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Saúde

Sintomas cardíacos podem anteceder os sintomas causados pela doença Parkinson




Por Alex Sander Alcântara

Agência FAPESP
– As causas da doença de Parkinson ainda não são completamente conhecidas. Sabe-se que essa desordem degenerativa é caracterizada pela disfunção dos neurônios secretores de dopamina (mediador químico importante para a atividade normal do cérebro) e afeta regiões cerebrais responsáveis pelo controle muscular, provocando tremores, rigidez nos músculos e diminuição de mobilidade.

Novos estudos têm indicado também a associação da doença com problemas no coração, como se viu no 18th WFN World Congress on Parkinson’s Disease and Related Disorders, realizado em Miami, nos Estados Unidos, em dezembro último.

De acordo com as pesquisas, sintomas cardíacos podem anteceder os sintomas motores causados pela doença de Parkinson, e pode haver uma independência entre os sintomas cardíacos e os motores da doença em pacientes humanos.

Segundo o estereologista Antonio Augusto Coppi, responsável pelo Laboratório de Estereologia Estocástica e Anatomia Química (LSSCA) do Departamento de Cirurgia da Faculdade de MedicinaVeterinária e Zootecnia (FMVZ) da Universidade de São Paulo (USP), que apresentou no congresso de Miami um trabalho relacionando os efeitos da doença no coração, os estudos recentes ressaltam novas formas de manifestação clínica da doença de Parkinson.

“Antes, quando se falava em Parkinson, havia uma clara referência ao indivíduo com dificuldade de tirar a carteira do bolso em um supermercado ou que não conseguia atravessar a rua. Ou seja, eram apenas sintomas motores. Hoje, já se sabe que o paciente pode também apresentar sintomas generalizados, como os cardíacos. Mas se esses sintomas antecedem os motores, sucedem ou se eles ocorrem simultaneamente, ainda é uma incógnita”, disse Coppi à Agência FAPESP .

O docente coordena a pesquisa intitulada “Caracterização comportamental, funcional e morfológica das cardioneuromiopatias tóxicas (MPTP) e geneticamente induzidas em camundongos com alta expressão de alfa-sinucleina humana”, apoiada pela FAPESP na modalidade Auxílio à Pesquisa – Regular, na qual se busca adequar modelos (químico e genético) eficazes para estudar a doença de Parkinson.

A equipe de Coppi induziu a doença de Parkinson nos animais por meio do uso do 1-metil-1-4-fenil-1,2,3,6-tetrahidropirimidina (MPTP), de modo a analisar seus efeitos no miocárdio, na inervação do coração e nos neurônios do sistema nervoso central.

Segundo o pesquisador, a manifestação clínica do Parkinson tem mudado muito. “A pesquisa procura entender de que forma a doença afeta o coração. Investigamos se a droga MPTP causa alteração no coração e, simultaneamente, no encéfalo. O objetivo é ver se o MPTP pode ser um bom modelo para se quantificar os efeitos da doença de Parkinson no coração”, explicou.

Nos resultados preliminares, o grupo de camundongos que recebeu a droga apresentou, à análise morfológica estereológica estocástica tridimensional, uma atrofia do ventrículo esquerdo do coração e “uma tendência ao aumento do número de núcleos de fibras cardíacas (cardiomiócitos) desse mesmo ventrículo, o que é sugestivo de uma proliferação compensatória dessas fibras”, disse Coppi.

Além disso, os animais apresentaram taquicardia (sem aumento da pressão arterial) e diminuição global da inervação cardíaca, incluindo distúrbios da inervação simpática. Os dados foram corroborados pelo decréscimo nas concentrações de neurotransmissores (catecolaminas) no coração –dopamina e noradrenalina.

“Quando o coração apresenta redução no seu suprimento nervoso, tem também menos capacidade de se contrair e atuar como bomba propulsora na distribuição do sangue para o resto do corpo”, explicou.

O caráter inovador do projeto reside no fato de se usar estereologia estocástica tridimensional para quantificar “associadamente” o músculo cardíaco, a inervação cardíaca e os neurônios do sistema nervoso central e ver como isso pode estar conjuntamente afetado pela doença de Parkinson.

“Se a droga causar lesões no cérebro e, simultaneamente, no coração, é um bom indício de que o MPTP possa ser um bom modelo químico para se estudar a forma cardíaca do Parkinson. Embora a droga já fosse utilizada na literatura para induzir a doença de Parkinson em camundongos e em primatas, os estudos sempre enfocaram o cérebro, mas sem abordar o aspecto morfoquantitativo do coração”, destacou Coppi.

O modelo desenvolvido é análogo ao que desenvolve em outra pesquisa relacionando a doença de Huntington (desordem neurodegenerativa hereditária que afeta principalmente o sistema nervoso central) e efeitos no coração, também apoiada pela FAPESP.


Caráter sistêmico

A grande mudança de paradigma nas novas pesquisas, de acordo com Coppi, é que a doença de Parkinson pode se iniciar pelo sistema nervoso periférico. “E, a partir daí, pode afetar os órgãos que são inervados por esse sistema periférico e sem qualquer relação com os neurônios do cérebro”, disse.

“Até então se achava que a doença de Parkinson começava no sistema nervoso central e, depois, poderia evoluir para um quadro periférico, afetando outros órgãos. Agora, novas hipóteses são formuladas de que pode ocorrer algo periférico primeiro, ou seja, algo não cerebral, e depois evoluir para o cérebro”, reforçou.

Sobre os sintomas motores da doença, o professor da FMVZ-USP, destaca que o estudo comportamental está sendo conduzido com resultados muito interessantes. “Os animais induzidos com MPTP apresentam diminuição acentuada da locomoção (mobilidade) quando comparados aos animais sadios”, disse.

A próxima etapa do estudo será comparar o modelo químico (MPTP) com o modelo genético. Animais geneticamente modificados que já possuem o gene para a doença de Parkinson estão sendo importados. “Queremos ver se no animal transgênico ocorrerão alterações similares às observadas no modelo químico. Esperamos encontrar resultados robustos que nos ajudem a entender a evolução do Parkinson em pacientes humanos”, disse.

Coppi enfatiza o caráter interdisciplinar do estudo, que contempla análise morfológica, comportamental, funcional e bioquímica, ao destacar a participação na pesquisa de docentes colaboradores da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP: Maria Dagli e Frederico da Costa Pinto; da Universidade Federal de São Paulo: Monica Andersen e Dulce Casarini; e da Escola de Educação Física e Esporte da USP: Patrícia Brum.

Mais detalhes sobre a pesquisa podem ser obtidos com o professor Coppi por e-mail (guto@usp.br, skype (antonio.augusto.stereo), telefone (11) 3091 - 1214 ou visitando o site do LSSCA (www2.fmvz.usp.br/lssca).

 

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