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Rondônia Inca

Caçadores de pedras e montes perdidos despertam interesse internacional


 

Observatórios de Cuzco e de Guadalajara se interessam pelas descobertas de Joaquim Cunha e equipe, no sul de Rondônia. E paleontólogo do Acre sugere sobrevôos na Serra da Muralha. 

MONTEZUMA CRUZ
Agência Amazônia
 

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ROLIM DE MOURA, RO – Durante as expedições, os integrantes da equipe do farmacêutico e bioquímico Joaquim Cunha da Silva pararam apenas para contemplar paisagens, ou para comer e beber água. Andaram a pé durante o dia em busca de raízes longínquas que não estão nos livros de história do Ensino Fundamental rondoniense. Geoglifos, pedras, restos de cerâmica e metais na região sul de Rondônia e a muralha entre Rondônia e Acre começam a exigir estudos agora, embora despertem a atenção de pesquisadores desde os anos 1980.

Enfim, pesquisar pedras para quê? Em sã consciência, quem vai embrenhar-se no mato, levar picadas de insetos, sofrer aranhões em tabocais, para alcançar esses misteriosos vestígios de uma civilização milenar? A equipe de Cunha topou a parada e foi procurar o Reino Gran Moxo ou o Paititi, com direito a banhos de rio, a cozinhar em fogão improvisado no chão, e a ouvir relatos de sitiantes e fazendeiros em cujas propriedades estão os pedaços do rico sítio arqueológico registrado no Cartório de Rolim de Moura.

Valeu a pena atravessar a floresta com sororoca e palmeiral. O Planetário de Cuzco (Peru), o Observatório Planetários de Guadalajara (México) e o pesquisador Carlos Andrade, do Observatório Municipal de Americana (SP), entraram em contato com Cunha, pedindo-lhe informações. 

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A Pirâmide Bambu deverá ser rebatizada de Pirâmide do Sol. É uma das descobertas de Cunha, com fundamento em imagens georreferenciadas de satélite /ÁLBUM PAITITI



Serpente, Jaguar e Condor

O Observatório de Americana permite a todas as pessoas, sem distinção, o acesso a observação dos corpos celestes e dos fenômenos astronômicos, por meio de instrumentos propícios a esse tipo de atividade. Nos últimos anos ele vem colocando a população a par dos progressos e da moderna tecnologia que se desenvolve nas áreas da Astronomia e da Ciência Espacial.

“Vou colocar o nome de Pirâmide do Sol na Pirâmide Bambu”, disse animado esta semana o pesquisador. Ele também destaca a necessidade de vincular a Pirâmide do Condor com a oficina lítica do rio Bambu. Cunha levou à Procuradoria da República, em Ji-Paraná, todos os detalhes do sítio arqueológico localizado no antigo curral da Fazenda Glowasky, visitada este ano pela expedição. Um garimpeiro conhecido por João de Deus auxiliou muito nas pesquisas.

Estudos dos geoglifos da Serpente, Jaguar e Condor, mencionados em matérias desta série, começaram há mais de 20 anos, lembra Cunha. “Ouvimos pessoas que vivenciaram esta região para saber o relevo, flora,fauna,cultura e tradições e que tipos de etnias vivem aqui”, informou. Cunha também conversou muito com os irmãos dele, o falecido sertanista Aimoré Cunha da Silva, que dirigiu o Parque Indígena Aripuanã, e o antropólogo Irani Cunha da Silva. Falou ainda com o sertanista Evandro Santiago, que trabalhou na região durante 14 anos, de 1989 a 1992 na Frente de Atração de Indios Isolados na Reserva Biológica Guaporé e ex-membro da ONG Kanindé. Com Gilberto Glowaski, morador na área dos geoglifos da Via-Láctea, não só dialogou, mas percorreu as terras em companhia dele. 

