes (PSDB), na abertura da audiência.
Cirone
Deiró destacou que "a economia de muitos municípios depende do leite. É
uma preocupação desta Casa, pois é do setor produtivo que vem a nossa força
econômica. Como representantes da população, estamos nos mobilizando para
buscar alternativas que possam fortalecer a cadeia produtiva do leite, com mais
ganhos para todos".
O
deputado Lazinho disse que "o desafio é tentar tornar a cadeia produtiva do
leito menos desigual. O produtor tem muitos desafios, como estradas ruins,
falta de garantias na entrega do produto, vender o leite sem saber o preço,
esperar quase dois meses para receber pela venda, entre tantos outros".
Lazinho
declarou ainda que "não podemos ficar apenas culpando os produtores pela
baixa produção e pela qualidade do leite, como se isso fosse justificativa para
os baixos preços do preço do leite. Chega de jogar essa responsabilidade a quem
trabalha, com estradas ruins, com energia cara, sem apoio técnico, sem
incentivos e com muitos
Também
participaram da audiência os deputados estaduais Luizinho Goebel (PV), Edson
Martins (MDB), Chiquinho da Emater (PSB), Adelino Follador (DEM), Ismael
Crispin (PSB), Dr. Neidson (PMN), Cassia Muleta (Podemos), Eyder Brasil (PSL),
Alex Redano (PRB) e o vice-governador José Jodan (PSL).
O
secretário estadual de Agricultura (Seagri), Evandro Padovani; o presidente da
Agência Idaron, Júlio César Peres; o superintendente do MAPA, Walter
Walterlins; o secretário adjunto da Sefin, Fraco Ono; o superintendente do
Sebrae, Daniel Pereira; o presidente da Fiero, Marcelo Thomé; o presidente da
Faperon, Hélio Dias; a presidente da Fetagro, Alessandra Lunas; o presidente da
Emater, Luciano Brandão; o presidente da OCB, Salatiel Rodrigues; Pedro
Bertelli, representando os laticínios; o presidente da Arom, Claudio Santos; o
superintendente do Basa, Wilson Evaristo, entre outras autoridades,
participaram da solenidade.
O
vice-governador defendeu que a sociedade compre produtos de Rondônia e
conclamou a todos para que defendam a implantação do porto em Guajará-Mirim,
para facilitar a compra de insumos para a nossa produção. "Tudo o que foi
debatido aqui, vou levar ao governador Marcos Rocha (PSL), para o seu conhecimento.
Mas, adianto que esse valor de menos de R$ 1,00 pelo litro de leite, nos
preocupa muito".
Deputados
O deputado Crispin declarou que "fizemos uma audiência pública recente aqui, para tratarmos das agroindústrias. Para mim é preciso valorizar o produtor no campo e abrir mercado. A Seagri tomou uma medida, em conjunto com a Emater e a Sefin, que é a nova minuta da lei do Prove. Também a Susafe será modificada, numa nova lei que será enviada para esta Casa".
Edson Martins disse que sempre foi produtor de leite e reconheceu que o setor sempre atravessa crises, mas que elas estão se tornando cada vez mais frequentes e severas. "Sempre passamos por essas agruras e sabemos o quanto o setor leiteiro oscila, mesmo sendo muito importante para a nossa economia. Também quero registrar a necessidade de se manter as usinas de hidrogênio em Rondônia, fundamentais para promover a melhoria genética do nosso rebanho".
Cirone
Deiró cobrou mais atuação da Emater, com mais assistência técnica ao homem do
campo. "Aqui se falou muito em qualidade, em produtividade. Mas, como o
pequeno produtor vai fazer isso, sem apoio técnico. É preciso investir na
Emater e espero que o vice-governador leve essa mensagem".
O
parlamentar também cobrou melhores condições das estradas e uma forma de
controle sobre o pagamento dos laticínios, garantindo não apenas preços
mínimos, mas também uma espera menor do produtor para receber. "Falamos
tanto em evitar o êxodo rural, mas a produção de leite, tão importante para a
nossa economia, está sendo afetada diretamente", completou.
O
deputado Chiquinho da Emater ressaltou a importância dos produtores rurais para
o desenvolvimento de Rondônia. “Eu sei das dificuldades do campo, sei das suas
lutas. O meu mandato é um mandato do povo e por isto vocês tem meu apoio.
