Quinta-feira, 21 de novembro de 2019 - 12h26
O deputado Lazinho da
Fetagro (PT) comandou na tarde desta quarta-feira (20), no auditório da
Assembleia Legislativa, Sessão Solene para homenagear com Votos de Louvor 30
personalidades que contribuíram com a luta e o avanço da igualdade racial no
Estado de Rondônia.
Compuseram a mesa o
presidente do Conselho Estadual de Promoção da Igualdade Racial (CEPIR),
Antônio Neto; o professor do IFRO e coordenador do Núcleo de Estudos e
Pesquisas Afrobrasileiros e indígenas, Uilian Nogueira Lima; o professor da
Unir Marcos Teixeira; a professora da Unir Marcele Regina Pereira; a prefeita
de São Francisco do Guaporé, Gislaine Lebrinha (MDB); Ana Maria Ramos e a
professora aposentada da Unir, Eunice Johnson, representando o Movimento Negro,
a presidente do Sintero, Lionilda Simão e o representante da Federação de
Cultos Afro Religiosos Umbanda e Ameríndios de Rondônia (Fecauber), Ogan Silvestre.
"Com certeza,
muitas outras merecem ser homenageadas, mas hoje aqui temos a honra de promover
essa homenagem a personalidades marcantes na história de Rondônia. Quero
registrar também, com muita vergonha, onde um deputado federal adentra ao Congresso
e quebra uma obra de arte que representa a violência contra o negro no país.
Proponho que nós aqui possamos redigir um documento de repúdio, para ser
encaminhado à presidência do Congresso Nacional, em sendo aprovado", disse
Lazinho, ao abrir a solenidade.
O deputado observou
ainda que, na onda reacionária que toma conta do país, estão ocorrendo muitos
atos racistas em praças esportivas. "Infelizmente, estão se sucedendo
casos de racismos em estádios e outras manifestações racistas em público, que
nos preocupam, nos entristecem", afirmou, acrescentando que "hoje se
inicia a campanha mundial de 16 dias de ativismo, pelo fim da violência contra
a mulher".
A data escolhida para a
entrega da homenagem foi 20 de novembro, Dia da Consciência Negra e Dia Nacional
de Zumbi, uma data instituída desde 2011. Zumbi foi escolhido pelo Movimento
Negro Unificado contra a Discriminação Racial, como símbolo da luta e
resistência dos negros escravizados no Brasil.
Em Rondônia, a
população negra representa 62,5% do total. Somente em 2018, com aprovação de
lei do então deputado Só Na Bença, é que foi inserido no calendário oficial do
Estado o Dia da Consciência Negra.
"Em Rondônia, o
movimento de cultura negra e de resistência, tem raízes na presença de negros
barbadianos e outras famílias de afrodescendentes que por aqui aportaram,
quando do processo de ocupação e migração do Estado", disse Lazinho.
Ainda segundo o
parlamentar, "foram esses representantes de movimentos negros, do
movimento cultural Cabeça de Negro, Comunidades de Terreiros e Quilombolas,
entre outras personalidades do meio que mantiveram viva essa consciência de
luta e de resistência da identidade e da cultura negra".
Pronunciamentos
O presidente do CEPIR
abriu seu pronunciamento destacando que "quero agradecer à sensibilidade
do deputado Lazinho em acatar a nossa solicitação, feita após discussões com
vários movimentos, para definir os nomes a serem agraciados. Faço coro ao
deputado em defesa da moção de repúdio. No atual Governo, o que vemos é o cerceamento
das políticas públicas, o achatamento das políticas públicas. Isso é
preocupante. Mesmo convidados, não temos representantes da Secretaria de Estado
de Ação Social (Seas)".
Neto declarou ainda que
"hoje é um dia de homenagem, mas também de debater, de discutir políticas
afirmativas em prol da comunidade negra de Rondônia, como cotas em concursos,
por exemplo. É com ações concretas que vamos enfrentar essa onda crescente de
racismo e de discriminação".
O professor da Unir,
Marcos Teixeira, fez uma palestra sobre o processo de povoamento negro em
Rondônia. "Foram três eixos: iniciado nos quilombos do Vale do Guaporé.
Temos oito comunidades quilombolas reconhecidas, ou em fase de
reconhecimento".
