Segunda-feira, 28 de julho de 2014 - 06h48
Andreia Verdélio
Agência Brasil
Uma nova droga, ainda em aprovação nos Estados Unidos, pode representar a cura para cerca de 95% dos pacientes com hepatite C, forma mais grave da doença, segundo o presidente da Sociedade Brasileira de Hepatologia (SBH), Edison Roberto Parise.
A hepatite é a inflamação do fígado, causada por cinco vírus diferentes e que nem sempre apresenta sintomas. Os tipos B e C são a causa mais comum de cirrose hepática e câncer de fígado.
Atualmente, para todos os tipos da doença, o tratamento é com feito com antivirais, basicamente o interferon e a ribavirina, com duração de 48 semanas. Em alguns casos, esses medicamentos podem ser combinados com inibidores de protease, que tem muitos efeitos colaterais e cura cerca de 50% a 70% das pessoas infectadas.
Segundo Edison Parise, uma segunda série de medicamentos já está em aprovação pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária. “São dois novos medicamentos que têm uma baixa tremenda de efeito colateral, mas que ainda vão ser utilizados com interferon, em alguns casos”, disse ele, ao explicar que o tratamento deve durar 12 semanas, com um índice de cura de 80% a 90%.
Uma terceira geração de medicamentos, com o mínimo de efeito colateral, deve ser aprovada até o fim do ano nos Estados Unidos. “Nesse caso, o tratamento é totalmente sem interferon, mais curto, de oito semanas, e com um índice de cura de 90% a 100%. É uma mudança drástica no tratamento da hepatite neste ano, então precisamos aproveitar isso e captar o máximo de doentes.”
O tratamento contra a hepatite é feito pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e é bom, segundo o gerente de Projetos da Associação Brasileira dos Portadores de Hepatite (ABPH), Eduardo Tadeu Lima e Silva. “Tem todas aquelas coisas do setor público e as dificuldades de qualquer tratamento de alta complexidade, como aids, malária e câncer. Mas o paciente tem atendimento e acesso a medicamentos.”
Após a aprovação de novos medicamentos, a segunda fase é a inclusão do remédio no protocolo de tratamento do SUS. “O que nós vemos é que a hepatite C não tem o mesmo apelo da aids, por exemplo, mas é tão devastadora quanto, e o número de portadores é maior”, destacou Silva. “Nosso trabalho é tirar a hepatite do anonimato, divulgar que nós temos uma doença silenciosa, que, quanto mais tarde for descoberta, mais comprometido o fígado vai estar e maior vai ser o custo do tratamento para o Estado.”
De acordo ele, a hepatite C não é uma doença tão estigmatizada quanto a aids. “Fica essa coisa de achar que a pessoa que tem cirrose é alcoólatra, que tem vida sexual promíscua. Pelo contrário, a transmissão sexual é muito rara”. Já a hepatite B é considerada, sim, uma doença sexualmente transmissível.
A hepatite A, na maioria dos casos, é uma doença benigna e de contágio simples, pela água mal tratada ou alimentos mal lavados. A melhor forma de se evitar a doença é melhorando as condições de higiene e de saneamento básico. Existe vacina contra o vírus da hepatite A, mas só é recomendada em casos especiais.
Para a hepatite B também há vacina, disponibilizada na rede pública de saúde. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), 240 milhões de pessoas no mundo têm a doença, que pode se tornar crônica, dependendo da idade do infectado. As crianças são as mais afetadas. A hepatite B é considerada doença sexualmente transmissível e o vírus está presente no sangue, no esperma e no leite materno.
Cerca de 150 milhões de pessoas no mundo tem o tipo C da doença, que é o mais grave, pois não há vacina. A ação do vírus é lenta e silenciosa e, em 80% dos casos, torna-se crônica em pouco tempo.
A hepatite D é menos comum e depende da presença do vírus do tipo B para a infecção.
Já a hepatite E tem ocorrência rara no Brasil e é comum na Ásia e África. A transmissão é fecal-oral (patógenos das fezes tem contato com a boca), mais comum em áreas sem saneamento básico. A hepatite E pode induzir uma taxa de mortalidade de 20% entre as mulheres grávidas em seu terceiro trimestre, segundo a OMS.
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