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Há milhares de anos, o atrito de pedras produzia fogo. Cunha fez esta foto para demonstrar o antigo e o moderno (isqueiro) /ÁLBUM PAITITI



Ibama começa estudos

A pedido do Instituto do Patrimônio do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) designou o engenheiro agrônomo João Alberto Ribeiro para dar seqüência às investigações de Cunha. Ribeiro está catalogando imagens de satélite de alta resolução, do local. “Ele pediu fotos e coordenadas geográficas,e prometeu que no final de outubro visitará todas as áreas por onde passamos com as nossas expedições”, contou Cunha à Agência Amazônia. “Pedi para providenciarem um helicóptero”, disse.

No chão e nas pedras próximas aos rios, o Ibama terá muito a constatar. Terá que ir, por exemplo, aos paredões rochosos no interior da Terra Indígena Massaco, em Alta Floresta do Oeste. É um lugar fantástico e ainda fora de qualquer estudo turístico do município. Poucas pessoas chegaram até lá.

“Estamos muy interesados en sus trabajos de investigacion. Estamos en la linea investigavtiva del antropologo Jacques de Mahieu e incluso hemos financiado expediciones arqueológicas. Quedamos a su disposicion”, escreveu o diretor da Oficina Central do Planetários de Guadalajara, Alejandro Veja Ossorio.

PING-PONG
Paleontólogo diz que Rondônia deve estudar seus geoglifos

CHICO ARAÚJO
chicoaraujo@agenciaamazonia.com.br
  

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Este paredão encontrado perto de um rio, na Terra Indígena Massaco, mostra aos moradores de Alta Floresta do Oeste que o lugar é bem diferente do restante do Estado de Rondônia. Logo, precisa ser estudado /ÁLBUM PAITITI



BRASÍLIA – O Acre tem 250 geoglifos, todos catalogados pela mestra em História e Arqueologia Denise Pahl Schaan, disse à Agência Amazônia o paleontólogo Alceu Ranzi. “Temos informações seguras de geoglifos no Amazonas, Rondônia e Bolívia”, revelou 

“É natural e urgente que eles sejam estudados”, defendeu Ranzi. No entanto, conforme frisou, os estudos em Rondônia e Amazonas dependem de projetos aprovados pelo Instituto do Iphan. De Rio Branco, onde trabalha, ele lembrou que as universidades desses estados possuem pessoal qualificado para estudar os geoglifos. 

Como foi a descoberta dos geoglifos no Acre? 

ALCEU RANZI – A descoberta dos geoglifos do Acre aconteceu em 1977. Mas na época não eles foram chamados de geoglifos. A notícia da descoberta foi dada 11 anos depois, em 1988, em um artigo, assinado pelo arqueólogo Ondemar Dias, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, e pela pesquisadora Eliana Carvalho, do Instituto dos Arquitetos do Brasil, com o título de "As estruturas de Terra na Arqueologia do Acre". Junto com eles, nessa expedição, estivemos o arqueólogo Franklin Levy, também do IAB, e eu, por indicação da Universidade Federal do Acre, a pedido do doutor Ondemar. Na época eu era aluno de graduação em Geografia. Portanto, eu não descobri os geglifos do Acre, mas estava presente no dia da descoberta. 

Onde foi? 

O local fica próximo da antiga sede da Fazenda Palmares, na rodovia para Xapuri. Mais tarde, ali se instalou a Usina da Alcobrás, atualmente sob a denominação de Alcool Verde. O doutor Ondemar trabalhou olhando as "estruturas de terras" do nível do solo. Só a visão do alto revela a monumentalidade dos geoglifos. Esse tem sido o nosso trabalho, ou seja, divulgar as imagens dos geoglifos a partir da visão aérea, com as fotos dos fotógrafos Agenor Mariano em 1986, Edison Caetano em 2000, 2001 e 2008, Sérgio Vale em 2005 e Diego Gurgel 2009. 

