Dois estudos de pesquisadores brasileiros apontam que, além do Aedes aegypti, dois outros mosquitos podem ser infectados pelo vírus da zika. Em laboratório, os mosquitos Culex – o pernilongo – e Aedes albopictus – primo do aegypti que prefere áreas com vegetação — mantiveram o vírus ativo em seu corpo após a ingestão de sangue contaminado.
As experiências não são conclusivas sobre a transmissão do vírus por esses mosquitos — a captura de animais infectados pelo vírus em campo pode reforçar essa tese. Uma pesquisa da USP com mosquitos recolhidos em São Paulo e em Sergipe analisará quais as espécies que carregam o vírus em áreas em que há infecção, e deve ter resultados até o fim de março.
Apesar de os estudos apontarem para a possibilidade de novos vetores, o Aedes aegypti ainda é considerado o principal responsável pela epidemia de zika no país.
Aedes de área urbana e de vegetação – A pesquisa feita pela Fiocruz do Rio de Janeiro, em parceria com instituições internacionais, indicou que 14 dias após a ingestão de sangue com zika, 10% dos Aedes aegypti e 3,3% dos mosquitos Aedes albopictus tinham partículas virais ativas na saliva.
O albopictus é uma espécie encontrada em áreas com mais vegetação, enquanto o aegypti tem característica urbana.
O estudo, que foi publicado na revista científica PLOS, sugere ainda que ambos os Aedes são menos eficientes na transmissão da zika que na de dengue ou da chikungunya – sua capacidade de transmissão seria equivalente para zika e febre amarela.
Pernilongos infectados – A pesquisadora Constância Junqueira Ayres, da Fiocruz-Pernambuco, apresentou no Recife os resultados preliminares de uma experiência com pernilongos. Em laboratório, Culex foram infectados com o vírus da zika e mantiveram o vírus ativo em sua na glândula salivar.
“Isso aponta que o Culex é provavelmente um potencial vetor de zika”, explica a bióloga. A pesquisa, no entanto, não testou até o momento a transmissão do vírus.
O Culex, uma espécie de hábitos noturnos e muito comum no Brasil, é comprovadamente um vetor para outros vírus, como o que causa a encefalite japonesa e a febre do Nilo Ocidental.
Para o entomologista Luciano Moreira, os dados “ainda são muito preliminares. É cedo para apontar o Culex como vetor”.
Capturas em áreas infectadas apontarão o transmissor – O virologista Paolo Zanotto, da USP, explica que o grupo de vírus do qual a zika faz parte – arbovírus – é conhecido por ter capacidade de explorar diferentes vetores. Segundo ele, se for comprovada a transmissão do vírus da zika por albopictus ou Culex, isso poderia representar a chegada desse vírus em outras regiões do mundo.
“Precisamos ficar de olho na possibilidade. Mas a importância epidemiológica disso a gente ainda não sabe”, lembra o pesquisador, que reforçou a importância do combate ao Aedes neste momento.
Em São Paulo e em Pernambuco, grupos de pesquisa agora buscam mosquitos em locais onde há grande número de pessoas infectadas por zika, dengue e chikungunya para analisar quais são as espécies de mosquito que aparecem infectadas e por quais vírus.
Os grupos devem capturar diversas espécies de mosquito para checar qual é o tipo de mosquito que aparece em maior número e por qual vírus ele está infectado. Se, por exemplo, em uma área de epidemia de zika houver grande número de mosquitos aegypti infectados por zika e poucos culex com o vírus, o aegypti será apontado como responsável pela epidemia.
No entanto, se em uma área de epidemia de zika os mosquitos que aparecem em maior número infectados pelo vírus forem o culex ou o albopictus, é um forte indicativo de que outros mosquitos participam da infecção.
A pesquisa coordenada por Capurro deve ter seus primeiros resultados ainda no final de março.
(Fonte: UOL)