Terça-feira, 22 de janeiro de 2008 - 08h48
Luana Lourenço
Agência Basil
Porto Velho (Rondônia) - Um ano depois do anúncio do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), Rondônia, uma das unidades da federação que mais receberá recursos do programa, vive a expectativa de crescimento econômico. A região é considerada estratégica para o desenvolvimento do eixo norte do país, pela facilidade de escoamento de produção e pelo potencial energético.
Na capital, Porto Velho, mesmo antes do início das duas principais obras previstas para o estado, as hidrelétricas do Rio Madeira, as mudanças no dia-a-dia são visíveis com o aumento no fluxo de veículos, o crescimento do mercado imobiliário e a chegada de empresas e investidores nacionais e internacionais.
A gente ouve falar muito que as usinas vão fazer a cidade crescer, gerar emprego. Dá para ver que as coisas estão mudando, imagine quando a obra começar, avalia Walderi de Lima, morador de Porto Velho há mais de 20 anos.
As expectativas, no entanto, ainda contrastam com a realidade da infra-estrutura da cidade. De acordo com o prefeito de Porto Velho, Roberto Sobrinho (PT), apenas 3% da população são atendidos por rede de esgoto e metade não tem abastecimento de água.
Moradora do bairro de São Sebastião 2, na periferia da capital de Rondônia, a líder comunitária Lusmarina Oliveira resume a preocupação dos moradores com a provável chegada de cerca de 100 mil pessoas nos próximos dez anos. A cidade ainda não está preparada para receber a quantidade de pessoas que virá de fora, não tem saneamento básico, a procura de residências vai aumentar. Falta espaço para crescer, aponta.
Parte do bairro é formada por palafitas, erguidas sobre uma cachoeira de esgoto que deságua no Rio Madeira. A alta incidência de casos de dengue e malária na comunidade levou os moradores a organizar um abaixo-assinado para reivindicar melhoria no atendimento médico, também precário, segundo Lusmarina. Com 380 mil habitantes, Porto Velho tem apenas três hospitais públicos, que também recebem pacientes do interior do estado.
Quando as pessoas chegarem aqui, talvez a realidade seja diferente do sonho que elas esperam encontrar, pondera a líder comunitária. Este ano, a prefeitura começará a executar os R$ 650 milhões do PAC destinados a obras de saneamento e construção de casas populares em Porto Velho.
As modificações também abrangem o perfil econômico da capital. O comércio e o funcionalismo público deverão ceder espaço ao crescimento industrial e ao setor de serviços, além da criação de um cinturão verde para abastecer a cidade. A demanda por mão-de-obra qualificada também preocupa os gestores e empresários da capital, onde já faltam pedreiros, eletricistas, encanadores e engenheiros.
De acordo com a prefeitura de Porto Velho, a população local terá prioridade na seleção de trabalhadores para a construção das usinas do Rio Madeira. Um convênio entre a administração municipal, o Ministério do Trabalho e entidades do Sistema S começou a capacitar 4 mil pessoas, de olho nos setores que mais irão se expandir: a própria construção civil, a hotelaria e a prestação de serviços.
Santo Antônio e Jirau, as duas usinas do complexo hidrelétrico do Madeira, somarão 6.450 megawatts aproximadamente metade da potência de Itaipu, a usina mais potente do país, e deverão suprir 8% da demanda nacional, segundo cálculos do governo.
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