Quinta-feira, 18 de maio de 2023 - 15h08
A
história é quase sempre a mesma e começa com a observação da mãe de que seu
bebê é mais “molinho” do que os outros. Dificuldade para mexer as pernas,
erguer a cabeça, engolir alimentos e até mesmo respirar. O pediatra pode falar
em “certo atraso motor”. No entanto, os problemas persistem e vão se agravando.
A criança passa, então, por vários profissionais em uma jornada demorada que
pode incluir erros de diagnóstico, descaso e negligência. É assim que começa a
longa batalha das mães de bebês com AME (Atrofia Muscular Espinhal) no Brasil,
doença rara e degenerativa que compromete o funcionamento do sistema nervoso
motor e dos músculos de forma acelerada. Quando enfim se fecha o diagnóstico,
tem início a luta por acesso aos tratamentos. E quanto mais tarde isso
acontece, mais danos a doença é capaz de causar, como sérias dificuldades
respiratórias e limitações motoras e nutricionais.
De acordo
com a Associação Brasileira de Amiotrofia Espinhal (Abrame), o país tem hoje
cerca de 300 novos casos de AME por ano, considerada o maior fator genético de
mortalidade infantil. É para mudar histórias como essa que cinco mães se uniram
na maior coalizão existente pela causa no Brasil, o Universo Coletivo AME. Uma
de suas principais reivindicações é o diagnóstico precoce através da inclusão
da doença na triagem neonatal, o que pode transformar o curso da AME em
gerações futuras de crianças afetadas.
Fundado em
2019, o Coletivo reúne cinco instituições que atuam em várias regiões do país
há mais de 20 anos no acolhimento de famílias, na conscientização e,
principalmente, em ações para elaboração de políticas públicas adequadas. São
elas: Donem (Associação de Doenças Neuromusculares), Instituto Viva Íris, Iname
(Instituto Nacional da Atrofia Muscular Espinhal), Instituto Fernando e Abrame.
Sob a
liderança de cada uma, estão mães que vivenciaram um cenário muito mais
complicado da doença. “Há 20 anos não havia sequer tratamento. O
desconhecimento da comunidade científica era imenso. Tínhamos que estar
dispostas a questionar e aprender sobre a AME umas com as outras. De certa
forma, o Coletivo sempre existiu, uma vez que nós já nos conhecíamos,
frequentávamos os mesmos eventos e nos apoiávamos”, conta Aline Giuliani,
fundadora do Instituto Viva Íris e mãe de Íris, hoje com 19 anos.
Íris
compartilha com as outras crianças, adolescentes e adultos, frutos desta
primeira geração de famílias AME, uma história de desbravamento, inconformismo
e luta por qualidade de vida. “A gente começou a fazer advocacy sem saber que
fazia, indo atrás dos políticos em uma época em que não se falava sobre homecare e a orientação
era ‘deixar morrer’. A
internet, ainda de poucos recursos, não impediu que nos articulássemos”,
complementa Adriane Loper, que criou o Instituto Fernando, em homenagem ao
filho que passou 9 anos na UTI e acabou falecendo.
O
início de um futuro sem AME
O Coletivo
concentra a ampla experiência dessas mães e toda a expertise adquirida ao longo
dos anos. São mulheres que dominam o universo técnico, médico e jurídico da
AME, mas que não conseguiram um diagnóstico precoce que suavizasse suas
jornadas. “É em nome de outras mães e crianças que estamos lutando. Um filho
com uma doença rara não precisa vir acompanhado de sofrimento. Costumo dizer
que a AME começou de trás para a frente: a gente foi atrás de tratamento quando
não tinha diagnóstico. Hoje temos medicamentos, mas nem todos os pacientes
conseguem acesso pelo SUS, e não temos ainda a detecção pelo Teste do Pezinho
na rede pública de saúde”, destaca Fátima Braga, à frente da Abrame e mãe de
Lucas, 21 anos, primeiro paciente infantil do estado de Fortaleza a ser
diagnosticado com a condição quando tinha um ano e dois meses de idade.
Atualmente,
existem três terapias medicamentosas incorporadas ao SUS: Spinraza, Risdiplam e
Zolgensma. Este último, que ficou conhecido como o remédio mais caro do mundo,
foi incorporado no final do ano passado e a expectativa é que seja
disponibilizado até junho de 2023. Todos os tratamentos são promissores e podem
interromper a progressão da AME, caso administrados em um recém-nascido pré-sintomático.
