Terça-feira, 10 de junho de 2014 - 07h44
Alana Gandra
Agência Brasil
Estudo feito na Copa do Mundo de 2002, na Suíça, constatou aumento de 63% na incidência de morte súbita cardiovascular durante o evento. Também na Copa da Alemanha, em 2006, o número de casos de emergências cardíacas cresceu mais de duas vezes, informou à Agência Brasil o diretor da Sociedade de Cardiologia do Estado do Rio de Janeiro (Socerj), Cláudio Tinoco.
A entidade alerta sobre a necessidade de serem tomadas medidas preventivas em momentos de estresse e grande emoção coletiva, como a Copa do Mundo, por parte dos torcedores, principalmente aqueles que têm histórico de doença cardiovascular. O Mundial começa nesta quinta-feira (12).
Um novo estudo, que acaba de ser publicado na Revista Brasileira de Cardiologia, da Socerj, “tem tudo a ver com o momento da Copa”, destacou Tinoco. O estudo feito com 17 pacientes, no Instituto de Cardiologia de Santa Catarina, em 2012, avalia o comportamento de um grupo de pessoas enquanto assistia a uma partida do time de futebol pelo qual torce, comparando com outro grupo que assistia a um filme de comédia.
Cláudio Tinoco informou que o comportamento da pressão arterial e do batimento cardíaco foi bem claro. “Quando a pessoa está assistindo [a um jogo], há uma descarga de adrenalina. A frequência cardíaca aumenta, o número de batimentos aumenta e a pressão arterial sobe. Totalmente diferente de quando a gente está assistindo a um filme relaxante, em que a pressão e o número de batimentos tendem a cair”.
Segundo o cardiologista, vários estudos têm mostrado que há um aumento da taxa de doenças cardiovasculares durante os grande eventos esportivos. Ele disse que dados recentes indicam que também na primeira Copa do Brasil, em 1950, houve aumento da taxa de doenças cardíacas.
Por isso, lembrou que toda vez que a pessoa está em um grande momento de emoção coletiva, como torcendo pelo seu time, ocorre uma liberação dessas substâncias, conhecidas como hormônios do estresse, na corrente circulatória, que fazem com que o organismo reaja com aumento da pressão e da frequência cardíaca. Nas pessoas que têm risco maior de complicações cardíacas, pode causar infarto do miocárdio, arritmias, morte súbita, que são as complicações desse tipo de estresse no coração, explicou.
Cláudio Tinoco orientou sobre o que fazer para evitar o aumento desse risco. A quem tem um problema cardíaco, um passado de infarto do miocárdio, já fez cirurgia de ponte de safena ou algum tipo de angioplastia (desobstrução) das artérias, “a gente recomenda acompanhamento regular com o cardiologista ou o clínico. E se essas pessoas estão há muito tempo sem ter um acompanhamento, procurem antes da Copa do Mundo, ou de outro grande evento esportivo, como as Olimpíadas, para fazer uma avaliação clínica”.
Isso se justifica, disse Tinoco, porque se a pessoa já está com pressão alta, colesterol alto, ou diabetes não controlado, se está tendo angina ou dor no peito, todos esses dados a colocam em maior risco. O médico vai avaliar o que ela precisa fazer para reduzir o risco dessas complicações mediante estresse. Outras pessoas que nunca tiveram problemas cardíacos, mas que apresentam esses fatores de risco – pressão alta, colesterol alto, são fumantes, estão acima do peso, são diabéticas, fazem pouca ou nenhuma atividade física, são sedentárias - devem, a qualquer momento, procurar o médico para avaliar e controlar esses fatores, recomendou. .
“Porque, quando a gente controla tudo isso, a pessoa passa a ter um risco muito menor de ter esses eventos cardiovasculares”. Ele lembrou ainda que em 50% das pessoas, a primeira manifestação de uma doença cardíaca é um infarto ou uma morte súbita. “Então, a gente precisa trabalhar antes. E é nessas pessoas de risco que a gente tem o foco da prevenção”.
Outro estudo, publicado no British Medical Journal, constatou aumento de 25% na incidência de infarto agudo do miocárdio por ocasião do jogo Inglaterra e Argentina, na Copa do Mundo de 1998.
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