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Psicólogos e assistentes sociais do Poder Judiciário promovem encontro estadual para debater os desafios e demandas da profissão


Psicólogos e assistentes sociais do Poder Judiciário promovem encontro estadual para debater os desafios e demandas da profissão  - Gente de Opinião

Teve início dia 03, o Encontro Estadual de Psicólogos e Assistentes Sociais do PJRO, realizado pelo Tribunal de Justiça de Rondônia, por meio da Escola da Magistratura do Estado de Rondônia (Emeron). Até quinta-feira, 06, palestras, debates e oficinas promoverão a integração e a disseminação de conhecimento entre os profissionais.

O encontro é mais uma iniciativa do TJRO para aprimorar a atuação do serviço psicossocial no Poder Judiciário, que tem papel fundamental no suporte à resolução de conflitos sociais. Ao promover um espaço de formação e troca de experiências em relação aos desafios do trabalho e da necessidade de enfrentamento das condições adversas que se impõem a essas duas categorias na realização de suas atividades, busca fortalecer o potencial que estas profissões têm para contribuir com o acesso à Justiça e aos direitos da sociedade.

EncPsi 1O encontro foi iniciado com palestra da Juíza Auxiliar da Presidência, Euma Tourinho, que discorreu sobre “A expectativa institucional da atuação dos assistentes sociais e psicólogos”. Em sua fala, destacou que os 25 juízes rondonienses que formaram a turma inicial do curso de Constelações Familiares foram o primeiro grupo de magistrados do país a se especializar em constelação familiar, com a segunda turma já em andamento. “Fazer 300 horas de constelação muda muito a nossa trajetória, isso dá um olhar diferenciado ao tribunal e nos deixa com muito orgulho. Houve uma mudança de paradigma e de visões, no sentido de que o rigor pode ser exercido com compaixão, acolhimento e firmeza”, disse.

Ela finalizou afirmando o que o TJRO espera dos psicólogos e assistentes sociais: “Que a gente amplie o olhar, passe a entender cada vez mais que não trabalhamos sozinhos, não estamos nos locais à toa, fazemos a diferença na vida das pessoas e não cuidamos de processos, mas sim de pessoas. Temos um corpo não só de mentes, mas de pessoas que vestem a camisa e fazem toda a diferença na casa da justiça”, concluiu.

Continuando a programação da primeira manhã do evento, as “Demandas e desafios da atuação de assistentes sociais e psicólogos no campo jurídico” foram tema de palestra ministrada pela psicóloga do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, Lilian Magda de Macedo, e de um debate. Lilian colocou a psicologia social de matriz histórico-cultural como referencial teórico para seu pensamento: “Todo fenômeno exige um olhar para a História”, disse.

Assim, ela propôs um olhar para trás, para o presente e o futuro. Em relação ao passado, frisou que é necessário entender por que as categorias foram necessárias nesse espaço do judiciário, qual a trajetória de cada uma, e quais tensões entre éticas e demandas as pressionam. Quanto ao presente, questionou o contexto socioeconômico, cultural e jurídico para a atuação hoje, o que dizem os estudos da área e qual o processo de trabalho na área jurídica. Já sobre o futuro, a necessidade de marcos éticos e dos direitos humanos possíveis na coletividade, além de uma reflexão crítica constante sobre o presente.

Para a palestrante, o indivíduo contém em si um campo de forças indissociável, que marca a interseção de sua própria história com a de sua sociedade. “As relações sociais são medidas pelas instituições, a começar pela família. Só podemos entender a individualidade do sujeito quando entendemos a dinâmica dos grupos dos quais ele participa”, sublinhou.

Por fim, indagou sobre o lugar ocupado pelo judiciário nessa sociedade, e se há fetiche ao se ocupar esse espaço de trabalho, apontando para o perigo da mera reprodução de posturas e discursos do Direito na área psicossocial. “Ao estar na estrutura do judiciário, não deixamos de ser psicólogos e assistentes sociais”, afirmou. Sobre a judicialização dos conflitos sociais, preocupa-se com o que é feito com ela: “O jurídico é o local de resolução dos conflitos pela impositividade do Estado, com implicações éticas e políticas apesar de pretensa neutralidade. Não dá para fugir ao Direito como parte de uma totalidade histórica e com fundamentos econômicos. A primazia da interdisciplinaridade no judiciário ainda exige que se lute muito para que não se estabeleça uma hierarquia de saberes”, finalizou.

A seguir, a assistente social Valdênia Guimarães mediou o debate, apontando para a necessidade de “estarmos atentos para desvendar a realidade de como pensamos o nosso trabalho”. Além da palestrante, participaram a psicóloga Elisângela Sobreira, de Alta Floresta do Oeste, representando os profissionais do interior, e Sayonara Souza, chefe do núcleo psicossocial do 2º Juizado da Infância e da Juventude de Porto Velho. Elisângela colocou a necessidade de se pensar a realidade do interior, de como essas práticas vêm ocorrendo. “É preciso olhar o sujeito, que muitas vezes precisa ser orientado a ser cidadão, pois não conhece nem os próprios direitos, e não desconsiderar a construção social desse sujeito”. Ela apontou para uma grande mudança no desenvolvimento do trabalho nos últimos 10 anos, com cursos voltados a práticas de intervenção, não só de procedimentos de avaliação ou perícia, e que deve ser ampliada a produção científica para divulgar as boas práticas realizadas no estado.

Já Sayonara destacou como a equipe está renovada e crescendo, e que essa reflexão sobre a prática vai gerar outras proposituras. “As demandas estão cada vez mais altas e com atendimentos mais complexos, mas a nós do judiciário cabe muito mais do que apenas o que está escrito no parecer”, afirmou. Ao final, fez um apelo aos colegas: “Precisamos nos cuidar mais enquanto seres humanos, para podermos ser bons profissionais, um olhar com carinho e afeto em primeiro lugar. Enquanto não nos olharmos devidamente como pessoas, como vamos enxergar o outro?”, finalizou.

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