Terça-feira, 12 de setembro de 2006 - 12h39
"A democracia em Rondônia ainda não está desenvolvida"
A candidata ao governo do estado, Fátima Cleide Rodrigues da Silva (PT), é uma das principais vozes da oposição nas eleições em Rondônia. A atual senadora, recordista em votos no seu estado, lidera o grande balaio do segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto (14%)*, com os demais candidatos logo atrás. Numa disputa nada acirrada, o seu oponente, o atual governador Ivo Cassol (PPS), aparece na dianteira com 56%* da preferência do eleitorado. Segundo ela, isso se deve a uma estratégia de compra de votos e uso da máquina pública, no contexto de uma democracia pouco fortalecida. Sobre os escândalos de corrupção em Rondônia, garante que a sujeira é ainda maior: "Não me surpreende. O que me surpreende na verdade é que nem tudo tenha sido revelado ainda", afirma categórica.
Professora de carreira no ensino público, Fátima tornou-se militante nos movimentos sindicais. Foi secretária-geral do Sindicato dos Trabalhadores em Educação (Sintero) e Secretária Geral da Central Única dos Trabalhadores (CUT) de Rondônia. Voltada para as questões ambientais, coordenou um programa de educação ambiental na Secretaria Estadual de Educação e afirma ter "uma relação emocional" com os rios do seu estado. Contudo, sua defesa ardorosa do projeto hidrelétrico de Furnas para o Rio Madeira a colocou em xeque com os movimentos ambientalistas na Amazônia.
Em entrevista exclusiva ao Amazonia.org.br, a candidata falou sobre as hidrelétricas do Madeira, corrupção, seus planos para o controle do desmatamento e para o desenvolvimento do estado.
(* Pesquisa ISTOÈ/DATABRAIN realizada entre 2 e 4 de setembro)
Como começou a sua trajetória política e sua relação com os movimentos ambientais e sindicais em Rondônia?
A minha atuação começou por uma necessidade mesmo; de sobrevivência, em defesa do serviço publico, dos trabalhadores da educação. Eu era professora e em 1984 aqui em Rondônia a gente se organizava em associação de professores. Naquela época eu já tinha dois filhos, então era muito difícil. E daí foi um salto, logo em seguida veio também essa conscientização ambiental porque naquela época a gente vivia ainda o impacto negativo dos programas do governo federal para o desenvolvimento e colonização do estado. Fui estudar, fui militar na educação ambiental.
Que impactos são esses? Eles estão superados?
Hoje nós temos instrumentos que visam a superação. Tivemos um grande problema com a colonização do estado. O programa não deu conta de resolver os problemas para os quais ele foi criado, que era resolver as pressões de reforma agrária no resto do país. Veio então uma pressão populacional muito forte de fora pra dentro do estado. Hoje nós temos o Zoneamento Ecológico Econômico [ZEE] de Rondônia que nunca virou lei. Mas de 2003 pra cá nós conseguimos um acordo, que saiu agora este ano, em que o MMA e o estado legitimam o zoneamento, já que a cobertura de reserva legal em Rondônia é praticamente zero. Na Amazônia você não pode desmatar alem de 20% e nessa região da zona agrícola em Rondônia, toda área da cobertura florestal já foi embora, sendo que a área para preservação teria que ser 80%. A recomposição nessa zona agrícola vai se dar em 50%. Eu acredito que esse é um grande instrumento para promover o desenvolvimento do estado em outro padrão, inclusive mudando a lógica que hoje domina que é da terra arrasada. Já estamos tendo desertificação, seca como nunca antes, rios que desapareceram, isso já começa a preocupar as pessoas.
Como foi a sua atuação como senadora quando o assunto era Amazônia?
Eu votei favorável à Lei de Gestão de Florestas Públicas e trabalhei para que ela fosse aprovada. Ou a gente cria um marco legal para preservar o que tem hoje, manejar esse recurso, porque as pessoas precisam do recurso para a sobrevivência, ou não tem jeito. Então, colocar o manejo como um instrumento e colocar responsabilidade para quem trabalha na área é o que de melhor a gente poderia fazer na lei de gestão. Eu tenho trabalhado muito mais calada, mas articulando bastante. Acho que aí há um marco para um novo modelo de desenvolvimento.
Segundo um estudo do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) o desmatamento em áreas protegidas no seu estado é superior à média total da Amazônia. Como combater o desmatamento?
Principalmente fortalecendo a secretaria de desenvolvimento ambiental, coisa que hoje não existe. O abandono é geral pra todas as áreas das políticas públicas sociais no estado. Mas fortalecer a secretaria como um instrumento, trabalhando em parceria com o Ibama. O Estado deve se responsabilizar de fato pelas nossas unidades de conservação.