Acredito que só poderemos resolver esse problema através de uma grande
cooperativa. O Governo Federal faz uma política errada e o Estado pode ajudar
com incentivos e a Assembleia também pode ajudar fazendo publicidade,
precisamos tomar o leite do nosso estado”, enfatiza.
Debates
O
secretário Padovani reconheceu que é preciso maior suporte técnico para apoiar
os produtores de leite. Sobre o preço do leite, ele declarou que há uma queda
no Brasil inteiro. "Questão nacional e que precisa ser enfrentada, com a
diminuição da entrada de leite do Uruguai. Para nossos produtores, só tem uma
saída: a organização em cooperativas, que já existem em alguns
municípios".
Ele
defendeu que os produtores possam entregar o leite diretamente aos laticínios,
sem atravessadores. "Temos que sair daqui com os encaminhamentos, não
apenas críticas ou acusações. Deem um voto de confiança ao nosso trabalho e
vamos somar forças, para que possamos superar essa crise no setor leiteiro.
Franco
Ono informou que a Sefin está aberta para analisar os incentivos fiscais
concedidos ao setor e outras ações que afetam a cadeia produtiva do leite.
"Mudanças na legislação tributária não é uma tarefa fácil, mas estamos de
portas abertas para discutir, para orientar e para buscarmos
alternativas", observou.
Segundo
ele, "não podemos fazer intervenção econômica. Não temos instrumento legal
para estabelecer preços. Também quero dizer que determinarei que a nossa equipe
apure as denúncias feitas nesta audiência pelo presidente da Casa, Laerte
Queiroz".
Representado
os laticínios de Rondônia, o proprietário do laticínio Miraella, Pedro
Bertelli, pontuou que as normativas que entrarão em vigor, também abalarão os
laticínios e não somente os produtores. “As dificuldades chegarão para todos
nós. Foi apresentando um vídeo que o produtor demora 5 dias para entregar o
leite, sendo que a norma determina que seja no máximo 48 horas. Desta forma, se
eu receber esse leite e um fiscal chegar, serei penalizado”, expõe.
Pedro
defende a capacitação dos produtores para o aumento da produtividade e
qualidade do produto ofertado. “Eu tenho uma parceria com o Sebrae e temos
dados que compravam que a capacitação dos produtores aumenta sua produção e
reduz o custo de produção”, diz.
A
professora do Ifro de Ariquemes, Fabiana Rocha, salienta que produziu um
doutorado com ênfase nos custos da produção de leite e que os dados
apresentados durante a audiência é uma surpresa. “Estou surpresa com a
informação, pois segundo esses dados, o custo do leite de Rondônia está menor
que o Sudeste. Estou me colocando à disposição para colaborar com qualquer
pesquisa. Estou desenvolvendo projetos em duas propriedades de Cacaulândia e
daqui um ano terei o valor correto do custo de produção para apresentar”, diz
Rocha.
A
presidente da Fetagro, Alessandra Lunas ressaltou que o atual modelo de
desenvolvimento da cadeia produtiva do leite, promove a concentração e “seleção
natural” e que com isso a tendência é que grandes empresas irão dominar a
cadeia e ditar as regras do mercado. “É preciso rever este modelo e dar maior
incentivo para as agroindústrias de pequeno porte que atuam principalmente no
mercado local e regional, estimulando a agregação de valor
Lunas
afirma que entre as ações que precisam ser adotadas estão a efetivação de
programas de fortalecimento da cadeia produtiva do leite proporcionando a
qualificação dos agricultores familiares na atividade leiteira, e fomentando a
eficiência do sistema produtivo, com vista ao aumento da renda e melhoria da
qualidade de vida; maior transparência dos valores de recursos do Fundo do
Proleite, e garantir que o Proleite apoie através de financiamento as unidades
produtivas de matéria prima de acordo com o estabelecido no artigo 12 e 13 da
lei complementar nº 547, de 21/12/2009; preço justo para cobrir os custos de
produção precisa ser ajustado para R$ 1,40 litro, considerando a média nacional
divulgada pelo Cepea para o mês de abril que foi de R$ 1,49 litro; fixar
agendamento para o pagamento do leite a ser efetuado até o dia 05 de cada mês
subsequente.
