Quarta-feira, 26 de outubro de 2022 - 22h09
A educação é uma responsabilidade dos pais; eles educam e a
escola ensina, ambos no marco do respeito às crianças, sem imposições
coercitivas, amedrontamentos e castigos que venham comprometer seu
comportamento futuro, gerando revoltas e traumas, inibindo seu potencial em
discernir entre realidade e surrealismo, entre o plano material e a imaginação
desejada, entre a história e a ficção. Liberdade sem respeito ao direito alheio
é ultraje inaceitável no mundo civilizado. O direito dos pais deve observar onde
começa direito dos filhos. As crianças precisam receber informações para que
possam desenvolver raciocínio próprio, correto e descontaminado de sectarismos
de qualquer natureza. Esses "princípios" não devem ser colocados como
verdade absoluta e permanente. Devemos ensinar as crianças sem forçar,
respeitando a espontaneidade e o livre arbítrio, segundo o qual elas também têm
direito a interpretação própria, para não caracterizar a conhecida “lavagem
cerebral”, extremamente nociva e contraproducente em qualquer fase da vida. O
endeusamento de figuras humanas no processo de formação da criança não deve ser
admitido sob nenhuma hipótese.
O mundo civilizado já não admite práticas arcaicas tais
como “castiga com vara e nem por isso morrerá,” ou qualquer tipo de
constrangimento que altere ou ameace o bem-estar físico e mental de nenhum ser
humano, em particular as crianças, parcela mais vulnerável da população.
Não existe base razoável para que uma criança seja
covardemente forçada a submeter-se a aceitar a imposição de conceitos e
ensinamentos de forma coercitiva.
As crianças merecem ser respeitadas e protegidas desse
terrorismo psicológico. Educar e ensinar significa oferecer as ferramentas que
lhes permitam e induzam ao exercício da razoabilidade, não à assimilação pura e
simples de ideias alheias. Mentiras arcaicas, delirantes e razoavelmente
insustentáveis são usadas por adultos que, acreditando estarem educando, acabam
impondo tradições mentirosas que algum dia foram obrigados a aceitar como
verdades absolutas. Essas têm sido usadas por gerações na "lavagem"
de cérebros inocentes, que acabam aprisionados na formatação micro da
realidade, atrofiando a capacidade do exercício mental, e prejudicando a
ampliação do conhecimento e o exercício do senso crítico, devido ao bloqueio
mental na fase adulta, um prejuízo que se reflete inclusive no âmbito
profissional, em todas as áreas do conhecimento, por meio de pessoas
privilegiados com a educação que não conseguem se livrar das sombras do atraso
milenar prevalescente. Em pleno século XXI, tentam conciliar realismo e
surrealismo, projetando "conhecimento" hipotético sobre a vida após o
plano material.
Essa prática covarde, irresponsável, imoral e criminosa,
quando confundida com educação, limita e dificulta a evolução pessoal, condena
inocentes ao confinamento em labirintos mentais obscuros, atemorizados pela
crença de que sofrerão "castigos divinos" se procurarem conhecimento
para compreender com claridade a história universal, e usar o raciocínio lógico
de forma livre. Esse bloqueio mental imperceptível, disfarçado de bons
princípios, tem consequências terríveis relativas à dominação à qual as massas
incultas e crédulas estão submetidas, e para a qual dificilmente encontrarão a
cura, que os libertaria dos legados rançosos da ignorância patriarcal que
tentam perpetuar, facilitados pela omissão de estados corruptos e coniventes.
Não existe legislação que proteja o cidadão dessa prática que atenta contra a
evolução da própria humanidade, mas mantém fortalecida a poderosa indústria da
dominação que atende aos interesses das elites que lucram com a injusta e
imoral submissão das massas.
Faz-se necessária mais conscientização e inadiável empenho
da ação científico-acadêmica da área de psicanálise, no incentivo à elaboração
de teses de mestrado e doutorado que possam orientar a ação dos legisladores na
correção de tais distorções. Esse tema é de incontestável importância para a
descompressão e a correção a longo prazo dessa cultura social nociva e
opressiva, que poderá continuar a impactar severamente a construção da
identidade de muitas crianças no futuro.
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