Terça-feira, 22 de janeiro de 2008 - 08h37
Luana Lourenço
Agência Brasil
Porto Velho (Rondônia) - Fluxo intenso de caminhões, pequenos comerciantes ao longo do caminho, ausência de buracos e asfalto uniforme por longos trechos. É possível percorrer assim cerca de 150 quilômetros da rodovia BR-364, no trecho que passa próximo à capital de Rondônia, Porto Velho. Considerada uma das principais estradas do centro-norte do país, a rodovia, que liga Mato Grosso ao Acre, é uma das que receberam recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que completa um ano hoje (22).
Em 2007, cerca de R$ 21 milhões foram aplicados no trecho de 1.089 quilômetros que passa por Rondônia, de acordo com a superintendência do Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes (Dnit) no estado. Outros R$ 230 milhões do PAC serão investidos em toda a extensão da rodovia entre 2008 e 2010, segundo o Ministério do Planejamento.
A principal vocação da rodovia é o escoamento de soja, principalmente da produção de Mato Grosso. Diariamente, cerca de 400 caminhões com o grão atravessam Rondônia rumo ao porto de Porto Velho, de onde a soja é levada para Itacoatiara (AM) e, em seguida, embarcada para a Europa e a Ásia.
“A melhoria da estrada facilita bastante [o escoamento da soja]. Caem os custos financeiros e o tempo. A logística terrestre passa a ficar mais barata, agregando valor aos produtos. Isso faz com que os fretes não encareçam e facilita a vida dos caminhoneiros”, destaca Hermegildo Alves, gerente de uma empresa de logística e transportes.
Em 2007, a empresa exportou 2,3 milhões de toneladas de soja por Porto Velho e a perspectiva, segundo Alves, é que a demanda pressione ainda mais a expansão da soja, com o surgimento de portos privados ao longo do Rio Madeira. “Estamos quase no estrangulamento por causa dos volumes que a empresa deseja transportar. A partir dos 3 milhões [de toneladas] só com uma nova estrutura portuária”, salienta.
De acordo com a presidente da Sociedade de Portos e Hidrovias de Rondônia, Leandra Vivian, a economia das empresas que optam pela saída pelo Rio Madeira chega a 30% do custo em dólar. Ela reivindica mais recursos do PAC para o setor portuário. “A estrada [BR-364] é importante no escoamento da soja, mas estamos no limite da capacidade de escoamento e falta de visão para investimentos na hidrovia”, pondera.
Proprietário de uma fazenda de melhoramento genético de gado às margens da BR-364, o pecuarista Orozimbo do Nascimento argumenta que a rodovia beneficia a exportação da soja mato-grossense, mas não tem tanto impacto sobre a produção agropecuária. “Como não há a exportação que esperávamos, o jeito é levar nossa carne de forma antilogística para São Paulo, com pouca competitividade”, reclama.
Para os produtores do estado, a solução seria o que chamam de “saída para o Pacífico”, com a conclusão de uma ligação entre o Brasil e o Peru, que possibilitaria a abertura para os mercados andinos.
Também às margens da BR-364, o pescador Raimundo França torce apenas para que o fluxo de veículos na região continue grande. Ele e os filhos, além de outras 35 famílias, vivem da venda de peixes aos motoristas que passam pela pequena vila de pescadores na beira da rodovia: “Minha barraquinha aqui é a mesma coisa de ter uma banca na cidade. Vendo 100 quilos de peixe por dia; não é querendo me engrandecer. Essa estrada é o braço direito aqui de Porto Velho”.
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