Segundo ele,
"temos o segundo eixo, de forma dispersa, na época da borracha, com a
vinda de nordestinos. Destaco a atuação da Mãe Esperança Rita, fundadora dos
cultos de matriz africana em Porto Velho, foi uma liderança que resistiu às
perseguições contra os negros e libertou mulheres de situações assemelhadas à
escravidão em seringais, daí gerando o bairro do Mocambo, o terreiro de Santa
Bárbara e muito mais".
Teixeira destacou
também a vinda de negros da região das Antilhas, conhecido de forma genérica
como "barbadianos". "Eles formaram aqui a primeira classe média
negra do Brasil, com seu trabalho, com seu conhecimento".
Ele acrescentou que
"os migrantes desse momento, considero os haitianos, após o terremoto que
atingiu o país. Muitos aportaram em Rondônia e estão aqui até hoje. Essas
pessoas podem vir e somar conosco, que somos um país plural, fundado na
igualdade de direitos. Que possamos ter garantidos direitos e acolhimento, pois
somos um Estado de formação multicultural, de diversos atores".
Ao finalizar ele
destacou que "essa homenagem é importante e justa, mas ela deve despertar
a nossa reflexão, a nossa luta por direitos".
Debates
Lionilda Simão
parabenizou a sensibilidade do deputado Lazinho, em trazer para o debate temas
de interesse da sociedade. "Essa temática de valorização e de reconhecimento
ao povo negro é importante. Não tem como tratar o desigual de forma igual. Para
sermos reconhecidos como cidadãos, temos que ter nossos direitos assegurados,
com políticas afirmativas".
Uilian Nogueira Lima
abriu sua fala dizendo que o Brasil foi o último país do Ocidente a abolir a
escravatura. "Temos um atraso histórico em relação aos negros. O Brasil
tentou tornar os negros invisíveis, mas não conseguiu. Temos muitos nomes para
se referir aos negros, como 'moreno jambo'. Antes, o IBGE registrava 6% de
declarados negros nos censos. A política de cotas raciais trouxe negros para as
universidades, mas temos muito por fazer, para garantir direitos e
oportunidades".
A professora Marcele
Pereira disse que "devemos defender políticas públicas e ações que possam
trazer cidadania e direitos à população negra. Nossa voz precisa ecoar em leis,
em atitudes diretas. A comunidade negra pobre e periférica está morrendo todo
dia. Nós mulheres negras somos a base que sustenta esse país. Vivemos um
momento político simbólico, que nos faz refletir sobre legislar mais a nosso
favor".
Em seguida, foi exibido
um vídeo produzido pela fotógrafa e ativista Marcela Bonfim, uma das
homenageadas, mostrando as comunidades negras na Amazônia.
Homenageados
A professora Eunice Johnson,
agraciada, disse que ficou refletindo, durante a solenidade, sobre o negro na
sociedade. "O Paulo Freire já dizia que o negro já nascia proibido de ter
conhecimento. Quando se pergunta a cor de uma pessoa e ela nega que é negra,
mostra que temos ainda muitos desafios. Somos negros, graças a Deus!".
Ogan Silvestre defendeu
que o Dia da Consciência Negra seja feriado estadual, conforme prevê a lei em
vigor. "Mas, hoje é facultativo. Que se torne feriado de fato. Temos esse
caso do deputado que destruiu a charge em exposição no Congresso, mas temos
diariamente terreiros invadidos e vandalizados pelo país afora, e ninguém faz
nada, mesmo tendo a nossa garantia de culto na Constituição. Há muita
intolerância e desrespeito".
Ana Maria Ramos lembrou
a luta no Movimento Negro e as conquistas ao longo dos anos. "Mas, estamos
num momento em que direitos estão ameaçados e não podemos perder. Ao vir para
esta solenidade, de táxi, expliquei ao motorista que vinha receber o Voto de
Louvor e ele se mostrou surpreso e disse que não havia racismo no Brasil. Isso
mostra o quanto ainda temos que lutar, que conquistar".
A prefeita Lebrinha,
também agraciada por seu trabalho para as comunidades quilombolas de São
Francisco do Guaporé, disse que "fiquei muito feliz com a indicação para
esta homenagem. Fiz muito pouco ainda, e observo que a gente discutir, nessa
época, questão como racismo e discriminação, mostra que estamos tão atrasados.