Agora eles surgem em Rondônia. É preciso estudá-los? 

É só olhar um mapa da Amazônia e poderemos perceber que menos de 20 quilômetros separam as divisas do Acre, Amazonas, Rondônia e a fronteira com a Bolívia. No Acre, o Projeto Geoglifos, sob o comando da doutora Denise Schaan, já catalogou mais de 250 geoglifos. Temos informações seguras de geoglifos no Amazonas, Rondônia e Bolívia. É natural e urgente que os geoglifos sejam estudados, de preferência por equipes multidisciplinares envolvendo arqueólogos, geólogos, geógrafos, botânicos, palinólogos, historiadores e outros profissionais, entre eles, climatólogos, etnógrafos e cartógrafos. 

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Mais uma gigantesca evidência de que a Zona da Mata, muitos séculos antes de ter esse nome, pode ter sido parte integrante de um reduto de incas, nesta parte da Floresta Amazônica /ÁLBUM PAITITI



O que os geoglifos representam para Amazônia? 

Como disse a doutora Denise Schaan, “ao deparar-se com os geoglifos a partir de uma vista aérea, doutor.Ranzi teve a visão que é o sonho de qualquer arqueólogo trabalhando na Amazônia: ele viu algo gigantesco, o produto da ação coordenada e engenhosa de sociedades humanas que aqui viveram muitos séculos antes da chegada dos europeus, nesse lugar que, por muitas décadas, foi considerado inóspito para o desenvolvimento de sociedades complexas. Por mais que tivesse antes visto do solo, a geometria perfeita dos geoglifos e a associação entre as várias estruturas é somente realmente percebida do alto”. 

Esses geoglifos de Rondônia, têm ligações com os dos Acre? O senhor está disposto a estudá-los? 

Tudo indica que os geoglifos na região da divisa Acre, Rondônia e Amazonas são parte de um mesmo complexo cultural. No Projeto Geoglifos, sob a direção da doutora Denise Schaan, temos autorização do Iphan para estudar os geoglifos do Acre. Estudos em Rondônia e Amazonas dependem de Projetos aprovados pelo Iphan. Em Porto Velho, na Universidade Federal de Rondônia, existe pessoal qualificado para desenvolver com qualidade e competência esse tipo de estudo. Pessoal qualificado também existe nas universidades do Amazonas. Se formos convidados, certamente poderemos participar. 

A Serra da Muralha deve ser estudada? 

Todo e qualquer vestígio pré-histórico deveria ser estudado. Representa um patrimônio de todos os brasileiros. Uma muralha de pedra, no alto de uma serra, na Amazônia, aguça a curiosidade de qualquer um. Essa muralha seria um artefato natural da geologia ou uma obra antropogênica? Se obra de humanos, seria do tempos coloniais ou de antes da chegada dos europeus "conquistadores"? 
Essa muralha poderia ser uma avançada fortaleza Inca? 

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Numa das margens do Rio Bambu, o pesquisador Joaquim Cunha localizou sinais nas pedras. Tão importantes quanto as inscrições rupestres que aparecem em Presidente Médici e próximo à Serra da Muralha /ÁLBUM PAITITI



O senhor aceitaria fazer uma expedição para a área já que tem experiência nesse tipo de investigação? 

Essa expedição exploratória poderia ser organizada por nossos colegas da UNIR. E assim, se convidado, aceitaria participar. Minha sugestão é que antes de uma desgastante expedição por terra, se faça um sobrevôo, com a presença de um fotógrafo profissional, e se obtenha boas fotos do local. Mas o melhor mesmo, mais prático, mais rápido e com certeza mais barato, seria uma exploração com auxílio de helicóptero. 

● O Observatório de Guadalajara informou Cunha que estuda as constelações incaicas. Acompanhe no site da instituição. Clique aqui. 

● Veja também o portal dos Planetários aqui. 

● Mais Planetários, aqui. 
 
 

 

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