Sexta-feira, 25 de novembro de 2022 - 09h18
São Carlos, 24.11.2022,
13hs e 20mim
Em
tempos de Copa, por que não torço para a seleção (minúscula)?
Por inúmeras
razões e bem racionais, vou até enumerar algumas:
1. Não me
alinho ao mercado futebolístico: na verdade, defendo a tese de que devemos
acabar imediatamente com todos os esportes profissionais. Entendo que nossos
recursos, energias, capacidades, habilidades deveriam ser direcionadas ao
esporte amador. Que o esporte amador fosse parte constituinte do currículo e do
esforço pedagógico – da escola pública à universidade.
1.1
Para atender a essa ideia, teríamos que
modificar a CF88, retirando alguns dos incisos do artigo 217 e acrescentando
outros na forma de uma PEC:
2. Art.
217. É dever do Estado fomentar práticas
desportivas formais e não-formais, como direito de cada um, observados:
I - a autonomia das
entidades desportivas dirigentes e associações, quanto a sua organização e
funcionamento;
(excluir integralmente).
I – O Poder Público é responsável, como obrigação pública
de fazer, no tocante à obrigatoriedade da prática desportiva na escola pública.
(inserir).
II - a destinação de
recursos públicos para a promoção prioritária do desporto educacional e, em
casos específicos, para a do desporto de alto rendimento; (excluir em parte).
III - o tratamento
diferenciado para o desporto profissional e o não- profissional; (excluir integralmente).
III – O Brasil não terá mais modalidades esportivas
profissionais, apenas a prática amadora da esportividade, com educação para o
“fair-play” e os cuidados preventivos inerentes à saúde pública. (inserir).
IV - a proteção e o
incentivo às manifestações desportivas de criação nacional.
§ 1º O Poder
Judiciário só admitirá ações relativas à disciplina e às competições
desportivas após esgotarem-se as instâncias da justiça desportiva, regulada em
lei.
(excluir integralmente).
§ 1º O Poder Judiciário reconhecerá apenas sua Destinação
Constitucional, que é zelar pela Justiça Social. (inserir).
§ 2º A justiça
desportiva terá o prazo máximo de sessenta dias, contados da instauração do
processo, para proferir decisão final. (excluir
integralmente).
§ 2º O Poder Público
incentivará o lazer, como forma de promoção social.
§ 3º Toda praça pública receberá equipamentos sociais
destinados à prática desportiva; as que comportem, reconhecendo-se como
essenciais ao espaço público, irão alojar escolas suplementares. (inserir).
§ 4º O princípio Educativo praticado, em conformidade à
educação de práticas desportivas amadoras, será embasado na autonomia, no
reconhecimento, na solidariedade, sendo muito mais colaborativo e muito menos
competitivo. (inserir).
§ 5º O objetivo maior, além da saúde pública e da
instigação à educação colaborativa, inclusiva, destaca a recolocação dos marcos
seminais do Princípio Civilizatório. (inserir).
3. Neste
sentido, não posso torcer para mercenários. Tipo específico de atletas que
ocupam-se da imensa maioria dos jogadores selecionados: 95% dos jogadores de
clubes ou ligas menores, no Brasil, não recebem sequer um salário mínimo – além
de todas as outras modalidades que “vencem na raça”, sem incentivos. O fosso da
desigualdade social e da concentração de renda é absurdo no futebol, atuante
como espelho e reflexo das mazelas e das misérias nacionais.
4. Jamais
usarei a camiseta amarela com escudo CBF. Essa Confederação, a exemplo de
muitas outras, me traz péssimas recordações (i)morais, ilegais, ilegítimas.
Quando “chefiamos” a FIFA não foi diferente – basta puxar pela memória ou “dar
um google”. Além do mais, tanto quanto os símbolos nacionais foram capturados
pelo Fascismo Déspota (2016-2022), esta tal camiseta amarela está associada às
piores formas de sociabilidade desde o final do século XX. Nosso ufanismo é e
sempre foi fascistoide.
5. Nunca
me verá na bandeira, pauta, agenda, motivações e ações fascistas. Esta é uma
forma de Carta ao Fascismo também, em que repudio, em indignação total e ação
política possível, toda captura fascista da identidade nacional. Nesta Carta ao
Fascismo, sacramento que jamais irá me ver ao lado de um indivíduo que prometeu
engalanar o ex-presidente (derrotado) com a camiseta marca CBF – caso vençam o
campeonato.