O
presidente do Sistema OCB/SESCOOP-RO, Salatiel Rodrigues, afirma que a cadeia
produtiva precisa do apoio de todos e espera que essa não seja apenas mais uma
audiência pública realizada sem efeito. “Precisamos abrir licitações para que
as cooperativas possam vender para as escolas e órgãos públicos, colocar um
representante do cooperativismo na junta Comercial, de incentivos para
produção, de desburocratizar as licenças ambientas, reativar a frente
parlamentar do cooperativismo”, pontua.
Salatiel
apresenta ainda quatro eixos para o desenvolvimento de Rondônia: logística das
estradas, pesquisa e tecnologia, industrialização de matéria-prima e
valorização das instituições.
Palestras
O
técnico da Emater, Anderson Kuhl fez uma contextualização da cadeia produtiva
do leite de Rondônia com apresentação do Diagnóstico do Agronegócio do Leite e
Derivados do Estado de Rondônia, produzido pela Seagri em 2015.
“Eu
explico para os produtores que precisamos estar atentos ao cenário da cadeia é
só conseguimos isto através de dados reais. A Emater é responsável não só pela
educação dos produtores, ela é responsável principalmente em garantir uma
assistência técnica de qualidade e que proporcione resultados”, diz Kuhl.
Anderson
destaca que agronegócio leite envolve mais de 38 mil propriedades rurais e que
no contexto da mão de obra familiar, a esposa tem participação significativa na
produção de leite, pois cerca de 64% executam algum tipo de trabalho.
Diante
dos dados Anderson explica que o maior desafio dos produtores de Rondônia é
produzir leite com custo competitivo e de qualidade superior, e que os gargalos
para execução deste desafio é a pastagem degradada, manejo inadequado e baixa
gestão. “A Emater está de portas abertas para desenvolver o produtor e
trabalhar na gestão, alimentação e sanidade com comprometido e envolvimento
entre o técnico e o envolvimento da família”, conclui.
A
pesquisadora da Embrapa, Juliana Alves Dias, falou a respeito da qualidade do
leite em Rondônia e apontou que é necessário garantir que as normas e
parâmetros estabelecidos, sejam cumpridos para garantir a qualidade no leite
que chega na casa dos rondonienses. “Trabalhamos no desenvolvimento de práticas
que favoreçam a melhoria do produto final. Neste caso, o leite e derivados que
chegam à mesa do consumidor”, diz.
Juliana
ressalta ainda que a qualidade do leite é definida por parâmetros como a
contagem bacteriana do leite, que indica a higiene do processo de ordenha, as
condições de resfriamento e armazenamento, e a contagem de células somáticas,
que reflete a condição da sanidade da glândula mamária.
“Em
um estudo realizado na microrregião de Ji-Paraná, foi possível observar uma
alta contagem de bactérias, na região central da bacia leiteira, indicando que
esta área deve ser priorizada em ações para melhoria da qualidade do leite”,
concluiu a pesquisadora ao afirmar que a conscientização sobre boas práticas de
ordenha exige esforço das instituições de assistência técnica, de pesquisa e
das universidades.
Segundo
dados do Estudo Econômico do ICMS na cadeia produtiva do leite em Rondônia de
2015 a 2018, apresentados pelo auditor fiscal da Sefin, Renan de Paula Neves, o
setor de laticínios foi responsável por 2,9% da arrecadação total de ICMS (R$
107.086.096,58) em 2018. E a renúncia fiscal do setor (11,9%) está acima da
média (11,1%).
Renan
destaca ainda que a cadeia produtiva de leite, incluindo produtores e
laticínios, tem sofrido uma crise, com reflexo na arrecadação de ICMS (-6,0% em
2018). Enquanto a quantidade oferta de leite in natura caiu -7,5%, o preço do
produto subiu 21,8%, o rebanho bovino leiteiro também caiu (-7,8%) e a margem
bruta de valor agregado do setor caiu -13,8% em 2018.
O
professor e coordenador do Conseleite, José Roberto Canziani, apresentou dados
de custo de produção do leite, volume de vendas, preços praticados e apontou
que Rondônia saiu da tendência normal de mercado. “Enquanto o restante do país
pratica preços em ascendências, Rondônia só cai”, aponta.
Ainda
segundo Canziani, nos últimos 10 anos, a produção de leite caiu em Rondônia,
enquanto no restante do Brasil vai crescendo. “E m 2018, a produção teve queda
de 6% em relação a 2017 e isso acirrou a busca pela matéria prima. Muito
laticínios fecharam suas portas e por isto precisávamos buscar políticas
públicas para alavancar a cadeia do leite que hoje é considerada o patinho feio
do agronegócio”, concluiu.
