Segunda-feira, 28 de outubro de 2024 - 12h37
VIRADA
Embora a maioria dos analistas políticos não acreditasse numa
virada espetacular de Leo Moraes sobre Mariana Carvalho, esta coluna cravou
ainda em março - quando os 12 maiores partidos da capital anunciaram apoio à
filha de Aparício Carvalho -, que a união seria um fracasso e lembraria o
Titanic. Não foi a primeira vez que em Porto Velho os donatários das legendas
tentam impor ao eleitor candidaturas dos seus interesses em detrimento às
preferências do povo. Uma receita política rejeitada no passado e derrotada
humilhantemente no presente. A virada de Léo sobre Mariana foi simplesmente
espetacular.
ENCOLHEU
No primeiro turno, quando o Titanic de Mariana alcançou pouco mais
de 111 mil votos e o solitário Leo recebeu 64 mil votos; neste segundo, a
reviravolta foi tão devastadora que a candidata do União Brasil obteve seis mil
votos a menos que no primeiro. Um caso inédito onde uma favorita perde e ainda
encolhe entre um turno e o outro ao ser abandonada por eleitores que pularam do
barco antes de afundar. Mariana Carvalho encolheu nas urnas e diminuiu de
tamanho político após três derrotas fragorosas a cargos majoritários.
IMPOSIÇÃO
O prefeito Hildon Chaves foi o principal timoneiro de propagação
da campanha de Mariana Carvalho nesta reta final. Quem acompanhou a eleição
assistiu a um prefeito que abandonou a administração municipal para virar cabo
eleitoral. De rádio em rádio o prefeito vociferava críticas veementes ao
candidato Leo Moraes e derramava elogios à pupila que impôs como candidata à
sucessão. Mariana foi uma imposição dos caciques rondonienses sob a batuta do
prefeito.
ARROGÂNCIA
Hildon acreditou que seria capaz de transferir seu capital
político para a escolhida e não economizou no uso da força política e
administrativa para capturar votos. Quebrou a cara e o resultado das urnas fala
por si. Humildade é um sentimento nobre para quem está na política, mas essa
virtude anda escassa no prefeito, o que também contribuiu para a derrota de
Mariana Carvalho, embora o prefeito agora alegue que seja em razão à rejeição
que Mariana contabilizou na campanha.
PERDEDOR
Mesmo o governador Marcos Rocha também tenha manifestado apoio
público à candidata do União Brasil, com aparições na TV e rádio, sua
participação em toda a campanha foi permeada pela discrição e sem permitir o
uso indecente da estrutura pública estadual. Já Hildon Chaves aparecia mais nos
programas do que a própria candidata e exigia que colaboradores próximos fossem
às ruas pedir votos. Quem não acatou a ordem foi afastado dos postos em que se
encontrava. A forma agressiva pela qual adotou na campanha e na relação com as
pessoas que não concordavam com ele revela o tamanho da derrota que tentava
evitar. Mariana perdeu pela terceira vez consecutiva a um cargo majoritário,
Hildon amargou a primeira grande derrota no colégio eleitoral que achou que ser
uma extensão do seu patrimônio. Vivo foi Marcos Rocha que não passou o
constrangimento de aparecer na última fotografia que a derrotada fez em
despedida.
MAGISTRAL
O comportamento sereno, seguro e preparado de Leo Moraes nos
debates revelou o quanto os eleitores perceberam a diferença entre os dois
candidatos. Não foi à toa que a própria Mariana repetidamente se incomodou com
a postura do oponente que em eleições anteriores era mais beligerante. A sobriedade
de Leo nos debates pegou de surpresa uma adversária belicosa e estabeleceu uma
ligação de empatia imediata com os eleitores. Leo foi simplesmente magistral
numa campanha onde entrou como azarão e sagrou-se favorito para derrotar o
imponderável.
PESQUISA
Exceto o instituto Quaest que errou em Porto Velho nos dois
turnos, todos os outros institutos nacionais de pesquisa acertaram nos
prognósticos de vitória folgada de Leo Moraes. É preciso destacar o Veritá que
cravou certinho todas as pesquisas sobre as eleições da capital, resultados
sempre divulgados pelas emissoras do jornalista Everton Leoni. De forma
gratuita. Quem assistiu aos comentários de Leoni sobre esses números apurados
pelo Veritá percebia nas palavras do experimentado jornalista para onde o favoritismo
eleitoral sinalizava. Everton acertou no instituto e nas avaliações políticas
feitas em suas emissoras. Quem é do ramo dificilmente erra.
LOROTA
Os perdedores vão creditar ao temporal que caiu sábado à noite
sobre a capital o principal elemento catalisador que favoreceu a acachapante
vitória de Leo Moraes. Desculpa de perdedor. Uma eleição não se vence nem se
perde por apenas uma variável, exceto aquelas incomuns. Foram erros atrás
de erros que a campanha de Mariana cometeu, inclusive adotando estratégias de
trinta anos atrás que não fazem o menor efeito em tempos de internet.