Em 2021, foi
sancionada a Lei nº 14.154, que amplia para mais de 50 o número de tipos de
doenças raras detectadas pelo Teste do Pezinho realizado pelo SUS - o exame
englobava apenas seis tipos. Ficou determinado, no entanto, que a ampliação
aconteceria de forma escalonada, com a AME ocupando a quinta e última etapa do
escalonamento.
O Coletivo,
por meio de suas ações de advocacy, conseguiu, no final do ano passado, com que
a AME passasse para a quarta etapa. “Foi uma grande vitória, mas o Ministério
da Saúde segue sem estabelecer um cronograma de aplicação dessas etapas. E o
tempo médio para início do tratamento é muito curto. No caso da terapia gênica
que será fornecida pelo SUS, por exemplo, é de até seis meses”, argumenta
Suhellen Oliveira, presidente da Donem e mãe de duas crianças com AME: Lorenzo,
10 anos, e Levi, 2 anos.
Desafios
e o custo do diagnóstico tardio
A Lei entrou
em vigor em maio de 2022, mas ainda há imensos desafios de implementação, tais
como a escassez de geneticistas e neurologistas, desconhecimento e falta de
alinhamento entre gestores públicos, burocracia regulatória e necessidade de
investimentos em equipamentos, logísticas de amostras e capacitação. A coalizão
segue pressionando o Ministério para acelerar a cobertura da AME, sustentando a
urgência pediátrica da doença e a existência de protocolos de tratamentos
aprovados e incorporados ao SUS que podem ter grande impacto no prognóstico,
trazendo esperança para as famílias.
O
diagnóstico do filho mais novo de Suhellen, realizado ainda na gravidez, por
meio da amniocentese – procedimento em que é colhida uma amostra do líquido
amniótico, quando há suspeita de complicações genéticas –, possibilitou que
todos os cuidados terapêuticos fossem rapidamente iniciados. Os efeitos
positivos são evidentes no desenvolvimento de Levi, que fala e respira sem a
ajuda de aparelhos.
Além dos
remédios, a AME requer uma abordagem multidisciplinar, que demanda o
acompanhamento de diversos especialistas, como fisioterapeutas, fonoaudiólogos
e nutricionistas. Também pode envolver suporte psicológico para os responsáveis
que, muitas vezes, abandonam seus empregos para cumprir seus papéis.
Para Diovana
Loriato, diretora do Iname, estes fatores precisam pesar na avaliação do
governo de quanto efetivamente custa ter AME no Brasil, o que reforça a
urgência da viabilização do diagnóstico precoce. “Fala-se muito do alto custo
dos medicamentos, mas quanto antes se inicia o tratamento mais simplificado ele
será. O paciente precisará de menos terapias, intervenções invasivas e homecare. Estamos falando de
uma economia para todo o sistema de saúde e para as famílias afetadas”,
conclui.
Sobre
o Universo Coletivo AME
O
Universo Coletivo AME é a maior coalizão no Brasil pela causa da Atrofia
Muscular Espinhal (AME), doença genética rara que, se não diagnosticada nos
primeiros dias de vida, compromete o funcionamento do sistema nervoso motor e
dos músculos de forma acelerada. O país tem cerca de 300 novos casos por ano da
doença, que é hoje a maior causa genética de mortalidade infantil. O Coletivo
foi fundado em 2019 pela união de cinco instituições que atuam há mais de 20
anos em diferentes regiões do país e são lideradas por mães que vivenciam a AME
no dia a dia: Donem (Associação de Doenças Neuromusculares), Instituto Viva
Íris, Iname (Instituto Nacional da Atrofia Muscular Espinhal), Instituto
Fernando e Abrame (Associação Brasileira de Amiotrofia Espinhal). O grupo atua
no acolhimento, educação, conscientização e, principalmente, em ações voltadas
para políticas públicas. Um dos objetivos é acelerar a cobertura da AME no
Teste do Pezinho, visando o diagnóstico precoce e para garantir o acesso de
todos os pacientes aos medicamentos disponíveis no SUS.
Site: https://universocoletivoame.com.br/
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