Terça-feira, 17 de março de 2015 - 16h28
Orientar a população para tomar precauções e prevenir-se contra a malária em Candeias do Jamari é o trabalho da força-tarefa, envolvendo servidores estaduais e municipais, que desde o inicio do mês está atuando nos bairros da cidade. O objetivo é baixar o número de casos do município, que teima em se manter o mais elevado de Rondônia.
O maior problema enfrentado pelos integrantes do mutirão é a resistência dos moradores, que não permitem o acesso dos funcionários às casas. “A participação da população é fundamental”, destaca o coordenador estadual de controle da malária, Roberto Nakaoka, da Agência Estadual de Vigilância em Saúde (Agevisa), que junto com o secretário municipal de Saúde, Heraclio Rodrigues Duran, está coordenando a força-tarefa. A base do controle é a eliminação das fêmeas do mosquito transmissor da malária (do gênero anopheles). A borrifação residual do inseticida tem que ser feita no interior das casas.
“Esse trabalho garante a segurança do local por quatro meses”, explica o técnico. “Mas boa parte dos moradores não quer deixar o trabalho ser executado”. Segundo Nakaoka, a cobertura precisa ser feita por completo. “Não adianta borrifar apenas algumas casas, todas têm que passar pelo mesmo processo”.
O secretário Duran está fazendo um apelo a população para que abra as portas de suas casas para os membros da força tarefa, que são identificados com uniforme. “Os agentes comunitários de saúde já estão fazendo o trabalho preliminar e nós esperamos que, somado a divulgação, haja uma mudança de comportamento”, diz o secretário. Profissionais da área de saúde já foram orientados e nas escolas também haverá algumas campanhas educativas para mostrar a população que o controle da malária só vai acontecer se os moradores colaborarem.
Candeias do Jamari é o único município rondoniense que ainda consta nas estatísticas de controle da malária como o de maior Incidência Parasitário Anual (IPA), um indicador utilizado no mundo inteiro para fazer a estimativa do adoecimento da população. O número é calculado com base a cada mil habitantes e obedece a uma escala. O IPA acima de 50 é de alto risco, e Candeias fechou 2014 com o IPA de 64.4, índice que tem preocupado as autoridades sanitárias. “É mais fácil ser contaminado pela malária em Candeias, do que em Porto Velho”, ressalta Roberto Nakaoka. Na capital o IPA é de 5.9, valor classificado como de baixo risco.
Além de enfrentar dificuldades para o controle e combate ao mosquito transmissor, outro agravante é o descaso com que a população tem tratado a doença. “As pessoas sentem os sintomas, mas não buscam o diagnóstico profissional, através de exames e muitas vezes quando o fazem, nem sempre completam o tratamento. A malária mata, mas está, de certa forma, banalizada”, reconhece Nakaoka. “Equipes de saúde estão percorrendo bairros e colhendo amostras em todas as casas e já identificaram casos positivos da doença em pessoas que não tinham sequer o sintoma”, explica Joana Sena, apoiadora municipal para o controle da doença.
As duas espécies mais comuns de malária são a falciparum e a vivax, ambas existentes em Candeias, mas a meta é reduzir a primeira, que é mais grave. Todavia, o combate de uma resulta na redução de ambas. Candeias do Jamari, em 2012 e 2013 teve uma redução no número de casos, mas não deixou a posição de alto risco. Apesar disso, os levantamentos indicam um crescimento na espécie falciparum, em comparação a anos anteriores “é um mal que pode evoluir rapidamente”, preocupa-se o coordenador da Agevisa.
Para o sucesso do trabalho da força tarefa, a população precisa entender que Candeias do Jamari é uma região endêmica, que 60% os casos registrados estão na área urbana, que quem não procura tratamento é fonte de infecção, que a borrifação residual nas residências é fundamental para eliminar os mosquitos contaminados. A termonebulização, popularmente conhecida como fumacê apresenta resultado imediato, mas sem sustentação. “Neste caso só são eliminados os mosquitos atingidos no momento, e a borrifação interna garante quatro meses sem a presença do mosquito.
A parceria entre estado e município, para o secretário Duran, está sendo de grande valia. Segundo ele, sem o apoio do estado seria impossível realizar o trabalho para o controle da malária, que é de responsabilidade municipal. No controle de vetores a força tarefa conta com sete profissionais envolvendo servidores federais, estaduais e municipais.
MACHADINHO DO OESTE
O município de Machadinho do Oeste, que já foi manchete nos noticiários nas décadas de 80 e parte de 90 e fonte de artigos de especialistas, em 2014 atingiu o IPA de médio risco e no ano seguinte passou para o de baixo risco, ou seja a incidência é de um a nove casos para mil pessoas. Para vencer a doença a população precisou participar. “Foi feito um forte controle vetorial, ou seja borrifação nas casas, uso do mosquiteiro impregnado e implementação de diagnóstico e tratamento”, explica Luciano Bulegon, apoiador do controle de malária, convocado para a força tarefa em Candeias. Com sua experiência ele acredita que se a população de Candeias der ouvido as autoridades, a cidade vai alcançar a meta como Machadinho.
Municípios como Vilhena, Chupinguaia, Cabixi, Corumbiara e Ji-Paraná estão entre as localidades com IPA zero, sem o registro de malária quer na rede pública ou privada.
Fonte
Texto: Alice Thomaz
Fotos: Marcos Freire
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