Terça-feira, 4 de outubro de 2016 - 16h42
Especialistas das áreas de saúde e educação defenderam investimentos na detecção precoce do autismo como forma de garantir o desenvolvimento adequado de pessoas com o transtorno desde a infância.
Também defenderam uma inclusão mais humana, focada não nas diferenças, mas nas potencialidades de quem tem autismo.
O assunto foi discutido em audiência pública na Comissão de Educação da Câmara dos Deputados, nesta terça-feira (4).
Redução de sintomas
Segundo a psicopedagoga Luciana Brites, quanto mais cedo a detecção, mais eficazes serão as intervenções. Quanto mais tarde, mais o cérebro vai demorar a responder, podendo a criança ter o futuro escolar, social e familiar prejudicado.
O neurologista infantil Clay Brites reforçou que a intervenção precoce reduz os principais sintomas do transtorno, melhora o nível intelectual e a atenção social, reduz uma possível agressividade, favorece a adaptação a regras e rotinas e aumenta a capacidade de linguagem e comunicação.
“A intervenção precoce deve se dar antes dos três anos, sendo recomendável até antes dos cinco”, ponderou.
“Se nada for feito, o adulto com autismo vai viver em solidão, podendo desenvolver depressão, transtorno bipolar, transtorno de ansiedade, esquizofrenia, com maior risco de suicídio.”
Políticas de capacitação
Luciana Brites defendeu também que o poder público invista em políticas de capacitação de profissionais que lidam com crianças, como médicos, enfermeiros, professores e até outros funcionários da escola.
“As pessoas que têm acesso à criança devem estar treinadas com conhecimentos simples, do tipo: essa criança está falando, ela consegue ter a atenção compartilhada e estabelece contato pelo olhar? São coisas muito simples de fazer”, afirmou a psicopedagoga.
O deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP), que sugeriu o debate, disse que os pontos discutidos servirão de base para a comissão encaminhar novas abordagens do transtorno.
No Brasil, a Lei Berenice Piana (12.764/12), que instituiu a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista, tem justamente o diagnóstico precoce do autismo entre suas diretrizes.
Transtorno
O transtorno do espectro autista é um transtorno de desenvolvimento. A pessoa, nos primeiros anos de vida, por motivos desconhecidos, mas que podem ser genéticos ou ambientais, apresenta problemas de interação social e de comunicação, além de comportamentos repetitivos. Estima-se que uma em cada 68 crianças nasça com autismo.
Aceitação e valorização
Diagnosticada aos sete anos, a estudante de artes plásticas Amanda Paschoal, agora com 25, define o transtorno como uma “neurodiversidade”.
“Assim como existem diferentes cores de pele e diferentes alturas, existem diferentes tipos de cérebro. O autismo é um desses tipos diferentes”, afirmou. “Por exemplo, fala-se muito em contato visual. Mas, quando eu olho nos olhos, a audição some”, disse.
Amanda defendeu uma conscientização de aceitação do autismo e de valorização de qualidades. Defendeu ainda mais voz para as pessoas com autismo, que devem falar por si mesmos, e não serem apenas observados. “O que causa deficiência é a discriminação e as barreiras sociais impostas ao indivíduo. Deficiência é um diagnóstico da sociedade, que não está pronta para receber o indivíduo com a diferença”, afirmou.
Inclusão
A inclusão desse indivíduo com diferença ainda carece de humanização no Brasil, na visão do professor Casemiro Mota, do Instituto Federal Catarinense, onde uma nova abordagem inclusiva está surgindo.
“O novo modelo de inclusão é que nós enxerguemos primeiro o humano, independentemente da condição de ensino e aprendizagem que ele tenha. O objetivo não é ensinar a ler e a escrever, mas ensinar a conviver, a se estruturar dentro de um convívio. Aí, você está falando de uma outra inclusão, que não é uma inclusão para a eficiência, mas para a humanização”, explicou.
É esse tipo de inclusão, segundo Mota, que permitirá a um estudante com autismo chegar a uma universidade e apresentar suas habilidades para descobrir que cursos pode frequentar. “Ele não precisa ser engenheiro. Ele pode fazer disciplinas de engenharia e de biologia. Se o que ele quer ser é só mais humano, é possível as universidades aceitarem isso”, afirmou. É que se chama, acrescentou o professor, de diploma social – ou a escola olhando para o indivíduo a partir do conceito de humanização.
A psicopedagoga Viviane Guimarães, por sua vez, destacou a inclusão pela família, que deve participar ativamente do processo. “A família é integrante. Quando não é bem estruturada e não consegue receber o diagnóstico de forma correta, a criança vai ser prejudicada”, observou.
Fonte: Agência Câmara
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