DIFERENÇAS
A chuva que caiu sobre Porto Velho e alagou diversas ruas e
bairros revelou um comportamento diverso entre os dois candidatos: enquanto Leo
caminhou na lama debaixo da tempestade criticando o descaso administrativo com
as alagações, Mariana, Hildon e o vereador Breno Mendes se regozijavam aos
gritos de felicidade feitos adolescentes irresponsáveis num banho de chuva
registrado nas mídias sociais como um acinte a quem perdia tudo em razão do
temporal. Foram essas condutas (entre outras) que fizeram a diferença na
campanha. Leo transbordou de empatia, Mariana se encharcou de antipatia. São
diferenças que contam no final.
FORRA
Fernando Máximo, filiado ao mesmo partido de Mariana Carvalho, foi
mais um político que faturou com a vitória de Leo Moraes. Inicialmente favorito
no pleito, Máximo viu sua postulação ser violentamente fulminada pelos
dirigentes da legenda que optaram por refutar sua candidatura em favor de
Mariana Carvalho, que na época sequer era filiada ao União Brasil.
TROCO
Neste segundo turno, após apoiar discretamente o candidato
Benedito Alves no primeiro, o deputado federal mais votado de Rondônia declarou
e fez campanha ostensiva em favor do vencedor Leo Moraes. O anúncio foi
duramente criticado pelos apoiadores da candidata de Mariana Carvalho,
especialmente pelos impropérios ditos contra ele por Hildon Chaves numa
emissora de rádio local. Máximo deu o troco à puxação de tapete que levou em
março do União Brasil ao ser preterido de uma postulação que aparecia como
promissora. A vitória do aliado lhe deu mais visibilidade e o coloca como um
dos protagonistas nas eleições de 2026.
DESARMAR
Vencido o pleito é hora de Leo Moraes desfazer o palanque e
desarmar os espíritos mais beligerantes para se concentrar em reunir o maior
número de dados e planejar as primeiras ações para 2026. A campanha passa, mas
os problemas permanecem e a população não tem muita paciência com administrações
lerdas e formada no compadrio. É preciso colocar as pessoas certas, nos postos
adequados e competentes. Leo tem um desafio enorme em suceder um prefeito bem
avaliado e que não dará trégua toda vez que instado a falar sobre o sucessor.
Tem que adotar a mesma tolerância da campanha com as críticas e ignorar o
antecessor. É hora de se desarmar e concentrar as energias no trabalho.
MEDIDAS
As primeiras medidas administrativas que Leo deveria adotar estão
circunscritas em recomendações que o Tribunal de Contas sugeriu ao atual
prefeito e que foram em parte ou completamente desdenhadas. A extinção da
famigerada agência reguladora criada como cabide de emprego a quem sequer
entende de regulação, revisão do contrato de prorrogação da rodoviária e adotar
as medidas sugeridas pelo órgão de controle, tomada de contas na Emdur e Semob
para averiguar eventuais descompassos administrativos e rever ações para que a
Semagric seja mais ágil em atender aos distritos e área rural. São medidas
preventivas e necessárias, entre outras, ao início de uma gestão que se propõe
a ser popular.
DEDO PODRE
Bolsonaro está sendo considerado o dedo podre das eleições. Onde
ele apontou o candidato perdeu, a exemplo de Mariana Carvalho. Ainda esteve por
aqui a messiânica Michelle Bolsonaro e a “goiabeira” Damares Alves. Nem assim
conteve a perda de votos da filha de Aparício. Foi uma eleição em que o cidadão
começa a sinalizar que está farto do extremismo e optou em voltar ao centro,
posição que sempre professou a maioria dos brasileiros ao longo de sua história
pós ditadura.
ESQUERDA
Apesar do encolhimento dos petistas em Rondônia, quando votam numa
candidatura que não seja sua, descarregam em massa os votos. Foi assim com
Confúcio Moura, Marcos Rocha e agora repetem com Leo Moraes. A esquerda não
ganha, mas ajuda a derrotar quando votam para a derrocada do inimigo comum. Os
votos da esquerda na capital, conforme revelaram as urnas, foram para Leo
Moraes. O único a destoar desse rol foi o ex-candidato a prefeito pelo PDT,
Célio Lopes, que anunciou de forma envergonhada apoio a Mariana Carvalho. Um
apoio tão tímido e destrambelhado que ninguém mais lembra do candidato
pedetista.
TRAIDORES
A esquerda nunca perdoa traidores, isto é um fato que Palloci
experimentou e Célio experimentará. Nada adiantaram os memes
“marianistas” nas redes sociais de que o PT era Leo e Leo o PT. A
população sabe bem distinguir as coisas na política e besta é quem a trata como
obtusa. Quando um candidato cai nos braços do povo nem por reza forte muda de
posição. Leo caiu na graça do eleitor que lhe concedeu uma vitória até então
inimaginável.
EMPATE
Nossa coluna Resenha Política foi a única do gênero a confirmar o favoritismo de Leo Moraes nas urnas. Também cravamos que a diferença seria substancial bem diferente dos que apostavam em uma diferença apertada. Leo venceu com folga e ainda impôs a humilhação à adversária por perder seis mil votos do primeiro para o segundo turno. Agora terá mais tempo para torcer pelo Botafogo, que, aliás, tem virado uma espécie de ‘cavalo paraguaio”.
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