O
superintendente do Sebrae Daniel Pereira fez uma breve palestra, abordando
sobre o mercado e os desafios da cadeia do leite. "Confesso uma pequena
decepção: entre 1999 e 2000, como deputado estadual, fiz uma audiência pública
semelhante. E, com exceção das mudanças físicas que o tempo nos faz, pouca
coisa mudou desde àquela época. Ou seja, os desafios de antes e de agora, são
semelhantes e nos perseguem há muito tempo".
Segundo
ele, "todo o sistema que envolve a cadeia do leite está com problema. E o
desafio dos deputados, do Governo e das instituições é muito grande. Coloco o
Sebrae à disposição para contribuir com essa discussão".
Marcelo
Luiz Trento, representando os produtores de leite, informou que o preço do
leite está custando para o produtor em média R$ 1,06.
"Foi
mostrado aqui que a produção de leite vem caindo ano após ano. Isso se deve aos
seguidos prejuízos que os produtores vêm enfrentando. Há dois meses, o valor do
litro de leite caiu quase R$ 0,40. E decidi mobilizar amigos nas redes sociais,
expressando a nossa indignação e criando o SOS leite: balde cheio e bolso
vazio. Queremos um valor mínimo de R$ 1,40 por litro", acrescentou.
Segundo
ele, "para a gente investir, cumprir as normas e encarar um financiamento
bancário, é preciso ter lucros. Os laticínios fazem que não têm como pagar um
valor maior pelo litro de leite ao produtor. Mas, nos mercados, o leite em
caixa está quase em R$ 4,00 o litro. Precisamos saber aonde está o problema,
pois o mercado pode entrar em colapso e afetar a todos".
Trento
apresentou ainda a necessidade de um contrato de fornecimento, do produtor ao
laticínio, como forma de proteger o fornecedor e o cumprimento da lei federal
12.669, de 2012, que obriga a empresa a informar, até o dia 25 do mês anterior
à entrega.
Ele
também mostrou a pauta de pagamento, até o 5º dia útil de cada mês. "Hoje,
levamos 55 dias para receber o pagamento, que nem sabemos o quanto vai ser.
Garantimos com isso o capital de giro dos laticínios, mas quem garante o nosso
capital de giro?", questionou.
Ao
final, ele mostrou um vídeo, onde um produtor de leite está com sua moto e a
pequena carretinha atoladas. "Com estradas nessas condições, em sua
maioria, causando mais prejuízos ainda, como o produtor vai garantir a
qualidade do produto? Tem lugares que o caminhão demora cinco dias para pegar o
leite, por falta de estradas. Tem muita coisa que precisa mudar".
O
produtor de leite de Cacoal, Juan de Souza, que atua desde 2009 na atividade,
começando com produção média de 50 litros ao dia e hoje chegando a mais de mil
litros ao dia, com irrigação, manejo de pastagens e outras medidas. "Em
2012, iniciei com piquetes irrigados, ainda sem muitas informações e não deu
muito certo. Em 2015, fiz um novo projeto e consegui bons resultados. Nosso
custo de produção é em torno de R$ 1,00 o litro hoje e a nossa propriedade está
aberta para visitações". Juan trabalha com a raça girolando e aproveita
70% do leite para produzir iogurte.
Produtores
O
produtor José Nilton, o Paraíba, de Espigão do Oeste disse que se não for feito
nada, o setor vai entrar em um caos. "Hoje, estão levando para abate no
frigorífico vacas leiteiras. Uma saída seriam as agroindústrias, que hoje lá em
Espigão do Oeste pagam preços melhores. Os produtores estão abandonando a
produção de leite e isso afeta os pequenos e médios laticínios e vai afetar a
todos".
Ele
defendeu ainda a criação de uma CPI do Leite, na Assembleia Legislativa e o
apoio para a formação de cooperativas de produtores, como forma de enfrentar o
mercado.
O
ex-deputado federal Carlos Magno, que é produtor de leite em Ouro Preto do
Oeste também fez denúncia. "Desde pequeno, no interior de Minas Gerais, já
produzíamos leite. Entrei e sai da política, produzindo leite. Como deputado
federal, tentamos uma saída para esse protecionismo da comercialização do
leite, através do Mercosul, com o Uruguai mandando muito leite para o Brasil. Cheguei
à conclusão de que, quem ganha dinheiro com o leite é quem não produz um litro.
