Domingo, 3 de maio de 2020 - 10h39
O
Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) divulgou recentemente que está construindo
seu Plano de Governo para o Município de Porto Velho. Trata-se de uma exigência
legal a ser cumprida junto à Justiça Eleitoral no momento de registrar candidaturas.
Foi o primeiro partido a tornar público que está desenvolvendo esse trabalho e
com um diferencial: está convidando a população a participar.
Por
outro lado, diversos partidos vêm anunciando o que têm chamado de
pré-candidaturas, mas se limitam a apontar nomes, uns mais expressivos, outros
menos, que seriam lançados na disputa do cargo de prefeito. Quanto a dispor de
um plano de governo, só o PTB se manifestou até o momento. Embora não tenha
lançado nenhum pré-candidato.
Entrevistamos
o encarregado da elaboração do plano de governo do PTB para o Município de
Porto Velho, Leonel Bertolin, que foi designado para essa função pelo
presidente municipal do partido, vereador Aleks Palitot. Ele nos fala sobre
quando, como e por que os trabalhistas decidiram pela elaboração desse planejamento.
Edson Lustosa – Qual o
objetivo do seu partido, o PTB, com a construção de um plano de governo para
Porto Velho neste momento, em que ainda estão discutidas eventuais
candidaturas?
Leonel
Bertolin – É fazer o melhor. Um planejamento sério não pode ser construído no
calor das campanhas eleitorais, pois o objetivo é atender de verdade às
necessidades de nosso município e não ser um instrumento de campanha. E eu tive
a honra de ser designado pelo presidente Aleks Palitot para conduzir esse
trabalho. Como é do meu costume fazer, sempre que assumo uma tarefa,
prontamente arregacei as mangas e comecei a interagir com a população por meio
da internet, já que estamos neste período de isolamento social. E esse diálogo
tem sido bastante produtivo.
Como é que está sendo
feita essa interação?
Tanto
pelo meu e-mail, leonelbertolinptb@gmail.com,
como também pelo preenchimento de um formulário eletrônico, que pode ser
solicitado também por esse e-mail. Não é nada complexo. É feita apenas uma
perguntinha bem simples: “o que você acha imprescindível constar no plano de
governo?” Todo cidadão é convidado a participar, independentemente de ser
filiado a algum partido ou de ter uma escolaridade que lhe permita fazer
propostas detalhadas tecnicamente. O que nós queremos neste momento é que o
povo nos diga, de forma objetiva e simples, quais os problemas que ele mais
espera que a Administração Municipal venha a resolver.
O presidente de seu
partido chegou a lhe dizer por que escolheu o senhor para essa função?
Sim,
isso fez parte do nosso diálogo. O que ele me disse foi que observou no meu
perfil a experiência que eu tenho em gerenciar equipes de trabalho, pelos
cargos públicos que eu já exerci. Disse que observou também o conhecimento que
eu tenho da realidade do Município de Porto Velho, todo ele, de Nova
Califórnia, na Ponta do Abunã, a Demarcação, no rio Machado. E de Jaci-Paraná a
Marco Azul. E observou minha formação jurídica, que me dá condições de
organizar as ideias que forem entrar no Plano de Governo de forma que elas não
entrem em conflito com as normas orçamentárias, com os preceitos constitucionais
e com a lei em geral.
Que metodologia o
senhor adota para que as sugestões apresentadas pela população sejam
efetivamente aproveitadas?
Nosso
primeiro passo foi identificar alguns eixos em que pudéssemos agrupar as
propostas. E então chegamos a três eixos: a dinamização da economia, para que a
Administração Municipal tenha melhores condições orçamentárias e financeiras
para trabalhar pelo povo; a elevação da qualidade de vida, que será o grande benefício
a ser alcançado pela nossa população se ela vier a optar pelo nosso plano de
governo; e o investimento nas novas gerações, para que esse resultado se
prolongue no tempo. Mesmo o mandato municipal tendo uma duração de apenas
quatro anos, um plano de governo, pela sua natureza programática, precisa
enxergar além, precisa ser efetivo e sustentável. Tem que buscar, da melhor
maneira possível, que os resultados sejam perenes.
Alguns partidos já
estão apresentando nomes para a disputa da prefeitura. Por que o seu partido
está preferindo investir na elaboração de um plano de governo neste momento?
Porque nosso trabalho é sério. Essa metodologia
é a única racional. Você identifica um problema, depois você pensa as soluções
para esse problema e por fim você verifica quem é a pessoa que tem melhores
condições de executar essa tarefa. Não há outra forma de trabalhar. Com todo o
respeito às pessoas que estão tendo seus nomes apresentados como pretendentes a
uma candidatura, o que estamos vendo, até agora, são projetos pessoais de poder,
pois ninguém fala em metodologia de trabalho, ninguém sequer fala em trabalho.