Nós temos até Resex [reserva extrativista] que foram sendo ocupadas por pessoas que não tem nenhuma relação com extrativismo da forma como nós concebemos anteriormente. Tem que fazer um programa de educação ambiental com as comunidades que estão nas reservas, buscar implementar outros modelos de exploração dessas áreas e mostrando principalmente a possibilidade de geração de renda, porque sem isso não vai resolver. O nosso compromisso é governar no sentido de cumprir a lei e estruturar as instituições do setor ambiental, tanto a secretaria como a própria policia ambiental.
A senhora vem defendendo com muita convicção o polêmico projeto das hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau no Rio madeira. Quais benefícios esse projeto pode trazer?
O complexo de Jirau e Santo Antônio hoje já é uma realidade. A minha grande preocupação é que o discurso do emprego faça uma nova migração para o estado e o estado não estar apto para receber mais uma vez todo o pressão do sul do pais que vai chegar aqui e não vai encontrar emprego. Uma vez que o projeto já é inevitável, nós queremos discutir os impactos tanto do ponto de vista ambiental quanto social. E melhor momento para fazer isso é agora, com um governo federal que busca a sociedade, que dialoga. Não adianta a gente ficar se contrapondo apenas. Então nós estamos organizando a sociedade para que possa pensar a respeito. Eu acredito que pode trazer desenvolvimento não apenas para a Amazônia, mas quem precisa disso é o Brasil. Há também a possibilidade de mover de fato a industrialização dos nossos produtos porque sem a energia de qualidade, a gente não tem como desenvolver. Queremos evitar o desperdício de todos os produtos que são a riqueza do estado, mas ainda hoje o estado se posiciona como colônia de exploração. Somos um corredor de matéria-prima em pleno século XXI.
Por que a senhora acha que há tanta oposição por parte dos movimentos ambientalistas?
Eu estou um tanto quanto afastada nesse momento. Eu acredito que as oposições se colocam muito mais do ponto de vista do sonho. O rio Madeira pra mim é berço da minha família, tenho uma relação emocional com esse rio, como com o rio Jamari. Sofri muito quando foi construída ali a usina de Samuel. Mas a gente não pode simplesmente ficar olhando esse potencial que a gente tem aqui, quando o Brasil está precisando dessa energia. Eu sou contrária à energia atômica, por exemplo. Hoje o projeto do rio Madeira, entre todos os projetos que estão colocados, é menos agressor. Ao mesmo tempo eu sou também defensora de pequenas centrais hidrelétricas, entre outras formas.
E grandes hidrelétricas como as do rio Madeira são coerentes com o "novo modelo de desenvolvimento para a Amazônia"?
Sim porque como eu te falei elas não têm o mesmo impacto. Como o modelo que está sendo proposto é um modelo que agride menos, uma nova tecnologia, o lago será muito menor e também tem uma outra coisa que nós batalhamos e conseguimos que foi reduzir o tamanho dessas unidades. Mas eu sou contra, por exemplo, que dentro do complexo esteja a construção da hidrovia em direção à Bolívia.
A dimensão do esquema de corrupção montado no seu estado, e revelado pela Polícia Federal, lhe surpreendeu?
(risos) Não me surpreende, nem um pouco. Estou denunciando isso há muito tempo. Inclusive na justiça. Nós tivemos várias denúncias arquivadas. Eu usei a tribuna do senado pra dizer muitas vezes que a corrupção em Rondônia estava completamente espalhada, enraizada. A nossa democracia aqui ainda não está bem desenvolvida. E nem tudo foi revelado ainda.
Teme-se que com os escândalos de corrupção no congresso nacional, os brasileiros se sintam desmotivados a votar de forma consciente e criteriosa nessas eleições. A senhora acha que o mesmo pode acontecer com os rondonienses?
Aqui com um impacto maior, afinal de contas são 23 deputados estaduais que estão aí correndo pra serem reeleitos porque se não forem, serão presos. Mas a gente está trabalhando, dizendo pras pessoas que é pior não participar, porque tem muita gente que está correndo o risco de ser preso e aí o desespero pela reeleição é muito grande. Quem guardou dinheiro tem dinheiro, então a gente teme que haja uma enxurrada de compra de voto. Ela se dá de maneira bem interessante, como abertura de concursos públicos, contratações temporárias para a área do sistema prisional, para o departamento de Trânsito...
É por isso que Ivo Cassol está na liderança das pesquisas de intenção de voto?
Com certeza. É muito forte o uso da máquina pública.
Fonte: www.amazonia.org.br (Carolina Derivi)
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