Sexta-feira, 3 de fevereiro de 2023 - 14h59
A gravidez na adolescência é um
grave problema de saúde pública que, segundo a Organização Mundial da Saúde,
atinge meninas e mulheres entre os 10 e 19 anos, causando danos psicológicos,
físicos e sociais. Em Porto Velho, dos 2.557 partos ocorridos em 2022 na
Maternidade Municipal Mãe Esperança, 447 foram feitos em meninas dessa faixa
etária, dados que mostram o constante aumento no número de gestantes
precocemente.
O papel da Secretaria Municipal de Saúde (Semusa) é garantir o
bem-estar de adolescentes e jovens, através da prevenção da gravidez inoportuna
e da proteção contra infecções sexualmente transmissíveis (IST). O problema é
comum, principalmente, em meninas e mulheres com baixa escolaridade, que não
possuem instrução sobre os métodos contraceptivos. Para a secretária-adjunta
Marilene Penati, a falta de orientação e o acesso à educação sexual contribuem
para o aumento dessas taxas.
“Educação e saúde precisam estar de mãos dadas para a prevenção
da gravidez precoce. Existe muito preconceito sobre falar de sexo com crianças,
adolescentes e jovens, e esse tabu precisa ser extinto, porque somente através
da orientação é que nós vamos evitar que uma criança de 12 ou 13 anos engravide
e se torne mãe”.
Outro desafio enfrentado na saúde municipal é a reincidência na
família. “Uma mãe que teve filho jovem, provavelmente terá uma filha que também
vai ter filho jovem. A história muitas vezes se repete, e é preciso mudar essa
concepção de que a menina pode engravidar ao começar a ter relações sexuais. De
fato pode, mas não deve”, afirma a adjunta.
RISCOS
A enfermeira Ana Emanuela, subgerente do programa de Saúde da
Mulher da Semusa, reforça que a gravidez na adolescência é de risco, pois na
maioria das vezes o corpo da menina ainda está em desenvolvimento, e não
totalmente preparado para ter uma gestação e/ou um parto.
“O que nós observamos é que uma gestação nessa fase da vida,
traz alguns riscos para a saúde não só da mãe, mas também para o bebê. No caso
de gestantes, quanto menor a idade, mais risco de desenvolver um aborto
espontâneo, doenças hipertensivas na gravidez, como a eclâmpsia, além da
prematuridade, anemia, retardo do desenvolvimento fetal e até mesmo depressão
pós-parto. Os fatores de risco são muito maiores nessa população abaixo dos 19
anos do que em mulheres adultas”.
Muito mais que um problema de saúde pública, a gestação precoce
é também um problema social, uma vez que meninas que engravidam tendem a
afastar-se da escola e ficar sem acesso à educação, diminuindo a possibilidade
de ocupar cargos dentro do mercado de trabalho e até mesmo favorecendo o
desemprego.
Segundo Ana Emanuela, para combater esse problema “é
imprescindível que o serviço público de saúde oferte na sua rede o acesso a
meios e formas de prevenir, como por exemplo a contracepção aliada também à
educação e orientação sexual”.
PREVENÇÃO
A Semusa oferece em todas as unidades básicas de saúde do
município a possibilidade de a população aderir ao planejamento familiar, um
conjunto de ações preventivas e educativas que orienta homens e mulheres sobre
concepção e contracepção, proporcionando, inclusive, acesso aos métodos
contraceptivos ou concepção disponibilizados pelo serviço público de saúde.
Estão disponíveis o anticoncepcional injetável, a pílula
anticoncepcional, o dispositivo intrauterino (DIU), além dos preservativos
feminino e masculino. A pílula anticoncepcional de emergência (ou pílula do dia
seguinte) também é disponibilizada gratuitamente, não apenas para vítimas de
violência sexual.
Helita Pereira tem 23 anos, é auxiliar administrativa e foi mãe
aos 18 anos. Durante a sua internação na Maternidade Municipal Mãe Esperança, a
jovem foi apresentada ao planejamento familiar e decidiu aderir a um método de
contracepção de longa duração.
“Eu descobri minha gestação aos quatro meses, consegui estudar e
concluir o ensino fundamental, mas escolhi ter apenas uma filha, por isso me
cuido para não engravidar novamente”.
Para a secretária-adjunta, o planejamento familiar deve começar
cedo, para reduzir o índice de gravidez na adolescência através da orientação,
e, em casos como o de Helita, evitar uma nova gestação.
“O primeiro papel do planejamento familiar é orientar. Muitas
vezes os pais não enxergam os filhos como adultos e como possíveis meninas e
homens que engravidam. Nós aconselhamos essas famílias e oferecemos os métodos
contraceptivos que são disponibilizados, não só para os adolescentes, mas para
mulheres e homens de forma geral”.
SEMANA
NACIONAL DE PREVENÇÃO DA GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA
A Secretaria Municipal de Saúde (Semusa) promove o 1º Seminário
de Prevenção da Gravidez na Adolescência, com o tema “Ampliando o olhar e
promovendo o cuidado”. O evento será realizado na próxima segunda-feira (6), no
auditório do Ministério Público do Estado de Rondônia, das 7h30 às 12h30, e
reunirá palestras e mesas redondas para a discussão da maternidade e
paternidade precoce, através da abordagem dos seguintes temas:
- A gravidez na adolescência como desafio para redução da
mortalidade materna;
- O papel dos serviços públicos frente à gravidez acarretada pela violência
sexual contra a criança e o adolescente;
- Cuidando do adolescer na saúde pública do município de Porto Velho;
- Um olhar sobre a paternidade na adolescência.
Confira abaixo a programação completa.
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