Quando me lancei candidata a prefeita, sofri muito preconceito de gênero,
duvidaram da minha capacidade. Tenham orgulho de sua cor, de sua história, de
sua cultura. Todos somos iguais, independente de raça, cor, religião ou
gênero".
William dos Santos
Ramos Coimbra também fez uso da palavra, destacando que "enquanto não
pensar na consciência humana, não avançamos. Somos todos seres humanos,
independente de nossa cor. Isso que tem que ser comemorado e destacado. Essa
homenagem não é somente a mim, mas para toda a equipe do Incra, no trabalho com
grupos quilombolas".
Orlando Francisco de Souza
afirmou que "gostaria de chamar a atenção para uma coisa muito grave:
governantes falando abertamente em matar negros. A polícia brasileira é letal
contra a população negra. Que política é essa? Estamos num período perigoso e a
sociedade precisa resistir".
Já Maria da Penha Simão
disse que "muitas vezes nos acusam de vitimismo. Isso não é verdade.
Sofremos muito preconceito. Muitas vezes, somos culpados, por aquilo que não
produzimos. Eu sou fruto dessa luta. Hoje, somos negros em movimento e ocupando
os espaços de poder. Isso de ruim que acontece no país, nos fortalece ainda
mais. Nós somos a resistência".
Everaldo Lins observou
que Zumbi dos Palmares nasceu em 1655, na Serra da Barriga, então Pernambuco.
"O quilombo dos Palmares reuniu negros, índios e brancos também. Uma
essência do Brasil. Por outro lado, destaco que o jeito brasileiro tem tudo do
angolano".
Rosa Negra fez uma
breve fala, destacando o trabalho de homens e mulheres negras em Rondônia, na
defesa de direitos da população negra e na luta contra o preconceito.
"Quem construiu esse país, quem derramou sangue, não é respeitado. A
maioria das mulheres vítimas de violência é negra. Isso é 'mi mi mi'? A polícia
sobe o morro e deixa atrás de si uma esteira de corpos negros. Mas, isso não
vai ficar invisível, pois estamos vigilantes".
Mãe Nilda declarou que
"temos brigado pela comunidade de terreiros. Se é difícil para negros,
imaginem para as comunidades de terreiros? Já defendemos a implantação de uma
delegacia especializada de crimes religiosos; mas hoje defendemos que seja
criado um núcleo dentro da Unidades Integrada de Segurança Pública
(Unisp). A violência contra nós é muito
grande, somos ameaçados, desrespeitados. Os terreiros precisam ser respeitados".
O vice-prefeito de
Costa Marques, Amaury Arruda (DEM), foi o último a usar a palavra, destacando
os desafios da luta pela garantia de direitos das comunidades quilombolas.
Oriundo da comunidade do Forte Príncipe da Beira, ele se disse conhecedor da
realidade e dos desafios.
"Sem luta, não se
consegue avançar. É uma luta grande, mas que não vamos parar, pois as
comunidades quilombolas merecem e precisam. Conseguimos um acordo inédito,
envolvendo o Ministério Público Federal, com o Exército reconhecendo a
comunidade quilombola, que de fato é. Vamos continuar na luta!".
Agraciados
Foram agraciados com o
Voto de Louvor as personalidades Adaides Batista dos Santos, Amaury Antônio
Ribeiro de Arruda, Ana Maria Ramos, Aulenilda Lopes de Oliveira, Cledenice
Blackman, Elvys Cayaduro Pessoa, Eunice Luíza Johnson Batista, Everaldo Lins de
Santana, Francisco das Chagas Silva, Gislaine Clemente, Jamyle Vanessa Costa
Brasil, Jesuá Johnson, João Carlos Fernandes Alves, Jorge Batista dos Santos,
José Francisco Pereira da Silva e Mafalda Gomes da Silva.
Também foram
homenageados Marcela Fernandes da Silva Bonfim, Marco Antônio Domingos
Teixeira, Maria da Penha de Souza Menezes, Marinilde Helena da Silva Santos,
Normam Johnson Junior, Orlando Francisco de Souza, Oscar Dias Knightz, Paulo
Sérgio Dutra, Rosária Helena de Oliveira Lima, Rosenilda Ferreira da Silva,
Sandra Regina Nunes dos Santos, Silvestre Antônio Gomes dos Santos, Úrsula
Depeiza Maloney e William dos Santos Ramos Coimbra.
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