Segunda-feira, 20 de janeiro de 2020 - 10h43
A hanseníase é uma doença crônica e transmissível, causada pela bactéria Mycobacterium leprae, que se multiplica lentamente, levando a sintomas que podem demorar até 20 anos para aparecer. Ela afeta principalmente os nervos periféricos e está associada a lesões cutâneas características. Sem tratamento, pode causar danos aos nervos, demonstrados por fraqueza nas mãos e pés e pela presença de deformidade visível. Embora a doença seja completamente curável, com uma terapia que é gratuita, a demora em iniciar o tratamento pode levar à incapacidade permanente.
O Brasil concentra mais de 90% dos casos de hanseníase da América Latina, sendo o segundo país no mundo com a maior incidência, ficando atrás apenas da índia. Janeiro é o mês escolhido para a conscientização sobre a doença.
O ginecologista e obstetra Dr. Alberto Guimarães explica sobre a Hanseníase durante a gravidez:
Que problemas a hanseníase durante a gestação pode trazer à mãe e ao bebê?
A hanseníase começa de uma forma aparentemente inocente, com uma alteração na pele, e o desfecho pode levar a grandes mutilações, por isso quando um infectado era identificado ele era isolado, porque as pessoas começam a perder partes do corpo devido ao processo de atrofiamento e deformação, o que acabava causando uma segregação, sem o convívio com a sociedade.
Como é o tratamento da doença quando a paciente está grávida?
Como é uma doença que avança de uma maneira lenta e gradual, muitas pessoas que nem sabem que tem hanseníase acabam engravidando. Caso o diagnóstico seja feito durante a gestação, a principal questão é o tratamento que envolve vários medicamentos e que podem ter alteração no bebê, mas isso depende da fase que foi feito esse diagnóstico e do momento e que se inicia o tratamento. O tratamento da hanseníase dentro e fora da gravidez é o mesmo, com polimendicação, ou seja, a utilização de vários medicamentos.
Como a gestante pode evitar a hanseníase?
A hanseníase é transmitida principalmente por meios respiratórios, então é importante para a mulher – e não só a gestante – evitar os grandes conglomerados, a convivência em espaços com pouca ventilação, ou lugares aonde as pessoas não tem muita higiene. Uma abordagem interessante seriam campanhas que pudessem lembrar as pessoas que a hanseníase continua existindo, mesmo que a gente viva em um momento onde o Zika Vírus exige muitos recursos para descobrir como lidar com esse vírus, no Brasil ainda existem mais de 30 mil casos de hanseníase novos por ano e que passam despercebidos. É necessário que as pessoas estejam atentas ao seu próprio corpo e principalmente lembrar que manchas na pele e diminuição de sensibilidade (térmica, dolorosa e tátil) são situações que precisam ser investigadas. Se for feito o diagnóstico, a pessoa tem que entender a importância de ser tratado, geralmente o tratamento é longo, dependendo da fase da doença, e não é algo que termina em uma semana ou um ano, é um acompanhamento. É interessante ficar claro essa importância do tratamento e ser indicado, caso a mulher saiba que contraiu essa doença, a esperar a cura para se engravidar.
O pré-natal de uma gestante com hanseníase deve ser diferenciado?
O pré-natal de uma mulher que tem hanseníase será sim diferenciado, já que dependendo da gravidade da doença podem existir sequelas na criança. Na hanseníase a questão começa pela pele, mas o bacilo causador da doença tem preferência por atacar os nervos periféricos e a partir disso começam as outras complicações, inclusive a doença pode comprometer a visão por conta da alteração do nervo ótico, atrofiar músculos, alteração da movimentação. Além da pessoa também perder a autoestima e acabar se isolando, devido à essas situações. Durante o pré-natal, são tomados cuidados gerais para diminuir estas complicações referentes ao ataque dos bacilos nos nervos periféricos da mãe.
O recomendado é que a mulher que tenha hanseníase espere estar curada para engravidar, porém, muitas mulheres engravidam nesse período, e o Brasil tem mais de 30 mil casos de hanseníase por ano, segundo a OMS. O que contribui para esse cenário, na sua opinião?
São vários os fatores que contribuem para que a hanseníase não seja erradicada no Brasil. A hanseníase é o que chamamos de “doença silenciosa”, então ela começa na pele, de forma pouco perceptível, e em embora seja uma patologia de fácil identificação médica, muitas vezes as mulheres que estão infectadas engravidam porque nem sabem que estão doentes.
Outro fator é que a doença tem um tratamento longo e muitas vezes as pessoas abandonam os remédios por não verem o resultado imediato. O que agrava ainda mais a situação é que no Brasil não há políticas públicas que incentivem o planejamento familiar, então se a mulher engravida por acidente as chances de o bebê ter como consequência doenças graves é ainda maior. A hanseníase é uma questão de saúde pública, ainda mais por se tratar de uma doença que se prolifera com mais incidência em classes sociais menos favorecidas, que vivem em espaços menores, com mais pessoas e com poucas condições de higienização.
Dr. Alberto Guimarães: ginecologista, obstetra e precursor do Parto sem Medo
Formado pela Faculdade de Medicina de Teresópolis (RJ) e mestre pela Escola Paulista de Medicina (UNIFESP), o médico atualmente encabeça a difusão do “Parto Sem Medo”, novo modelo de assistência à parturiente que realça o parto natural como um evento de máxima feminilidade, onde a mulher e o bebê devem ser os protagonistas. Atuou no cargo de gerente médico para humanização do parto e nascimento do Centro de Estudos e Pesquisas Dr. João Amorim, CEJAM, em maternidades municipais de São Paulo e na Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo. Site: https://www.partosemmedo.com.br/
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