Segunda-feira, 4 de agosto de 2008 - 15h49
Cupuaçu pode originar filtro solar para prevernir câncer de pele
Tião Maia (*)
Um filtro solar à base de óleo extraído da fruta do buriti ou da gordura da semente do cupuaçu deverá ser desenvolvido pela Fundação de Tecnologia do Acre (Funtac) em parceria coma Vita Derm para ajudar no combate e na prevenção ao câncer de pele. Empresa brasileira especializada na fabricação de produtos de beleza e estética, a Vita Derm deverá se aliar ao governo do estado, através da fundação de tecnologia, na luta contra o câncer de pele, responsável por 6% dos casos de câncer no Brasil.
O projeto é de autoria da Funtac e apoiado pelo médico e senador Tião Viana (PT-AC), articulador do envolvimento da Vita Derm com as pesquisas. O projeto está orçado em R$ 320 mil, patrocinado pela própria Vita Derm, e deverá estar concluído dentro de um ano. O novo produto deverá ser distribuído inclusive pelo SUS (Sistema Único de Saúde) às pessoas com propensão a desenvolver o câncer de pele. O senador destacou que o projeto é importante porque é vinculado à idéia de sustentabilidade e preservação da Amazônia, "com a floresta produzindo riquezas e benefícios à humanidade sem ser destruída".
Foi Tião Viana quem conseguiu envolver a Vita Derm com o projeto. A seu convite, o fundador da empresa, Marcelo Schulman, chega a Rio Branco nesta sexta-feira e à noite deverá fazer palestra ao empresariado local, na sede da Federação das Indústrias do Acre (Fieac), sobre sua experiência de industrial cuja atividade começou em 1984, no interior de uma pequena farmácia de manipulação e hoje possui uma indústria de 10 mil metros quadrados, com capacidade de produção de 600 mil unidades por mês. A Vita Derm também está se preparando para investir R$ 30 milhões na construção de mais quatro fábricas no país, uma delas na Amazônia, para aproveitar produtos naturais da região, os fármacos e fitoterápicos.
O empresário também deverá falar sobre o potencial dos cosméticos na economia e sobre a importância do componente natural e amazônico neste segmento cada vez mais crescente da indústria brasileira e mundial. É cada vez mais crescente o número de pesquisas que apontam a importância de fitocosméticos extraídos de produtos naturais encontrados apenas na Amazônia no auxilio e combate a vários fatores de riscos para determinadas doenças. Schulman deverá conhecer a área de pesquisas da Funtac, no Distrito Industrial. A idéia é fazer com que a fundação de pesquisas do governo do Acre possa vir a ser parceira do empresário na montagem, no Acre, de um projeto de aproveitamento das essências de fitoterápicos e fármacos amazônicos na indústria da beleza, da estética e saúde.
O desafio à Funtac para que desenvolvesse pesquisas no setor também partiu de Tião Viana, após ouvir, em suas andanças pelo Acre, reclamações de boa parte da população em relação à falta de apoio do sistema de saúde pública para a prevenção ao câncer de pele. Uma dessas reclamações partiu de um pequeno produtor de leite de Plácido de Castro, Geraldo Ribeiro, que pediu ao senador que intercedesse em Brasília para que o SUS (Sistema Único de Saúde) também contemplasse as pessoas com pré-disposição de desenvolver câncer de pele como é o seu caso - com a distribuição do filtro solar. "O filtro solar é muito caro, senador. O SUS bem que poderia distribuir isso para a gente", pediu Ribeiro, com o que Tião Viana concordou plenamente.
O SUS (Sistema Único de Saúde) dispõe de tratamento medicamentoso para pacientes portadores de câncer de pele, mas a medicação não inclui o filtro solar, produto de extrema necessidade e custo elevado. "Quando o produto estiver pronto e sendo adquirido pelo SUS, inclusive a preço de fábrica, poderá ser perfeitamente distribuído para as pessoas que precisam, principalmente para os trabalhadores que são obrigados a se exporem ao sol sem a devida proteção" disse o senador.