6. Se não
fosse “só” por isso, ainda digo que não torço porque minha imagem de seleção –
representativa do povo brasileiro – é a de Sócrates (mesmo não sendo
corinthiano), porque representa a Torcida, o Movimento “Democracia
Corinthiana”. O nome, referência ao filósofo grego, não foi à toa, não foi em
vão! Minha memória ainda resgata a seleção, por questões técnicas, de Telê
Santana (1986).
7. Por
fim, não torço por essa seleção – ou melhor, torço para que seja derrotada na
primeira fase – porque desde sempre aprendi em casa que futebol e política não
se misturam. Ou não se misturavam, até que o Fascismo ganhou o poder. Meu pai
sempre nos ensinou, quando crianças, que a seleção de 1970 (inicialmente
comandada por um comunista de carteirinha: o técnico João Saldanha era
integrante do PCB) ganhou o tricampeonato na bola, na maestria de gênios que a
galáxia raramente reúne para o banquete dos torcedores: outro momento
inesquecível, menor é claro, pôde ser visto com o Barça de Messi. Por outro
lado, a Política, o Banquete dos Deuses, estava proibida pelos anos de chumbo
da ditadura de 1964. Mas, a Taça de 70 não foi presenteada aos torturadores,
corruptos, assassinos daquela época. Foi elevada à simbologia de grandeza do
povo brasileiro. Pelé, Garrincha, Tostão, Gérson, Rivelino e outros eram povo,
exatamente ao contrário dos fascistas-mercenários de 2022.
8. A
última: não torço porque isso faria meu pai revirar no túmulo.
Se você torce por isso que está aí, chamando-a de “Seleção
Nacional”, convido para que repense, pois, como diz a expressão, uma Seleção
Nacional deve representar a Nação, o povo, o conjunto mais amplo da sociedade.
E o que vemos nesse punhado de jogadores pode ser tudo, menos a representação
social, nacional. São milionários, mercenários, na sua maior parcela
representam o próprio bolso, quando não se aninham no Fascismo, com dancinhas
imbecis. Aqui ainda cabe lembrar que a dancinha é uma parcela de pagamento pela
não-condenação das fraudes fiscais e outras afrontas ao erário e ao Poder
Público. Em suma, o mercenário, mesmo em situações gravíssimas, é fascista para
defender os próprios interesses.
Você gostaria de saber que sua audiência nos jogos auxiliou
a alimentar essa máquina mercenária e fascista? Eu, se fizesse isso, nunca mais
teria sossego na vida. Minha consciência seria o pior tormento da alma e do
corpo: não há como perdoar (esquecer) a misoginia, os abusos, a corrupção, o
genocídio praticado na Pandemia, o descaso proposital frente às políticas
públicas e aos atos mais simples da rotina administrativa (“desgoverno”).
Não dá para perdoar, esquecer, amolecer diante disso que
ainda vivemos.
Não dá e não vou. A todos os envolvidos, desejo o máximo
rigor da lei, sem distinção de cor, idade, sexo, nível de escolaridade,
condições físicas, emocionais, sociais ou econômicas. Desejo, para alguns
(algumas), um veraneio prolongado nos presídios federais de Porto Velho e
Mossoró: são os melhores para o tipo de gente que roubou os símbolos nacionais,
a Seleção Nacional, que destruiu a civilidade, que se alimentou da negação da
vacina contra a COVID-19, para a estrita diversão fascista. Esse diversionismo,
essa alienação futebolística, precisa acabar e rapidamente.
Não dá pra torcer para um conjunto desses, ainda mais
lembrando que 30 milhões de pessoas passam fome, morrem de fome, esquecidos,
excluídos, banidos, ferrados pelo Poder Político – ainda mais esse, colonizado
pelo Fascismo.
Eu torço, sim, pela restauração de tempos não-fascistas,
torço pelo êxito da luta constante em defesa da dignidade humana, pela saúde e
Educação Pública. Torço pela Constituição, pela Democracia, pelo Estado de
Direito; torço para que a inteligência social volte a ser nosso guia: mesmo com
todos os atropelos, erros e malfeitos praticados antes de 2016, nada se compara
ao atual Fascismo Mercenário – salvo o nazismo.
O que o terrorista faz, primordialmente?Provoca terror - que se manifesta nos sentimentos primordiais, os mais antigos e soterrados da humanidade q
Os direitos fundamentais têm esse título porque são a base de outros direitos e das garantias necessárias (também fundamentais) à sua ocorrência, fr
Ensaio ideológico da burocracia
Vinício Carrilho Martinez (Dr.) Cientista Social e professor da UFSCar Márlon Pessanha Doutor em Ensino de CiênciasDocente da Universidade Federal de
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