Terça-feira, 4 de setembro de 2007 - 08h07
Eusébio de Queiroz
(o dia de hoje)
Sem dúvida, sempre houve abolicionistas. Mas durante, pelo menos, três séculos, eles não passaram de expressões isoladas, representando opiniões isoladas e individuais, como a do Padre Vieira, e nunca a de alguma classe, camada ou mesmo grupo de homens. A própria Maçonaria, que esteve ligada a tantos movimentos revolucionários em nossa história, somente considerou seriamente o problema da escravidão nos últimos anos do Império, quando a abolição já deixara de ser uma simples aspiração e passara a ser um imperativo econômico e social.
Quilombos
A luta contra a escravidão foi, durante três séculos, uma luta na qual os negros tiveram de lutar sozinhos não só contra os seus senhores, mas também contra a indiferença e mesmo cumplicidade dos brancos não-senhores e dos mulatos forros. Os negros tinham contra si toda uma sociedade organizada para o fim específico de explorá-los e impedir-lhes a fuga.
Organizando-se em quilombos, promovendo insurreições, fugindo, suicidando-se, o negro buscava a liberdade e, secundariamente, a preservação da sua cultura. É extensa e marcada por muita violência a história da resistência dos negros e de sua luta contra a escravidão.
A escrava Isaura
A literatura, que é sempre reflexo de um povo, mesmo quando ela não se ocupa do povo e de uma época é, para o nosso caso, sintomática. Se excetuarmos Castro Alves e Bernardo Guimarães (A Escrava Isaura), pouco, ou quase nada, resta na nossa literatura de ficção da época, a favor do escravo. Macedo, como a maioria dos escritores do seu tempo, incluindo Machado de Assis, é completamente indiferente à escravidão e José de Alencar é escravocrata.
Luta por liberdade
Só muitos anos após a extinção do tráfico negreiro (Lei Eusébio de Queiroz, de 1850), mais ou menos pelo fim da Guerra do Paraguai, na qual os escravos lutaram em troca de sua liberdade, que esse ambiente de indiferença pela sorte do escravo começou a mudar a ponto de, a partir de 1880, se formar uma corrente de opinião apaixonada e avassaladora.
- Hoje é o dia dedicado à lembrança da Lei Eusébio de Queiroz.
O ético da Silva
Autoproclamado o cidadão brasileiro "mais ético" entre todos os cidadãos brasileiros, o presidente Luiz Inácio da Silva perdeu uma excelente oportunidade de participar do mais importante debate sobre ética ocorrido no Brasil nos últimos tempos. No momento em que o Supremo Tribunal Federal começava a decidir sobre o processo criminal do "núcleo político" na denúncia dos 40 acusados do mensalão, Inácio da Silva exaltava as qualidades do caju a poucos quilômetros da Praça dos Três Poderes, onde o Judiciário assentava novas balizas para o tratamento de casos de usufruto particular do patrimônio público
Pela tangente
Dois dias depois, quando comentou a decisão do STF, o presidente optou por sair pela tangente. Invocou os 61% de votos na reeleição pondo-se em julgamento, quando, formalmente, o assunto não o incluía para firmar contraponto com a sentença das urnas e tergiversou: "O julgamento do Supremo aconteceu dentro do que se espera de um país democrático com instituições sólidas. Até agora, ninguém foi inocentado, ninguém foi culpado."
Indiferença
Manteve-se dentro do óbvio, para simular majestade e indiferença quando o momento pedia assertividade. Talvez não para condenar os companheiros de partido e auxiliares de governo, mas pelo menos para não se abster de compartilhar com o país que governa uma abordagem mais elaborada sobre uma decisão tão significativa no tocante à reforma dos costumes na política.
Efeito contrário
Ao tentar ignorar a discussão, o presidente se viu obrigado a ignorar também suas conseqüências para a sociedade. Abriu mão da prerrogativa de debatedor eloqüente e obteve efeito contrário ao pretendido, passando recibo do extremo desconforto provocado pela decisão do Supremo Tribunal Federal. Essa indiferença em público não se reproduziu em conversas que Luiz da Silva teve no Palácio do Planalto na segunda-feira passada com um conselheiro de fé, um orientador das horas difíceis.
Desfecho negativo
Naquela altura, dois dias antes da sentença final, o presidente já ouvia de especialista em questões jurídicas de sua extrema confiança que o desfecho seria o mais desfavorável possível. Ouvia também que a repercussão seria muito negativa para o governo e recebia conselhos sobre como agir: não fugir do tema e aproveitar a chance para lembrar que seis dos dez ministros do Supremo haviam sido indicados por ele, bem como o procurador-geral, reconduzido ao cargo, mesmo depois de ter apresentado a denúncia porque Antônio Fernando de Souza era o preferido do Ministério Público.
