Quinta-feira, 25 de outubro de 2007 - 09h19
Murilo Alves Pereira
Agência FAPESP – A febre do ouro da década de 1980 levou milhares de pessoas à região de Tapajós, no Pará, em busca do metal precioso. A mineração utilizou grande quantidade de mercúrio, acarretando graves problemas ambientais. Mas uma pesquisa feita na Universidade Federal do Pará (UFPA) mostra que a atividade mineradora não é a única responsável pela alta concentração de mercúrio no solo da região.
“A questão ambiental muitas vezes força a barra e procura problemas onde ele não existe”, disse o geólogo Rômulo Simões Angélica à Agência FAPESP durante o 11º Congresso Brasileiro de Geoquímica, que ocorre em Atibaia (SP) entre 21 e 26 de outubro.
Segundo ele, por muito tempo os livros de química indicavam que a concentração média normal de mercúrio no solo era de 50 partes por bilhão (ppb). Quando medida em áreas de mineração, o número subia para 200 ppb. A conseqüência natural foi culpar a mineração.
Mas a equipe de Simões desconfiou dos valores apontados e decidiu fazer novas medições. “Essa concentração é aplicada em outras regiões do mundo e não se adapta à realidade tropical do Brasil”, explicou.
Foram feitas medidas em várias regiões do país para comparar os valores. Em Caxiuanã, na reserva florestal do Museu Paraense Emílio Goeldi e, portanto, longe de qualquer contaminação, a concentração chegou a 300 ppb.
“Em várias regiões observamos que o teor é maior que 200 ppb. E são medidas em áreas preservadas, longe do garimpo”, afirmou. Para o pesquisador, os valores mostram que há explicações alternativas para a concentração do mercúrio no solo que diferem da ação do homem.
A pesquisa foi tese de doutorado do orientando de Simões, Edilson Brabo, morto durante assalto em 2006, em Belém. Ao fim da apresentação, o professor homenageou o aluno.
O geólogo explicou que o enriquecimento relativo do mercúrio ocorre de forma natural no solo, devido ao sobe-e-desce do lençol freático. Quando sobe, a água lava o solo, lixiviando sais de sódio e potássio e deixando os metais.
Segundo Simões, essa movimentação é conhecida pela literatura, mas não havia sido avaliado como ela interfere na concentração do mercúrio. “A concentração cresce de forma relativa. Não porque aumenta o teor de mercúrio, mas porque é reduzido o teor dos outros minerais”, afirmou.
Foram feitas medições em profundidades de até 11 metros, sendo analisados todos os perfis do solo. Segundo o pesquisador, a interferência humana, devido à queima de mercúrio para fazer a amálgama do ouro na mineração, dificilmente chegaria tão fundo.
“Em 1991, o vulcão Pinatubo, nas Filipinas, entrou em erupção e, em dois dias, despejou 800 toneladas de mercúrio na atmosfera. Em 40 anos de exploração do ouro na região, é possível que tenham sido usadas 80 toneladas de mercúrio”, comparou. “Não desmereço em absoluto o papel do homem, mas é preciso destacar que também existem causas naturais para os problemas.”
Geologia médica
Simões destacou que a exposição dos garimpeiros aos metais pesados pode gerar graves problemas. Da inalação do vapor de mercúrio à deposição do metal na natureza, ocorrem vários danos à saúde e danos ambientais.
Para outro presente no congresso, José Centeno, pesquisador do Instituto de Patologia das Forças Armadas dos Estados Unidos, também é grande a influência da poeira na saúde humana. Segundo ressaltou, a poeira de diversas fontes carrega uma série de metais pesados, radioativos, silicatos e asbestos.
“Várias regiões do mundo estão sujeitas à exposição a esses minerais carregados pela poeira”, disse. Acidentes naturais, erupções vulcânicas, deslizamentos de terra, terremotos e até mesmo atos terroristas são exemplos de fontes de poeira.
Os impactos na saúde humana, segundo ele, ocorrem, principalmente, por meio das vias aéreas. Os alvéolos pulmonares são muitos sensíveis, por exemplo, à sílica, responsável por uma série de doenças.
Centeno ressaltou a importância da interação entre várias disciplinas para entender os efeitos naturais na saúde humana. “Deve ser facilitada a cooperação entre geoquímicos, médicos e especialistas no clima para estudar essas questões”, afirmou.
Fonte: FAPESP
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