Sábado, 24 de outubro de 2015 - 11h05
Pelo menos 11 dos 24 deputados estaduais participaram da Caravana da Esperança, organizada pelo procurador do Ministério Público Federal (MPF), Reginaldo Trindade, que visitou a aldeia Roosevelt, na Terra Indígena Cinta Larga, em Espigão do Oeste.
O presidente da Assembleia Legislativa, Maurão de Carvalho (PP), estava acompanhado dos deputados estaduais Lúcia Tereza (PP), Só na Bença (PMDB), Glaucione Rodrigues (PSDC), Dr. Neidson (PTdoB), Airton Gurgacz (PDT), Hermínio Coelho (PSD), Marcelino Tenório (PRP), Adelino Follador (DEM), Edson Martins (PMDB) e Alex Redano (SD).
“A vontade, a paixão que o procurador Reginaldo tem pela causa Cinta Larga nos motivou a vir aqui. A Assembleia está de portas abertas para todos e o que estiver ao nosso alcance, vamos fazer para contribuir com a melhoria das condições de vida dessa comunidade indígena”, destacou Maurão.
Ex-prefeita de Espigão do Oeste por três mandatos, Lúcia Tereza foi recebida com muito respeito por parte dos Cinta Larga. “É um dia histórico, onde conseguimos reunir diversas autoridades, que se comprometem em lutar por benefícios para os nossos irmãos Cinta Larga. Esse movimento tenho certeza procurador Reginaldo, não será em vão”, relatou emocionada.
O governador Confúcio Moura (PMDB), o vice-governador, Daniel Pereira (PSB), os senadores Valdir Raupp (PMDB) e Acir Gurgacz (PDT), os deputados federais Luiz Claudio (PR), Lindomar Garçom (PMDB) e Marinha Raupp (PMDB), entre outras autoridades, também participaram da caravana.
Cacique pede fim do preconceito
Logo na abertura da solenidade, na oca de palha na aldeia Roosevelt, o cacique Maurício Cinta Larga pediu apoio às autoridades e o fim do preconceito e da discriminação dos indígenas. Falando em tupi-mondé, sua língua mãe, e também em português, ele mandou um recado direto:
“Somos seres humanos! Não somos bravos nem agressivos. Não somos bandidos, não somos assassinos, não somos ladrões e muito menos ricos. Essa é uma idéia errada de nosso povo, que luta para sobreviver com dignidade e manter as nossas tradições”, desabafou.
Maurício fez um apelo para que a mídia, que na visão dele já ajudou a construir a imagem errada e negativa, possa agora contribuir para que a informação correta chegue até as pessoas.
“Que as autoridades vejam a nossa realidade e saibam que aqui não temos uma vida fácil, que precisamos de apoio urgente. Na saúde mesmo, se não fosse a ação do MPF, muitos de nós já teríamos morrido”, completou.
O cacique disse ainda que, a exemplo do chamado “Massacre do Paralelo 11”, ocorrido na década de 1960, quando dos cinco mil índios restaram pouco mais de 400 vivos, hoje o descaso está massacrando seu povo.
“Setores do Governo nos querem exterminar. Alguns políticos irresponsáveis querem nos massacrar. Mas, estamos armados, com a lei e a justiça, para assegurarmos nossos direitos, conquistados com muita luta”, acrescentou.
A Terra Indígena Cinta Larga tem uma área total de 2,7 milhões de hectares, onde moram cerca de 2.500 indígenas. Na aldeia Roosevelt, porta de entrada para a reserva, residem em torno de 330 pessoas, em sua maioria crianças e jovens.
“Além da falta de apoio na educação, na saúde e em outros setores, outro grande desafio é mantermos a nossa reserva com as dimensões originais. Por outro lado, é preciso regulamentar o garimpo de diamantes em nossas terras, para trazer os benefícios para todos, de forma legalizada”, pontuou.
Situação é sombria
Reginaldo Trindade acompanha de perto a questão dos Cinta Larga há 11 anos, quando ocorreu um conflito entre os índios e garimpeiros pelos diamantes da reserva.
“A situação hoje é ainda mais sombria do que naquele fatídico abril de 2004. Temos adolescentes casando com garimpeiros, senhoras de 60 anos se casando com garimpeiros. E o pior: uma crescente ameaça de confronto entre os indígenas, já que a ganância do homem pela riqueza tem se instalado com toda a força”, relatou.
Para ele, os Cinta Larga estão à beira da extinção. “Há drogas, bebidas alcoólicas e armas de fogo na área da reserva. Infelizmente, algumas lideranças estão envolvidas com o maldito garimpo. Mas, o Cinta Larga é vítima desse chamado ‘processo civilizatório’. Ajudem esse povo que não desiste nunca, que não se entrega e estão armados de esperança”.
Ao final, ele defendeu a regulamentação do garimpo na reserva Cinta Larga. “Vamos apresentar uma proposta aos senadores, de uma regulamentação excepcional para a extração dos diamantes na reserva. Queremos uma reunião com os Ministérios de Minas e Energia e do Meio Ambiente e a Casa Civil, para apresentar e discutir a proposta”, informou.
Fonte: Eranildo Costa Luna
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