Exemplo FHC
Neste ponto, o conselheiro lembrou que, se quisesse, poderia até recordar que o antecessor, Fernando Henrique Cardoso, indicou quatro vezes um procurador-geral Geraldo Brindeiro que sequer constava nas listas de preferências dos procuradores. Na conversa, o interlocutor comentou com o presidente: "O senhor acredita que Fernando Henrique teria reconduzido um procurador que tivesse apresentado denúncia contra algum ministro importante do governo dele?"
Chance perdida
Lula poderia, além disso, ter dito que todos os ministros, assessores e ocupantes de cargos de diretoria envolvidos já estavam fora do governo. Mas não falou nada disso, deixou passar a oportunidade, como também abriu mão da chance de tomar a frente da discussão pela recuperação da correção de procedimentos como valor essencial no exercício da política.
Fiador da ética?
Ao invés disso, perdeu-se em meandros, titubeios e rodeios que não o credenciam à condição, por ele mesmo reivindicada, de abalizado fiador da ética nacional. Com isso, o presidente conferiu feição de tabu ao que já foi um dístico exibido em estandarte no abre-alas erguido pela nação petista quando pedia passagem rumo ao poder. Evitar o assunto, como faz o presidente e como tentam fazer os participantes do 3.º Congresso do PT, não resolve. Ao contrário: significa que o partido depõe as armas e voluntariamente desce de patamar.
Cru e quente
Os advogados dos políticos processados pelo Supremo cobram celeridade no trâmite das ações, querem que seus clientes sejam julgados logo. Aparentemente, associam-se à demanda da sociedade. Só aparentemente, porém. Na verdade, para eles o ideal seria um julgamento já, sem provas, com base apenas em indícios, abrindo avenida larga para absolvição por falta de provas, como ocorreu com Fernando Collor menos de dois anos depois de aberto o processo de impeachment, seguido de renúncia à Presidência.
Morosidade
As cobranças por rapidez são pertinentes, mas uma coisa é morosidade fruto de burocracia e procrastinação; outra bem diferente é a necessidade de uma instrução correta e substancial do processo a fim de permitir um desfecho o mais justo possível.
O atropelo nos ritos presta serviço a uma das partes, a dos acusados. Ademais, se, como previsto, o processo levar três anos para ser posto em julgamento, ainda assim será menor esse tempo que o período de convivência com as descomposturas da política em geral e da organização ora processada, em particular.
Para estudantes de Comunicação
Conheço alguns modos de enriquecer o vocabulário. No entanto, o mais eficiente é o que se fundamenta na experiência, na prática cotidiana - ou seja, em situações do dia-a-dia, em conversas, em leituras, e à ocasião da produção de textos diversificados.
Diante da leitura dos jornais, ou, das revistas, é comum encontrarmos uma palavra nova, de significado desconhecido. Eu, geralmente, confiro se o autor da reportagem ou coluna explica, dá uma deixa
Enrascada
Seções especializadas costumam deixar o leitor numa enrascada. Ninguém é obrigado a saber o significado de todas das palavras. Por isso adequá-las ao tipo de leitor é importante e respeitoso.
É, sem dúvida, a oralidade que ajuda a formar grande parte do nosso repertório de palavras do léxico ativo. Entretanto, raramente o falante procura o dicionário para ver se aquela expressão é dicionarizada - e quando toma essa atitude é para conferir se usou a expressão no sentido que lhe parecia adequado. Dificilmente as pessoas vão ao dicionário em busca de palavras novas. Algumas alegam preguiça - e você, costuma ficar longe do "pai dos sabidos" - o meu conhecido amansa-burro - ?
Curiosidade
Uma das mais pródigas ocasiões de enriquecimento vocabular ocorre durante a leitura de obras recomendadas ou escolhidas sob a curiosidade temática de um leitor. Nessas situações as palavras desconhecidas exigem que se busque o significado, a acepção mais coerente e ajustada - e desse modo o leitor não só aprende, mas apreende o significado da palavra.
Dicas
1ª - Quando ouvir uma palavra, e não souber o significado, pergunte. Esta é uma forma eficaz de aprender o sentido de uma expressão.
2ª - Um estudante, especialmente, um vestibulando, deve fazer seus estudos diários com um dicionário bem diante dos seus olhos; se mantiver distância desse apoio estará, certamente, empobrecendo o seu léxico ativo.
3ª - Ao escrever, ou ao falar, diversifique as expressões, evite as repetições, e coloque as palavras novas, aprendidas nas conversas ou nas leituras.
4ª - Compare a prática usual para dominar o vocabulário de língua estrangeira; é preciso dominar, primeiramente, o significado das palavras, para poder utilizá-las. Na língua portuguesa é a mesma situação - a regra é a mesma.
5ª - A humildade, aliada à boa-vontade, é a melhor dica para se aprender a escrever (e falar).
Para refletir
"O brasileiro, ao mesmo tempo em que fica indignado com o mensalão, pensa, intimamente, o que faria se arrumasse uma boquinha dessas, quando na realidade isso sequer deveria passar por sua cabeça." - Arnaldo Jabor
Fonte: roquevha@hotmail.com
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