Sábado, 4 de fevereiro de 2017 - 08h53
No Dia Mundial do Câncer, lembrado neste sábado (4), entidades médicas alertam para ampliação de campanhas para o diagnóstico precoce da doença e que a população não negligencie os sintomas.
O câncer é a segunda causa de morte no mundo. Estimativa do Instituto Nacional do Câncer (Inca) aponta a ocorrência de cerca de 600 mil casos novos de câncer no Brasil em 2016-2017, dos quais cerca de 180 mil serão de pele não melanoma. Os cânceres de próstata (61 mil) em homens e mama (58 mil) em mulheres também serão os mais frequentes.
Às vésperas de completar 35 anos e após duas gestações, Cristiane Souza da Silva Félix viu interrompido o desejo de uma cirurgia para redução de abdômen ao descobrir um câncer de mama.
A descoberta foi apontada em exames de rotina, entre os quais uma mamografia. O câncer foi descoberto precocemente e pôde tratá-lo a tempo.
Prudência
“Se minha médica não fosse alguém prudente, porque é muito importante isso. Muitas vezes, o médico insiste nesse exame [mamografia] só aos 40 anos e ela fez de forma prudente, recomendando primeiro exames de saúde para depois pensar em cirurgia”, contou Cristiane, que passou pelos processos de quimio e radioterapia.
Sete anos depois, Cristiane está fazendo exames de dois em dois meses, e tomando medicação até completar dez anos de operação.
Cristiane não fez a abdominoplastia, mas criou a Associação Mulheres Vitoriosas, que presta assistência a mulheres mastectomizadas (que tiraram a mama), no município de Campos dos Goytacazes, norte fluminense. “Das 500 mulheres a que eu presto assistência hoje, 75% têm menos de 40 anos e o número de pacientes mastectomizadas tem sido muito grande abaixo dos 40 anos”.
A engenheira de segurança Jocilene Braga de Aguiar também destaca a importância da detecção precoce para eliminar um tumor na mama. Ela está com 39 anos e, portanto, fora da faixa etária em que é recomendável o início da realização de exames de mamografia. Mesmo assim, a médica pediu uma mamografia, cujo resultado, divulgado em novembro, confirmou a alteração na mama. “Foi Deus”, disse Jocilene à Agência Brasil, referindo-se ao diagnóstico precoce. Ela está em fase pré-operatória para extrair o câncer. A cirurgia está marcada para o próximo dia 14.
O oncologista Ronaldo Corrêa, editor científico da Revista Brasileira de Cancerologia do Inca, destaca que as campanhas devem abordar todos os tipos da doença e não apenas os mais comuns, como os de próstata e mama. “Acho que é muito pouco em comparação a outros países, em especial os desenvolvidos”, disse.
Para Ronaldo Corrêa, a linguagem das campanhas também deve levar em conta a diversidade do país e “falar a língua” dos moradores de cada região. “A linguagem tem que ser diferente nesses diferentes contextos, até pelas características e os hábitos da população de cada região. Fica difícil fazer uma campanha nacional”. Em países pequenos, segundo ele, é mais fácil ter um discurso uniforme para a população entender.
Sintomas negligenciados
O presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), Gustavo Fernandes, alerta que vários sintomas que podem indicar a presença de um tumor não são observados pelo paciente, que acaba demorando a procurar um serviço médico. Por exemplo, dores persistentes após uma ou duas semanas, tosse e rouquidão ininterruptas, perda de peso acentuada e sangue nas fezes.
“São dois atrasos: um atraso na procura [do paciente por um médico] e um atraso na obtenção daquilo que se procura”, disse.
Cigarro
Já o presidente da Sociedade Brasileira de Cancerologia (SBC), Robson Moura, o cigarro é o principal fator de risco para o câncer. “É, individualmente, o principal agente causador de morte no mundo, tanto das doenças cardiovasculares, como está associado ao câncer de pulmão, de laringe, boca, esôfago, estômago. Também os alimentos constituem um fator de risco. “Carnes vermelhas estão muito associadas ao risco de câncer de intestino”. Já carnes salgadas ou defumadas e os embutidos têm substâncias que aumentam o risco de câncer de estômago.
Segundo o presidente da SBC, apenas 15% dos cânceres têm um fator genético significativo, como o câncer de mama. Moura destacou também que alguns tipos de câncer, como o ósseo, são mais comuns em adolescentes do que em pessoas idosas por estar relacionado ao processo de crescimento. "Não impede que um adulto possa ter câncer ósseo”, disse.
De acordo com Moura, mulheres na menopausa têm um risco maior de câncer de mama, que tende a diminuir a partir dos 70. Já o câncer de estômago tem incidência maior acima dos 50 anos. Moura lembrou que também as crianças têm cânceres, em geral hematológicos, como leucemia.
Campanhas
No próximo dia 10, o ministro da Saúde, Ricardo Barros, lançará no Inca a campanha deste ano, que tem como tema o combate ao câncer infantojuvenil. Será divulgado estudo que, pela primeira vez, trará dados sobre a incidência do câncer e principais tumores na faixa etária de 5 anos a 19 anos. O ministro irá inaugurar ainda a ala de pediatria oncológica do Inca.
A campanha mundial da União Internacional para o Controle do Câncer (UICC) foca, no triênio 2016/2018, na temática Eu Posso Nós Podemos, englobando ações individuais e coletivas para diminuir o risco de ter câncer. Entre as ações individuais, cita uma alimentação saudável, não fumar, não consumir álcool em excesso, ter uma atividade física regular. As estratégias coletivas vão desde a promoção de hábitos saudáveis no ambiente de trabalho, como subir escadas para diminuir o peso e evitar o consumo de cigarro, até cobrar das instituições públicas melhores serviços de saúde, melhor acesso ao diagnóstico e tratamento do câncer, entre outras. “A ciência já tem conhecimento suficiente para dizer que se eu não fumar, não consumir álcool em excesso e manter um peso ideal, praticamente reduzo em quase 50% a chance de ter um câncer”, disse Ronaldo Corrêa.
Envelhecimento
Ronaldo Corrêa estimou que nos próximos 20 ou 30 anos o número de casos aumente por causa do envelhecimento, que é um dos principais fatores de risco para câncer. “Quanto mais velha a população, maior a probabilidade de aquela população ter câncer”.
Nos países desenvolvidos, a população já envelheceu há 30 ou 40 anos, por isso a incidência de novos casos de câncer tende a ficar estável ou diminuir.
No Brasil, além de a população jovem estar envelhecendo e ter se tornado prioritariamente urbana, nos últimos 20 anos, está sujeita a fatores de risco, como poluição, sedentarismo, excesso de peso, alimentos fast food.
Corrêa, no entanto, diz que as taxas de mortalidade precisam diminuir, relacionadas à melhoria dos sistemas de saúde e comprometimento da sociedade. “Quanto mais uma sociedade avança em questões que não são somente o setor saúde, mas no emprego, Previdência Social, educação, transporte, habitação, meio ambiente, o setor saúde avança alinhado com esses avanços da sociedade e a resposta na redução da mortalidade é muito maior”.
Ele lembra que o Brasil já teve conquistas nessa área. Na década de 1950, por exemplo, a sobrevida média dos indivíduos com câncer atingia 30%, 40%. Hoje em dia, supera 80%.
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