Sábado, 26 de outubro de 2013 - 16h20
Flávia Villela
Agência Brasil
Rio de Janeiro – Criado com o intuito de reduzir a mortalidade infantil e erradicar a desnutrição neonatal, o primeiro Banco de Leite Humano (BLH) do Brasil, do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz), completa 70 anos este mês.
“Um dos motivos [para comemorar] é o fato de termos [no Brasil] alcançado no ano passado o Objetivo do Milênio das Nações Unidas de redução da mortalidade infantil, antes do tempo acordado”, disse a coordenadora de Processamento e Qualidade do BHL, Danielle Aparecida da Silva.
“Os bancos de leite humano tiveram um papel fundamental nessa queda”, disse, ao lembrar que em 2000, o país tinha 29,7 mortes de bebês por mil habitantes, e em 2010 a proporção caiu para 15,6 mortes por grupo de mil habitantes. Taxa inferior à estabelecida pela Organização das Nações Unidas (ONU) até 2015.
Para Danielle, outra contribuição fundamental dos bancos de leite humano tem sido a de quebrar mitos em relação ao leite materno, estimulando e apoiando mães a amamentarem os filhos sem medo e inseguranças.
“Ouvia-se muito que o leite era fraco quando o bebê acabava de mamar e chorava, por exemplo. Toda essa rede de banco de leites vem ajudando a criar esse novo conhecimento, valorizar a amamentação entre as mães que procuram essas unidades achando que o leite é fraco ou que tem alguma impossibilidade de amamentar”, explicou.
A engenheira de alimentos ressaltou que o leite materno tem fatores de proteção contra uma série de doenças que evitam a morte precoce do bebê e que se reflete na vida adulta, como prevenção a diabetes e à obesidade.
Para ela, todas essas contribuições só foram possíveis quando os bancos deixaram de ser apenas um local de armazenagem de leite e se transformaram, a partir da década de 80, em um centro de formação, proteção e apoio, onde as mulheres passaram a ser protagonistas no processo de aleitamento materno.
A coordenadora explicou que todo o leite coletado no banco passa por um processo de seleção, classificação e pasteurização até que esteja pronto para ser distribuído com qualidade certificada aos bebês prematuros e/ou de baixo peso internados em unidades de Terapia Intensiva Neonatal.
Hoje, o país tem uma Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano, composta por 212 bancos e 121 postos de coletas. O modelo brasileiro serviu como base para a criação do Programa Ibero-Americano de Bancos de Leite Humano, que tem a participação de 23 países da América Latina, da Europa e da África.
No ano passado, aproximadamente 175 mil recém-nascidos, internados em unidades de Tratamento Intensivo (UTI), receberam o leite doado aos bancos e quase 1,4 milhão de mulheres com algum tipo de dificuldade relacionada ao aleitamento tiveram atendimento.
Segundo Danielle, um desafio constante é manter as doações. “Acredito que deveria haver uma conscientização maior, que deve começar desde o início da gravidez”, defendeu.“O ideal seria que cada unidade de Terapia Intensiva Neonatal pudesse ter seu próprio banco de leite”, ponderou.
Para a mãe de Bento, de 1 mês de vida, Mariana de Almeida Silva dos Reis, 31 anos, doar leite materno é um gesto simples que traz enorme satisfação e prazer. “É emocionante permitir que uma criança que não teve acesso ao leite materno direto da mãe tenha acesso aos benefícios desse leite através de você”, contou Mariana. “Não custa nada, a oferta não vai diminuir a quantidade de leite para o seu filho e a sensação de humanidade é muito boa por saber que a gente está fazendo algo de bom para outros bebezinhos”, opinou.
Ela lembrou que o serviço de coleta em casa, com oferecimento gratuito dos vidros, facilita muito a doação. Informações sobre como doar leite humano ou amamentação podem ser encontradas no site www.redeblh.fiocruz.br ou pelo telefone 0800 026 8877.
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