Sábado, 10 de outubro de 2015 - 05h15
Um estudo feito em quatro países latino-americanos (Argentina, Brasil, Colômbia e México) demonstra que a artrite reumatoide interfere na produtividade dos pacientes e é uma das maiores causas de afastamento e desemprego no país. O estudo, ainda não finalizado e inédito no Brasil, acompanha, por um ano, 309 pacientes em centros de reumatologia dos quatro países.
Realizado por três importantes centros de pesquisa brasileiros – Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Centro Paulista de Investigações Clínicas (Cepic) e Hospital de Clínicas de Porto Alegre –, o estudo tem apoio do laboratório AbbVie.
Entre os países pesquisados, o Brasil apresentou o maior índice de desemprego entre pessoas com artrite reumatoide: seis em cada dez pacientes (60%) estavam desempregados. No México, o índice alcançou 46%, na Colômbia, 39%, e na Argentina, 27%.
“O objetivo do estudo é dar uma ideia de qual é a carga da doença na população brasileira, ou seja, o ponto em que a doença interfere na vida e na capacidade profissional e na qualidade de vida das pessoas”, disse o coordenador do estudo, Ricardo Machado Xavier, professor titular de reumatologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Segundo Xavier, a pesquisa é importante para mostrar o impacto da doença na vida das pessoas e também o impacto econômico.
O médico disse que o impacto na vida dos pacientes é muito grande, principalmente em termos de incapacitação funcional. “Por causa da doença, várias pessoas são afastadas do trabalho provisoriamente ou têm sua produtividade diminuída.”
Os países incluídos no estudo apresentam, teoricamente, as mesmas condições que o Brasil. “A carga da doença é variável conforme a estrutura social em que o paciente vive. Temos muito dados do impacto da artrite reumatoide na vida das pessoas em países do Primeiro Mundo, onde há mais acesso à saúde e mais facilidade de acesso a cuidadores, coisas sobre as quais não tínhamos nenhum dado, até o momento, no Brasil e em outros países da América Latina”, explicou o médico.
As razões pelas quais o Brasil registra maior índice de desemprego entre os países analisados ainda não foram analisadas ou concluídas. “Se é por maior dificuldade de acesso, ainda não sabemos, porque, em geral, o acesso a drogas melhores está mais ou menos igual nos países avaliados e, no Brasil, ainda melhor que nos outros. Não sabemos se a população de pacientes [no Brasil] foi mais grave – é preciso fazer uma análise estatística para avaliar. Talvez seja pelas condições de trabalho ou pela legislação trabalhista no Brasil, mais favorável ao funcionário. Essas são algumas das questões que surgiram [no estudo].”
Segundo Xavier, o Brasil está “razoavelmente preparado” na questão do acesso aos medicamentos. “A grande dificuldade, no entanto, é o acesso do paciente ao reumatologista.” Ele disse que, em Porto Alegre, por exemplo, o tempo médio em que o paciente recebe o encaminhamento do posto de saúde para o reumatologista é de um ano e meio a dois anos. “E nisso perde-se a janela de melhor oportunidade para tratar esse paciente. O grande gargalo do país hoje está nisso aí.”
O estudo demonstrou também que oito em cada dez pacientes brasileiros (83% do total) sentem muita dor e desconforto por causa da doença, problemas relatados por 67% dos argentinos, 70% dos colombianos e 71% dos mexicanos.
Doença crônica e sem cura
A artrite reumatoide é uma doença crônica, inflamatória e sem cura, que atinge cerca de 2 milhões de pessoas no Brasil. “A doença afeta as articulações e é crônica, ou seja, dura continuamente, por muito tempo. E esse processo inflamatório crônico acaba levando à lesão da articulação, machucando, destruindo a articulação e levando à deformidade e incapacitação física com o tempo”, explicou Xavier.
De acordo com o médico, as doenças musculoesqueléticas, nas quais se inclui a artrite reumatoide, estão entre as maiores causas de afastamento do trabalho no Brasil. No entanto, se o tratamento é iniciado logo que a doença é diagnosticada, a pessoa consegue trabalhar e desenvolver suas atividades de forma normal.
"O tratamento hoje é bastante efetivo. Temos muitas opções terapêuticas. O percentual de pacientes em que não conseguimos o controle adequado da doença é realmente muito pequeno hoje. Se ele faz o tratamento e tem acesso ao médico, vai ficar bem", afirmou.
*A repórter viajou a convite da Pfizer e do Congresso Brasileiro de Reumatologia
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