Quarta-feira, 8 de abril de 2015 - 05h38
“Eu estava levando uma garrafa com quase 2 litros de gasolina, para colocar na moto e resolvi passar pela cozinha, onde escorreguei. O fogão estava aceso e só me lembro de ver aquele fogo azul em meu corpo”, relatou Lucinéia Elias Firmina, de 41 anos, residente em um sítio na localidade de Guatá, no município de Machadinho D’Oeste. Ela teve 80% do corpo queimado – 60% com queimaduras de 3º grau. “Estou dando este depoimento porque quero que se fale mais sobre os perigos da gasolina (líquidos inflamáveis em geral), pois veja como ficou o meu corpo”, completa Lucinéia. Nesta terça-feira, a sitiante passou por uma cirurgia de transplante de pele no Hospital de Base Ary Pinheiro (HB), em Porto Velho.
Assim que chegou ao hospital , no dia 20 de março, Lucinéia passou a ser tratada pela equipe de nove cirurgiões plásticos, coordenada pela médica Flávia Lenzi. “Inicialmente cuidamos da desintoxicação dos órgãos, como pulmões e rins, e realizamos as primeiras retiradas de tecido necrosado. Agora chegou a hora de fazermos os enxertos provisórios com 3.500 cm² de pele cedida pelo Banco de Pele Humana de Porto Alegre (RS), que integra o Sistema Nacional de Transplantes”, explica a especialista.
A pele doada chegou em fatias muito finas acondicionadas em embalagem lacrada. Segundo Flávia, o ideal seriam 8.000 cm², “mas como sabemos da dificuldade de se conseguir tecidos humanos no Brasil, com o que temos vamos recuperar as áreas mais profundas”, afirma a responsável pela cirurgia, que foi realizada em três horas.
“Os enxertos são provisórios, mas determinantes para a recuperação de Lucinéia, pois durante aproximadamente dois meses –tempo de duração estimado até que a pele enxertada seja rejeitada pelo organismo- o seu corpo já terá reconstituído os tecidos lesionados e podemos retirar a pele provisória, que é uma medida salvadora”, informa o médico Eduardo Farina, cirurgião plástico que compõe a equipe do HB.
O cirurgião geral Adriel Denner, que participou da cirurgia, diz que no pré-operatório durante uma semana foi feita “transfusão de quatro bolsas de concentrado de hemácias (1,2 litros), para garantir o bom funcionamento do sistema circulatório e dar resistência à paciente durante a cirurgia, em que evitaremos ao máximo a perda de sangue”.
Um caso tão grave quanto o de Lucinéia aconteceu há 10 anos, quando uma criança teve praticamente o seu corpo todo queimado por água quente. Flávia Lenzi lembra que “fizemos várias cirurgia naquele garoto que hoje é um rapaz forte e saudável”.
A equipe de cirurgiões plásticos do HB faz até seis cirurgias de reconstituição de pele por semana, sempre às terças-feiras, pois acidentes com queimaduras são muito comuns e deixam marcas para toda a vida. “Todo cuidado com líquidos inflamáveis é pouco. Atendemos gente não só de Rondônia, mas também do Acre, do Amazonas, do Mato Grosso e até do departamento do Beni, na Bolívia. O HB é o hospital de referência da Amazônia ocidental”, informa o diretor geral Nilson Paniagua.
Fonte
Texto: Marco Aurélio Anconi
Fotos: Admilson Knightz
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