O que se fala é que o partido tal está lançando o cidadão tal como
pré-candidato. Mas é só isso. Acho pouco provável que o povo porto-velhense,
pelo amadurecimento político que alcançou, se deixe ainda seduzir por discursos
com apelo emocional. Hoje a gente conversa com as pessoas comuns e percebe que o
cidadão está mais consciente do que deve cobrar de um político.
Nesse eixo, que o
senhor chama de dinamização da economia, o senhor já teria uma ideia de quais
ações seriam incluídas?
As
ações vão ser definidas ao longo desse trabalho de elaboração do plano, no
diálogo aberto com a comunidade. No momento estamos levantando as demandas. E o
que temos desde já são conceitos, que condizem com o programa de nosso partido
e com o que aprendemos quando estudamos economia política, direito tributário,
direito orçamentário, ciência política, dentre outras disciplinas. Então,
quando falamos em dinamização da economia, nós temos como objetivo elevar a
capacidade financeira do município, sim, mas sabendo que essa elevação só é
verdadeira quando se faz acompanhar da redução das vulnerabilidades sociais.
Quando um governo atrai investimentos e faz as empresas contribuírem com mais
impostos, mas não habilita seus jovens a ocuparem os novos postos de trabalho,
o que acontece é que essas vagas de emprego acabam sendo preenchidas por
pessoas que vêm de fora e a população local é empurrada ainda mais para a
miséria. E aí o Poder Público tem que investir mais em saúde, mais em
assistência social, e acaba gastando mais do que conseguiu aumentar na sua
arrecadação. É essa a grande diferença nesse plano de governo que o PTB vai
apresentar à população de Porto Velho: os eixos dialogam entre si, eles
interagem. E os benefícios são sustentáveis.
O senhor acredita que
esse plano de governo possa fazer a diferença na campanha eleitoral?
Não só na campanha. É natural, no ambiente
democrático, que o partido busque compor com outras siglas. Só que, no caso do
PTB, esses diálogos vão ser pautados no plano de governo, não nas aspirações
pessoais de quem busca o poder. O PTB se dispõe a dialogar em cima de propostas
que beneficiem a população. São nesse sentido as conversas que estamos tendo
internamente no PTB. Nosso presidente, o vereador Aleks Palitot, sempre
enfatiza essa visão programática. Se outros partidos se caracterizam por
defenderem ou dizerem que defendem uma ideologia, o PTB se caracteriza por
praticar uma metodologia. Não há como o povo acreditar que quem não é capaz de
elaborar um bom plano de governo seja capaz de realizar um bom governo. Da
mesma forma não há como acreditar que quem vá deixar seu plano de governo para
a última hora seja capaz de administrar nosso município sem deixar que as
prioridades acabem se transformando em urgências.
Os três eixos que o
senhor aponta dizem respeito às áreas de atuação do Poder Público. E quanto à
máquina administrativa em si? O que é que o seu partido vê como necessário para
que a Administração Municipal esteja apta a concretizar um plano de governo com
esse nível de qualidade técnica a que o senhor se refere?
Na
verdade, estamos trabalhando quatro eixos. São esses três eixos temáticos e
mais outro eixo que, até mesmo por uma analogia, chamamos de eixo de direção.
Então, no que se refere à máquina administrativa e às ações eminentemente de
governo, temos esse eixo de direção. E o objetivo principal desse eixo é
promover a excelência da gestão. E isso só ocorre quando a legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade, economicidade, eficiência, eficácia e
efetividade são devidamente observadas, lembrando sempre que o princípio
fundamental da Administração Pública é a finalidade. Então, a partir desse foco
na finalidade para qual a máquina pública existe, o gestor deve tomar suas
decisões com razoabilidade e proporcionalidade. Isso pode parecer, mas
seguramente não é uma questão teórica de Direito Administrativo. Isso é uma
questão prática. E bem prática. Foi se tornando uma questão teórica na medida
em que tudo isso deixou de ser observado na prática.
Assim como esses
conceitos, que o senhor afirma que já dispunha deles ao dar início ao trabalho
de elaboração do Plano de Governo, certamente o senhor, até como cidadão, já
tem também algumas demandas identificadas. Quais seriam elas?
Sim,
como cidadão certamente me incomoda muita coisa que faz parte do meu dia a dia,
como a questão da iluminação na rua em que eu moro, ou o alagamento no caminho
de casa para o trabalho. Só que são elementos pontuais. E na elaboração de um
plano de governo é preciso enxergarmos o município no seu todo, de forma
sistêmica. Pois as soluções terão que ser sistêmicas. Uma administração nunca
caminha para a frente quando está atrás de fazer remendos ou de atender
demandas individuais, ou mesmo coletivas, só para silenciar o clamor de um
cidadão ou de uma comunidade de bairro. É preciso trabalhar soluções efetivas,
que beneficiem a municipalidade no seu todo.
