Quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022 - 17h54
Entristece constatar em todas as redes sociais debates triviais, inócuos e infindáveis a postura inconcebível de parcela do conjunto de atores midiáticos convergindo para vertentes de natureza político-partidária, ideológica e até religiosa.
Esse comportamento protagonismo equivocado os diminui à condição de meros agentes especulativos, extrapolando abusivamente os parâmetros conceituais da liberdade de imprensa e indiferentes à importância da indispensável escolha de temas legítimos, sobretudo, os de irrefutável relevância vital para a humanidade, deveriam ser pautados com prioridade e empatia.
Se assim fosse, encontrariam soluções a problemas gravíssimos, e inadiáveis que afetam populações mais vulneráveis, essas sim, dignas de serem vistas a cada 24 horas.
Numa inversão de valores pouco razoável, atores midiáticos se dedicam a premiar futilidades, sexismo, criminalidade e a indústria do entretenimento, de duvidoso gosto, destinando injustificável espaço no noticiário, e com isso, mantendo a sociedade distraída e confusa.
Enquanto isso acontece, atores políticos a serviço do poder econômico se tornam cada vez mais bestialmente ricos à custa do empobrecimento coletivo. Ávidos e espertos, transformam em lucro catástrofes naturais, guerras e pandemias que castigam os mais pobres ante a ausência de sensibilidade social.
Os mais imaturos e pretensiosos vestem-se com toga de “juízes”, mostram-se distanciados da razão e do aprendizado acadêmico e científico, em consequência dos percursos pessoais e profissionais, das carícias ao ego e da paixão pelas correntes com as quais se simpatizam, ofuscando o profissionalismo.
Ao mesmo tempo, maculam o admirável legado construído com sobriedade pelos mestres do bom jornalismo, sob a égide da estrita observância à ética, com o único objetivo de informar em vez de propagar desorientação, abstendo-se de influenciar tendenciosamente como forma de afirmação pessoal e atendimento dos interesses de seus empregadores.
Ofuscam a competência à luz do conhecimento acadêmico, da técnica, da ciência, sobretudo, do zelo que deveriam primar pela isenção e imparcialidade plena na formatação de opiniões.
Em vez de construírem, se inspiram em paixões desvairadas, confundindo e comprometendo a qualidade do debate público, evidenciando um estágio de infantilidade que têm maculado o sistema de comunicação midiática como um todo, tornando-o cúmplice e partícipe ativo do status deplorável de desigualdades, injustiças e violência, numa tríade complexa e homogênea entre mídia, política e opinião.
Sistematicamente, parcela considerável dos artífices da mídia atuam como propagadores voluntários, emotivos e apaixonados, escolhendo como prioridade o enfoque conjuntural em detrimento das questões legítimas de caráter estruturais, enquanto propostas sérias são depositadas irresponsavelmente nas lixeiras do submundo cibernético.
Parecem ignorar ou não entender que existe um inimigo comum a ser combatido, no lugar daqueles premiados com desproporcional
visibilidade.
Desigualdades sociais e econômicas, a fome propriamente dita, e muitos problemas estruturais causam mortes e
desafiam a inteligência humana. Infelizmente, seguem-se as mazelas, os rumores de guerra, todos
causando nociva apreensão no plano psicossocial. Como dói a realidade!
Sem o entendimento correto do papel dos artífices da imprensa, ela apenas existirá como um poder subserviente a serviço das elites econômicas e políticas obcecadas por lucros tão extraordinários quanto imorais.
Enquanto isso, equidistantes e conscientes que não poderão mudar o curso da história, uns poucos, invadidos pelo sentimento de tristeza e impotência, se resignam a observar apreensivos esse cenário patético de “pão e circo”, que agride a razão e macula a própria dignidade humana.
Ao fim, nem todos alcançam a maturidade profissional que permita superar a indiferença aos bons propósitos, mas seguramente, os que ousam exercitar a profissão com cidadania, haverão de retornar ao plano original com a consciência tranquila e a gratificante certeza de estarem livres do desagradável e pesado título de omissos nos registros do Universo eterno.
O que dizer mais? Siga o espetáculo!!!
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