O envolvimento da Vita Derm com o projeto é importante porque esta empresa, com sede em São Paulo, distribui seus produtos em mais de 350 localidades de todo o Brasil e também os exporta para países da Europa e da África. Além disso, em dois anos consecutivos, a empresa foi eleita pela revista Pequenas Empresas, Grandes Negócios uma das melhores franquias do Brasil.
"Depois da fábrica de camisinhas em Xapuri, estou convicta de que temos condições de irmos muito mais adiante", disse a engenheira florestal Tânia Guimarães, dirigente da Funtac, ao anunciar que a instituição tem amplas condições de aprofundar as pesquisas nesta área. O projeto vem sendo coordenado pela farmacêutica Sílvia Luciane Basso, gerente de projetos naturais da Funtac. De acordo com a pesquisadora, "para os moradores da Amazônia, a utilização de filtros de proteção solar é um fator necessário devido à alta temperatura e a exposição a altas doses de radiações ultravioleta e infravermelho". Nos casos de pacientes que desenvolvem ou apresentam pré-disposição em desenvolver câncer de pele, essa exposição pode ser letal.
De acordo com estudos desenvolvidos pelo projeto, há dez anos as estatísticas mostravam que, para cada 80 casos de câncer, apenas um era diagnosticado como de pele. O número se tornou ameaçador: agora, para cada 17 casos, um é de câncer de pele. No Brasil, o câncer de pele ainda detém uma das maiores taxas do mundo, correspondendo a 25% de todos os casos diagnosticados no país. A radiação ultravioleta natural, proveniente do sol, é o maior agente etiológico da doença.
Segundo o projeto desenvolvido por Sílvia Basso, para atender a população acreana que necessita de filtro solar como complemento a um tratamento médico específico, seria necessário ao desenvolvimento de uma loção hidratante com um aditivo vegetal amazônico e ecologicamente correto. A manteiga de cupuaçu e o óleo do buriti têm propriedades hidratantes em especial para peles sensíveis, com alto índice de vitaminas A e D, o que permitirá a incorporação de um FPS Fator de Proteção Solar ideal para este tipo de paciente.
Funtac informa que pesquisas estão adiantadas
Segundo o presidente da Funtac, César Dotto, à instituição, através de seu laboratório de produtos naturais, caberá a realização do controle de qualidade de matéria prima e o desenvolvimento de produtos fitocosméticos ou fitoterápicos. A manteiga de cupuaçu a ser estudada será da comunidade do Projeto Reca, na BR-364, e o óleo de buriti virá da região do Vale do Juruá.
De acordo com os técnicos da Funtac, nesta primeira fase, será feita uma avaliação físioquímica e crematográfica para a identificação de uma das duas matérias-primas estudadas. A partir daí, será então desenvolvida a loção básica acrescentada do aditivo escolhido, em três diferentes concentrações, para facilitar a incorporação do fator de proteção solar.
Definida e estabilizada a loção base, será incorporado um fator de proteção solar com a concentração adequada segundo a resolução 237 da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Após esta fase, serão produzidos três lotes distintos de 50 unidades cada, com os quais serão realizados o controle de qualidade do produto final e os testes microbiológicos.
A Anvisa exige que uma empresa da área, devidamente cadastrada pelo setor competente, terceirize e se responsabilize pelos testes. Vencida todas essas etapas, será realizada uma loção hidratante com fator de proteção solar com a condição ideal para a obtenção de registro junto a Anvisa e produção em larga escala. "Se tudo correr bem, é algo para muito próximo", previu César Dotto.
Na Funtac, também estão em fase de estudos um sabonete natural à base do melão-de-são-caetano para escabiose também conhecida como sarna norueguesa, doença de pele contagiosa transmitida pelo contato direto entre pessoas e um xampu de andiroba destinado ao combate à pediculose, doença provocada pela infestação de piolhos.
(*) Matéria do jornalista publicada no jornal A Gazeta (Rio Branco-Acre)
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