Terça-feira, 5 de junho de 2007 - 07h20
Vladimir Platonow - Agência Brasil
Rio de Janeiro - O presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim, é um defensor das usinas de Santo Antônio e Jirau, no Rio Madeira, cuja viabilidade ambiental está em análise no Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Destaca o alagamento previsto, baixo em comparação com o de grandes usinas do país, e diz que os dois projetos são excelentes tanto do ponto de vista energético como do ambiental. Tolmasquim é engenheiro e economista, com doutorado pela Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais de Paris. A seguir, trechos da entrevista concedida na última terça-feira (29), na sede da empresa, ligada ao Ministério de Minas e Energia.
Agência Brasil: O senhor está convicto de que não haverá problemas quanto à sedimentação e aos impactos ambientais no Rio Madeira?
Maurício Tolmasquim: Eu tenho certeza de que as usinas do Madeira são projetos excelentes, tanto do ponto de vista energético quanto ambiental. Em média, as usinas brasileiras alagam, para cada megawatt gerado, uma área de 0,52 quilômetro quadrado. As usinas do Madeira alagam 0,08 quilômetro quadrado. Se descontarmos a água que está na calha dos rios, esse valor cai para 0,03 quilômetro quadrado. São usinas praticamente a fio d'água, com alagamento pequeno, baixa queda, usarão tecnologia de turbinas de bulbo – serão 44 turbinas em cada uma. Além disso, na questão do sedimento, foi trazido ao Brasil um grande especialista mundial, chamado Sultan Alan, que é a grande referência em sedimentologia. Ele foi a várias praias, analisou o tipo de areia e constatou que as condições são excelentes, que não há riscos de sedimentação acima do normal.ABr: Mas alguns ambientalistas apresentaram estudos demonstrando que por causa dos sedimentos as usinas teriam vida útil de apenas dez anos...
Tolmasquim: Uma usina construída no Madeira tem vida útil de 100 anos, sem problema nenhum. Quanto à questão sobre os peixes, existem 350 espécies e só duas delas, de bagres, têm longa migração, nadando mais de 2 mil quilômetros. Uma delas parece que desova nos Andes. Para essa espécie, vai se construir um canal para que possa migrar e desovar. Esses canais vão ser muito melhores do que em outras usinas, como em Itaipu. Não tenho dúvida de que, do ponto de vista ambiental, essa é uma excelente obra, que permitirá que a energia que é fundamental seja produzida sem ter danos ambientais. Sempre lembrando que a opção de não se construir essas usinas é construir usinas mais poluentes. A eficiência energética é possível, mas ela não atenderá, por si só, a necessidade de desenvolvimento de que o país precisa. Não poderá ser eólica, que fica muito caro e que não atenderia as necessidades do país. As outras opções são as usinas a óleo ou a carvão, que aumentam as emissões de carbono. O Brasil aumenta a demanda por energia entre 5,3 a 5,5% ao ano. É preciso 3,5 mil megawatts a 4 mil megawatts por ano, mesmo fazendo ações de conservação.
ABr: O país corre o risco de um novo apagão, sem as usinas do Madeira?
Tolmasquim: Eu não acredito que isso vá ocorrer, porque vai estar sempre sendo licenciada alguma usina nos estados, onde é facílimo obter licença para usina a carvão, em quatro ou cinco meses. Para uma hidrelétrica, leva dois ou três anos. Vão proliferar as usinas a carvão, importando tecnologia da China e carvão de outros países.
ABr: Alguns setores argumentam que o licenciamento ambiental é muito demorado. Qual sua opinião?
Tolmasquim: É um processo fundamental, para verificar se o empreendimento está apto para ser construído. Desde o novo modelo, criado em 2004, ficou definido que só se coloca em leilão o que tiver licença ambiental prévia concedida. Pelo modelo antigo, as usinas do Madeira já poderiam ter sido licitadas. Mas a gente achou que isso era um verdadeiro faz-de-conta, pois estava licitando um empreendimento que depois não ia poder sair do papel. Como a expansão do setor energético depende dessa licença, é claro que é importante uma celeridade nesse processo, se não você não tem bem claro a possibilidade de construção de usinas. Quem está no setor energético precisa garantir à população que não vai faltar energia.
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