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Saúde

Pesquisadores fazem 'vaquinha' para estudar microcefalia



Aline Leal - Repórter da Agência Brasil

Cerca de dez meses depois que especialistas do Nordeste registraram aumento inesperado de nascimentos de crianças com microcefalia, pesquisadores de Campina Grande (PB) planejam abrir um centro de referência na malformação. Para arrecadar dinheiro destinado à construção do prédio, o Instituto de Pesquisa Prof. Joaquim Amorim Neto (Ipesq) faz campanha no site colaborativo Catarse.

“Para que a gente possa entender a doença, precisamos de estrutura. Não dá para estudar o ouvido da criança (com síndrome congênita do Zika) em um lugar, o olho em outro, o cérebro em outro. Não dá para dissociar os efeitos”, disse a presidente do instituto, Adriana Melo. A especialista em medicina fetal foi a primeira pesquisadora a encontrar o vírus Zika no líquido amniótico de uma gestante que teve o filho com microcefalia.

O instituto, sem fins lucrativos, foi criado em 2007 por médicos que queriam aprofundar pesquisas relacionadas à saúde materno-infantil. “Para as pesquisas que desenvolvíamos, a estrutura de nosso grupo era o suficiente. Usávamos uma sala da minha clínica. Depois que passamos a receber as gestantes que tiveram Zika, a prefeitura nos disponibilizou um hospital com estrutura pequena. Acompanhamos 60 bebês com microcefalia, mas o ideal era que acompanhássemos também os bebês cujas mães tiveram Zika e não nasceram com a malformação. Só que não temos nem estrutura nem dinheiro”, disse Adriana.

Segundo a pesquisadora, a prefeitura de Campina Grande cedeu o terreno e um escritório de engenharia fez o projeto do centro. Além disso, empresas e o Ministério da Saúde se comprometeram a doar equipamentos. O objetivo da campanha é conseguir arrecadar R$ 200 mil para a construção do prédio. Em 11 dias, a campanha arrecadou mais de R$ 11 mil reais.

Pesquisa

De acordo com o instituto, duas crianças com microcefalia diagnosticada durante a gestação morreram nessa semana, mas só tiveram recursos para colher o material de uma delas, para verificar se a morte foi relacionada ao vírus Zika. “Como médica, pesquisadora e ser humano, digo que esse é o momento de entendermos a doença. Espero estar errada, mas acho que não vivenciamos o pior”, pontuou Adriana.

Pelo Ipesq passaram 500 mulheres que tiveram sintomas de Zika durante a gestação, todas encaminhadas pelos serviços médicos da região.

Ainda não se sabe porque algumas gestantes com Zika têm bebês com microcefalia e outras não, nem se uma vez infectada pelo vírus a doença pode voltar ou mesmo como é o desenvolvimento das crianças que não nasceram com a malformação, mas cujas mães tiveram zika na gestação. “As dúvidas são muitas, vontade de investigar a gente tem e ideias também, mas nos faltam recursos. Tem hora que dá vontade de desistir”, desabafou Adriana Melo.

Zika

Transmitido por um mosquito bem conhecido dos brasileiros, o Aedes aegypti, o vírus Zika começou a circular no Brasil em 2014, mas teve os primeiros registros feitos pelo Ministério da Saúde em maio de 2015. O que se sabia sobre a doença, até o segundo semestre do ano passado, era que sua evolução costumava ser benigna e que os sintomas, geralmente erupção cutânea, fadiga, dores nas articulações e conjuntivite, além de febre baixa, eram mais leves do que os da dengue e da febre chikungunya, também transmitidas pelo mesmo mosquito.

Porém, em outubro de 2015, exame feito pela médica especialista em medicina fetal, Adriana Melo, descobriu a presença do vírus no líquido amniótico de um bebê com microcefalia. Em 28 de novembro, o Ministério da Saúde confirmou que, quando gestantes são infectadas pelo vírus, podem gerar crianças com microcefalia, uma malformação irreversível do cérebro que pode vir associada a danos mentais, visuais e auditivos. Pesquisadores confirmaram que a Síndrome de Guillain-Barré também pode ser ocasionada pelo Zika. Em fevereiro deste ano, a Organização Mundial da Saúde declarou emergência em saúde pública de importância internacional por causa das implicações da infecção pelo vírus.

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