Quando se trata do que
o senhor chamou de “eixo de direção”, uma vez que o senhor também tem
experiência na administração municipal, já que foi secretário de Agricultura,
quais são os conceitos ou as visões que o senhor traz para a elaboração do
Plano de Governo?
A
experiência que eu tive na administração municipal reforçou em mim a convicção
de que é impossível, nos dias de hoje, querer avocar para a máquina pública a
solução de todos os problemas, como se eles fossem questões de governo, quando
na verdade são questões de governança. O contexto social e político hoje é
outro: é preciso trabalhar de forma concertada, interagindo não apenas com as
demais esferas de governo, mas, sobretudo, com a sociedade. Há inúmeros
organismos sociais, entidades de categorias profissionais, organizações
comunitárias, entidades beneficentes, que devem ser chamadas a um diálogo
produtivo. Essa não é uma visão teórica minha, não é um discurso, esse é um
relato do que eu de fato fiz quando respondi pela Secretaria Municipal de
Agricultura e Abastecimento. Realizamos a I Conferência Municipal de
Agricultura e Abastecimento. Não foi um evento de um fim de semana para
homologar decisões de gabinete. A Conferência que realizamos foi precedida de
reuniões e pré-conferências em todas as sedes de distrito e também em povoados
e localidades como Aliança, Marco Azul, Rio Pardo e União Bandeirantes. Quando
foi feita a conferência, reunimos representantes de todos os rincões do
Município de Porto Velho. Foi algo inédito. E verdadeiro. Além de produtivo.
Desse esforço resultou o a lei que instituiu a Política Municipal de Produção e
Abastecimento e o Plano Decenal de Produção e Abastecimento.
Nesse eixo de “elevação
da qualidade de vida”, quais seriam os principais pontos a serem trabalhados?
De acordo com o que já
tínhamos proposto quando definimos a estrutura do plano de governo e que nos veio
ser reforçado pelas contribuições dos cidadãos que estão enviando suas
sugestões, há três objetivos básicos, igualmente importantes, mas que podemos
diferenciá-los pela urgência. O primeiro, nesse critério de urgência, é a
redução das morbidades. E aí entra não apenas a competência da Administração
Municipal na atenção básica à saúde, mas também no que se refere ao saneamento
básico. O segundo ponto é promover o acesso ao consumo racional de bens e
serviços essenciais ao bem-estar. E o terceiro ponto é o que chamamos de
instrumentalização dos adensamentos habitacionais para o desenvolvimento humano
e concretização do direito à felicidade. Ou seja, onde houver uma população
concentrada, seja um povoado, uma vila, ou um bairro da cidade, é dever do
Poder Público fazer dessa concentração de pessoas um instrumento de desenvolvimento
humano. De que forma? Dotando essas localidades de escolas, postos de saúde,
áreas de lazer e desporto, centros culturais e artísticos. Isso não é difícil
de realizar, pois não é tanto uma questão de recursos, como os maus
administradores sempre alegam para justificar sua inoperância; mas é uma
questão de inteligência na utilização dos recursos.
E quanto ao eixo do “investimento nas novas gerações”,
quais seriam as diretrizes e por que o uso do termo “investimento”?
É
um investimento porque tem que dar resultados. Não é um mero cumprimento de
obrigação. Acontece que, com a evolução do direito constitucional no nosso país,
houve uma série de direitos fundamentais que foram assegurados pelos
constituintes de 1988 e que ainda hoje, passados já mais de trinta anos,
podemos perceber que ainda são trabalhados numa dimensão clientelista: é a
criança que tem direito a isso, o adolescente que tem direito àquilo. Isso é
apequenar as políticas sociais. Os direitos sociais são direitos da sociedade.
E não de segmentos sociais ou grupos sociais. É essa a visão programática que
nós estamos trabalhando no PTB. Então nosso propósito é atender ao direito que
a sociedade, no seu todo, tem a um futuro melhor. E o meio para isso é formar
bons cidadãos: saudáveis, produtivos e conscientes da real dimensão de seus
deveres e direitos.
Pela sua formação
jurídica, de que forma o senhor avalia a atual situação do Município de Porto
Velho em face de legislações como Estatuto das Cidades e outras correlatas?
Eu
entendo que observar a legalidade não é apenas limitar-se a fazer o que a lei
obriga e não fazer o que ela proíbe. Quando se está diante de um diploma legal
como o Estatuto das Cidades, é preciso enxergar a enorme gama de oportunidades
que ele faculta ao gestor municipal para aperfeiçoar juridicamente a vida da
cidade. E infelizmente nós não temos visto esses instrumentos do Estatuto das
Cidades serem aplicados em nosso município. Essa omissão em acompanhar a
evolução jurídica da gestão urbana tem um preço muito caro. E infelizmente quem
paga esse preço é a população. O plano de governo que estamos construindo no
PTB tem o firme propósito de incorporar os instrumentos do Estatuto das Cidades
no cotidiano da gestão municipal.
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