São os atravessadores quem ganham e isso precisa mudar." Ele sugeriu ainda
a concessão de incentivos fiscais às agroindústrias que trabalham com o setor
leiteiro.
O
produtor Jonias Alves, da localidade de Marco Azul, em Alto Paraíso, alertou
que, em mais cinco anos, há a possibilidade de as matrizes leiteiras se
acabarem. "Os produtores não conseguem se manter e estão abandonando a
produção. No mercado, não tem mais nada a um custo de centavos. Mas, o litro de
leite é vendido a menos de R$ 1,00. Isso está errado e não pode
continuar".
Wesley
Santos, produtor de Machadinho do Oeste, fez uma observação importante: "o
campo está envelhecendo. Os jovens não querem mais trabalhar com o leite. Quem
não acha amparo financeiro, vai para as cidades e fica vulnerável à
criminalidade. Isso precisa ser encarado pelas autoridades. E aos donos de
laticínios: não matem a galinha de ovos. Tirem a corda do pescoço dos
produtores, não dá para aguentar mais".
O
produtor Geraldo Baiano, de Nova Mamoré, apresentou um vídeo que mostra os
investimentos que fez em sua propriedade e a falta de retorno, com os baixos
preços pagos pelo litro de leite. "Gastei com tanques de resfriamento,
comprei até um gerado a diesel que a nossa energia é ruim, mas o preço do leite
não para de cair. Faço isso tudo para vender o leite a R$ 0,90? Não podemos
continuar desse jeito. Eu tenho financiamento para pagar, como a maioria dos
produtores, como vamos pagar?", relatou.
O
também produtor Kenisson Vauz, de Teixeirópolis, fez uma série de
questionamentos. "Uma agroindústria ainda pode tirar um lucro maior. Mas,
e quem produz o leite e fornece, como acontece? A gente vende e não sabe quanto
vai receber, sem ter como se planejar com as suas despesas. O preço tem que ser
divulgado. Todo mundo que trabalha, sabe o valor que vai ganhar no final do
mês. A gente não sabe".
Indignado
com os preços do leite, Manoel Cuiabano, de Buritis, disse que o movimento 'SOS
leite, balde cheio e bolso vazio' está mobilizado. "Pagamos R$ 2,00 numa
garrafinha de água e vendemos um litro de leite por menos de R$ 1,00. Vamos nos
manifestar na Rondônia Rural Show, se não fizerem nada por nós. Estou chateado
e vamos diminuir a produção de leite, para ver o que acontece".
O
produtor Oseas Alves, de Buritis, fez uma declaração curiosa: "estamos
pagando para dormir cansado. Vendo um litro de leite e não dá para pagar um
picolé. Precisamos sustentar a nossa família com dignidade no campo, mas isso
não é possível com esse preço tão baixo do leite. Nesse mês, recebi o valor de
R$ 0,90 o litro. Isso é um desrespeito com quem trabalha de sol a sol, desde a
madrugada".
Representando
os produtores de União Bandeirantes, Cido da F, fez uso da palavra para
agradecer a participação massiva dos deputados na audiência. “Se não formos
ouvidos, temos um outro caminho a seguir, vamos fechar a BR-364. Os deputados
não têm culpa e estão fazendo a parte deles. Temos uma casa de Leis que está do
nosso lado, agradeço o respeito pelos trabalhadores rurais. Aproveito para
pedir que os bancos deem uma carência de três anos para os produtores, para
quem sabe dessa forma consigamos melhorar as nossas condições”, ressalta.
Ao
final da audiência pública, o deputado Lazinho da Fetagro afirmou que a
“quebradeira” dos laticínios de Rondônia está sendo provocados pela forma
grandiosa que a Italac atua. “O tratamento dado às grandes empresas no Brasil é
diferente do tratamento dado ao setor primário. Eles, os grandes, têm leis e incentivos.
Precisamos mudar este cenário. As propostas colocadas aqui, foram claras e não
vejo de que forma a cadeia produtiva de leite pode se manter da forma que está.
Ou a gente muda o setor, ou o setor muda a gente, na verdade acaba com a
gente”, observou.
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